Belas Artes promove mostra virtual do novo cinema da Paraíba
Por Maria do Rosário Caetano
O cinema paraibano está vivendo momento de grande efervescência. Prova disso é a mostra O Novíssimo Cinema da Paraíba, que chegará, gratuitamente, ao público do serviço de streaming da Pandora (Belas Artes à la Carte), a partir dessa quinta-feira, 5 de agosto, e permanecerá em cartaz até o dia 18. Serão mostrados sete longas-metragens e 17 curtas.
No final dos anos 1950, comecinho dos anos 1960, a Paraíba chamou atenção com poderoso ciclo de filmes documentais. “Aruanda”, de Linduarte Noronha, tornou-se seu mais duradouro cartão de visitas. Diretores como Vladimir Carvalho, Rucker Vieira e João Ramiro Mello vieram somar-se a Linduarte e colocaram o estado natal de José Lins do Rego, reconhecido no mundo das letras, em destaque no campo do audiovisual.
Agora, um novo ciclo se desenha, não mais centrado no documentário. No terreno do longa-metragem, a ficção é a força majoritária. No terreno do curta, ela se impõe, também, mas o documentário preserva seu espaço.
O momento de maior brilho do “novíssimo cinema paraibano” se deu em 2018, tendo como vitrines o Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro e a mostra Sob o Céu Nordestino. Criada há alguns anos para destacar a produção dos nove estados da região, a mostra “celeste” pôde dar-se ao luxo de apresentar, numa só tacada, seis longas paraibanos – “O seu Amor de Volta (Mesmo que Ele Não Queira)”, de Bertrand Lira, “Ambiente Familiar”, de Torquato Joel, “Beiço de Estrada”, de Eliézer Rolim, “Sol Alegria”, de Mariah e Tavinho Teixeira, “Rebento”, de André Morais, e “Estrangeiro”, de Edson Akatoy.
Na hora da premiação, o júri oficial escolheu “Beiço de Estrada”, com Darlene Glória, Jackson Antunes, Mayana Neiva e Susy Lopes à frente do elenco. O júri da Crítica, que contou com a presença de Jean-Claude Bernardet, preferiu “O seu Amor de Volta (Mesmo que Ele Não Queira)”. Um documentário ou um híbrido, já que estabelece franco (e criativo) diálogo com a ficção.
Duas das maiores atrizes da Paraíba – Marcélia Cartaxo e Zezita Mattos – têm participações arrasadoras em “O seu Amor de Volta”. O depoimento de Zezita é confessional e verdadeiro. Ela representa dor que realmente sente (sentiu). Marcélia, premiada em Berlim com “A Hora da Estrela”, também relata experiências vividas.
Cinco dos filmes da mostra Sob o Céu Nordestino serão vistos no streaming do Belas Artes à la Carte (só “Estrangeiro” ficou de fora). A eles se somarão o documentário “Jackson – Na Batida do Pandeiro”, de Marcus Vilar e Cacá Teixeira, e a ficção “A República da Selva”, de Manoel Fernandes Neto.
“Na Batida do Pandeiro” acompanha a trajetória de um astro da música brasileira e nordestina, Jackson do Pandeiro (1919-1982). Homem do povo, ele saiu da pobreza para consagrar-se como o rei do ritmo e misturar chiclete com banana e, depois avisar que só botaria “bebop no samba”, quando o Tio Sam “tocasse um tamborim”.
O filme, de formato clássico, constrói sólido perfil do artista paraibano, embalado com seus maiores sucessos (“Sebastiana” e “Chiclete com Banana” liderando a batida do pandeiro).
“A República da Selva” reúne elenco desconhecido aqui pelas bandas sudestinas – Thaíse Cabral, Noé Pires, Mayara Valentim, Maurício Garcia, Iverton Allef e Djhonnathan Fernandes. Eles atuam com os próprios nomes ou apelidos. São jovens moradores de uma república de estudantes localizada no litoral da Paraíba.
O Brasil vive a ressaca dos agitados (e longos) meses que culminaram com o impeachment de Dilma Rousseff, período que os diretores definem como “o fim da primavera estudantil brasileira”. Os jovens tentam “resistir às profundas transformações impostas ao país e saem em busca de um modo de superá-las”.
A intuição dos “republicanos” os leva a acreditar que “ignorar a realidade, depois de experiências tão marcantes, constituirá nova forma de resistência”. O grupo envereda, então, junto com Tai, estudante de Antropologia, pela mata, onde participará de antigos rituais (ligados à etnia Tabajara). Descobertas profundas e misteriosos acontecimentos rodearão a vida destes estudantes.
“Eles acreditam” – pondera o diretor – “que viver tais experiências será a única maneira de vencer os verdadeiros inimigos da República pela qual eles lutaram”.
Quem viu “Batguano” (2014), mostrado no Cine Belas Artes, anos atrás, terá uma boa ideia do que nos propõe “Sol Alegria”, novo longa de Tavinho Teixeira, agora em parceria com Mariah Teixeira.
Tavinho e Mariah, pai e filha, ambos atores, mobilizaram elenco que soma Ney Matogrosso, Joana Medeiros e Vera Valdez Barreto a nomes de destaque do cinema paraibano (Everaldo Pontes, Suzy Lopes, Mariah e o próprio Tavinho). E apostam na transgressão moral e sexual.
O sol e a alegria vão brilhar – queiram ou não queiram pastores, que pregam o apocalipse, e a junta militar que ocupa o governo. Uma família excêntrica e sem-lei caminha pelo interior brasileiro. Seu primeiro objetivo é entregar remessa de armas a um grupo de freiras militantes, retiradas na selva, onde vivem da renda de plantação de cannabis.
O filme passou pelo Festival de Roterdã, na Holanda, pelo Cine Ceará e pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No Olhar de Cinema, em Curitiba, recebeu Prêmio Especial do Júri.
“Ambiente Familiar” é o primeiro longa-metragem de Torquato Joel, um dos mais inventivos curta-metragistas da Paraíba. No elenco, Alex Oliveira, Fagner Costa e Diógenes Duque, três jovens amigos que se juntam para constituir família muito singular. Marcélia Cartaxo, Zezita Mattos e Kassandra Brandão fazem participações especiais.
O longa foi rodado em locações e cidades diversas (João Pessoa, Cabedelo, Conde, Tabatinga, Guarabira, Bananeiras e na paradisíaca Tambaba). Na trama, realista e, às vezes, onírica, uma mera relação para estabelecer divisão de despesas acabará por definir, pelos laços afetivos, nova ordem familiar, atípica para os padrões da família convencional.
“Beiço de Estrada” é a recriação cinematográfica de peça teatral de Eliézer Rolim, o diretor do filme. No começo dos anos 1980, com o Grupo Terra, ele causou sensação no Projeto Mambembão, da Funarte. No elenco teatral estava a jovem Marcélia Cartaxo (na pele da personagem Véu de Noiva), que seria descoberta por Suzana Amaral e convidada para protagonizar “A Hora da Estrela” (com o qual conquistaria um Urso de Prata em Berlim).
O dramaturgo-cineasta não recorreu ao elenco original, 100% paraibano, na recriação de sua peça de juventude. Escalou Darlene Glória para interpretar Madame Lili, mulher já entrada nos anos, que prostituiu suas filhas numa poeirenta beira de estrada. Já avó de dois netos – Braz (Rique Messias) e Conceição (Luana Valentim), ambos filhos da prostituição –, ela tenta sobreviver, mesmo que em condições precárias naquele esquecido bordel sertanejo (de nome Beiço de Estrada).
Caberá a Conceição livrar a família da maldição da prostituição. Ela conseguirá? Já Brás cava buracos na estrada para estropiar carros. Só assim o lupanar conseguirá clientela. Jackson Antunes interpreta um forasteiro boêmio, que visita o velho puteiro.
“Rebento”, de André Morais, é outro filme a reunir grandes nomes do teatro e cinema paraibanos. Ingrid Trigueiro é a protagonista e soma-se a Zezita Matos, Fernando Teixeira e Verônica Cavalcanti.
Rodado com equipe técnica e artística 100% paraibana e em locações no sertão, o filme integrou a seleção da Mostra Tiradentes e participou de festivais independentes como o Diorama Film Festival, na Índia (foi eleito melhor longa internacional e Ingrid Trigueiro, a melhor atriz).
A trama de “Rebento” é densa e intensa. Uma mulher, após cometer um crime, abandona casa e família em busca de destino desconhecido. Não se sabe quem é ela, nem o por quê de tal crime. André Morais lembra que “o mistério sobre essa mulher é um dos pontos chaves da narrativa”. No decorrer da história “ela se chamará Maria, Rosa e Ana”. Poder ser que “um deles seja seu nome verdadeiro, talvez não”. Ela andará durante um dia inteiro, abraçada a uma melancia e terá breves encontros que marcarão o seu dia e a sua existência.
“O seu Amor de Volta (Mesmo que Ele Não Queira)”, o documentário que encantou Jean-Claude Bernardet, une William Muniz, a professora trans Danny Barbosa e praticantes de cultos afrobrasileiros, como Pai Júlio, Mãe Severina, Pai Nelito e Afrovalter. E as atrizes já lembradas Zezita Matos e Marcélia Cartaxo. Apesar desse elenco, Bertrand Lira, cineasta, professor universitário (e irmão dos atores Soia, Nanego e Buda Lira) deixa claro que seu filme “é um documentário”.
Aceitemos, pois, a opção do realizador paraibano, já que ele ainda não se afeiçoou ao termo “híbrido”. A narrativa de “O seu Amor de Volta” mistura a busca amorosa, afetos perdidos e a crença no poder da magia, das cartas e dos búzios para trazer de volta aquele (ou aquela) que partiu.
Quatro personagens relatam suas desventuras amorosas e são colocados diante de cartomantes e videntes que poderão apontar uma saída para suas vidas. O depoimento confessional de Zezita Matos é arrebatador (e verdadeiro).
Os sete longas-metragens paraibanos e os 17 curtas (ver lista abaixo) serão tema de dois debates virtuais, transmitidos ao vivo pelo Belas Artes à la Carte. Na terça-feira, 10 de agosto, às 19h, estará em pauta O Novíssimo Cinema da Paraíba. Os convidados são os cineastas André Morais (“Rebento”), Torquato Joel, (“Ambiente Familiar”), Bertrand Lira (“O seu Amor de Volta”), Tavinho Teixeira (“Sol Alegria”) e Eliezer Rolim (“Beiço de Estrada”).
Na quarta-feira, 11 de agosto, às 19h, o tema Mercado de Cinema na Paraíba será debatido por Manoel Fernandes (do longa “A República das Selvas”), e os curta-metragistas Rodolpho de Barros (“A Ética das Hienas”), Lúcio César (“Faixa de Gaza”), Oto Cabral (“Animais na Pista”) e Odécio Antônio (“Continuo” e “Menino Azul”).
Por fim, é de lei lembrar um segundo momento de brilho do cinema paraibano contemporâneo na vitrine do Festival Aruanda. Um ano depois da plena ocupação de espaço pela prata-da-casa na mostra Sob o Céu Nordestino, um filme pessoense entrou na competição nacional e derrotou os concorrentes vindos dos vários Brasis: “Desvio”, de Arthur Lins. E não foi bravata bairrista. O júri tinha composição nacional e o corajoso drama arthuriano era, mesmo, o sopro de energia da mostra. Pena que o filme, 100% inédito, tenha se guardado para novas aventuras e não esteja no festival virtual dos novíssimos.
Fica, pois, guardado para nova edição dessa parceria entre o Belas Artes e a Funjop, que visa jogar luz sobre os cinemas de todos os Brasis. O gesto da Prefeitura Municipal de João Pessoa merece ser replicado. A ordem, em tempos digitais, afinal, é tirar os filmes da escuridão das gavetas.
MOSTRA DIGITAL NOVÍSSIMO CINEMA DA PARAÍBA
www.belasartesalacarte.com.br
Exibição de 7 longas-metragens e 17 curtas produzidos no estado nordestino
Gratuita para assinantes e também para não-assinantes do streaming do Belas Artes à la Carte
Data: de 5 a 18 de agosto
Horário: das 12h do dia 5 até às 23h59 do dia 18 de agosto
O festival é fruto de parceria da Fundação Cultural do Município de João Pessoa (Funjope) com a Pandora Filmes
PROGRAMAÇÃO DE CURTAS
. “A Ética das Hienas” (2019, 20′, Ficção, livre). De Rodolpho de Barros. Com Suzy Lopes, Servilio de Holanda, Marcelia Cartaxo, Daniel Porpino, Fernando Teixeira, Tavinho Teixeira, Drica Soares, Silvano Monteiro) – Um conluio em uma causa trabalhista é descoberto, mas nada como um bom acordo no Brasil.
. “Acho Bonito Quem Veste” (2016, 9′, Doc, Livre). De Marcelo Coutinho – A moda encontra os limites geográficos e a interferência da televisão para atingir seu público.
. “Animais na Pista” (2020, 10′, Ficção, 12 anos) – De Otto Cabral. Com Kassandra Brandão, Thardelly Lima, Servilio de Holanda, Giovanni Sousa, Flávio Melo, Omar Brito, Paulo Philipe, Flávio Freitas, Geyson Luiz, Daniel Araújo – Um acidente de percurso diz muito a respeito da humanidade.
. “Batom Vermelho Sangue (2020, 20′, Ficção, 16 anos). De R.B. Lima. Com Murilo Franco, Danny Barbosa, Anita Medeiros, Cely Farias, Eulina Barbosa, Vinícius Guedes e Sanzia Marcia – A rotina de quatro mulheres lutando pela sobrevivência e aceitação em uma sociedade cada vez mais hostil e preconceituosa.
. “Bodas de Aruanda” (2014, 26′, Doc, de Chico Salles – Uma história das narrativas simbólicas dos 50 anos de centro umbandista da Paraíba.
. “Cabidela’s Bar” (2021, 17′, Ficção, Livre). De Tadeu de Brito. Com Ingrid Trigueiro, Marcio de Paula, Buda Lira e Totonho – Domingo é dia de visitar a família, para Miguel encontrar seu pai é uma travessia, entre memórias, sangue e amor.
. “Campana” (2016, 29′, Doc, livre). De Gian Orsini. Com Souza e Ivan – Entre o sono e a vigília, dois detetives particulares trabalham na cidade de João Pessoa.
. “Coletivo de multidão” (2018, 26′, Doc, 16 anos). De Manoel Fernandes. Com Arly Arnaud, Elisa Fiuza, Hamanda Holmes, Marcos Pergentino, Fernando Trevas – Ano 2024. Estamos na solidão e na multidão ao mesmo tempo. Após a nova pandemia do Coronavírus, Celso, um jovem funcionário do Porto, vive em uma realidade paralela. Ele se comporta como um robô e gosta de uma Sex Doll, ignorando tudo ao seu redor, incluindo Emma, sua esposa.
. “Contínuo” (2014, 16′, Ficção, 12 anos). De Carlos Ebert e Odécio Antonio. Com Ana Marinho, Daniel Araújo, Daniel Porpino, Odécio Antonio, Verônica Cavalcanti, Buda Lira, José Carlos, Laureano Junior, Martinho Patrício, Tereza Cavalcanti, Ananda Nóbrega e Letícia Marinho – Um Contínuo no espaço-tempo
. “CRUA” (2019, 20′, Ficção, 16 anos). De Diego Lima. Com Nyka Barros, Felipe Espíndola, Kelner Macedo, Omar Brito, Marcio di Paula, Norma Goes, Alice Maria, Fafa Dantas, Dhyan Urshita, Suzy Lopes, Ravi Lacerda, Pedro Ivo, Aquilles Nud, Alison Bernardes – Uma radiografia das relações humanas estabelecidas em torno de uma praça no centro da cidade
. “Deus Não Acredita em Máquinas – DNA-M” (2018, 16′, Ficção, 12 anos. De Ely Marques. Com Gladson Júnior, Laís Lacerda, Tavinho Teixeira – No ano 2042, no mundo que conhecemos, aconteceu o previsível rumo distópico pós-apocalíptico. Um casal define o destino da civilização no que parece ser apenas um sequestro mal sucedido.
. “Faixa de Gaza” (2019, 16′, Ficção, 16 anos). De Lúcio César Fernandes. Com Marcélia Cartaxo, Paulo Philippe, Marcelo de Souza, Melquizedeque Abrantes, Ewerton Chagas, Max Ryan Monteith, Rafael Paiva, Fernando Teixeira, Verônica Cavalcanti, Luis Henrique, Cardivando de Oliveira, Josineide Melo – Em um conjunto habitacional de periferia, Mago chefia um bando de jovens aliciando e cometendo crimes em meio a uma guerra de facções que vira notícia nas ondas do rádio.
. “Hosana nas alturas” ( 2017, 17′, Ficção, 16 anos). De Eduardo Varandas Araruna. Com Daniel Porpino, Nyka Barros, Danny Barbosa, Tavinho Teixeira, Glaydson Gonçalves e Mirna Barbosa – Hosana é uma transexual feminina que trabalha como prostituta e não compreende o motivo pelo qual é rejeitada por igrejas cristãs.
. “Lebara” (2021,19′, Doc, Livre). De Sérgio Ferro. Com Dan Oliveira, Laiz de Oyá e Norma Góes – As Pombagiras protegem todo mundo, mas defendem principalmente as mulheres e as afeminadas.
. “Menino Azul” (2020, 25′, Ficção, 12 anos). De Odécio Antonio. Com Théo Koffmann, Luiz Carlos Vasconcelos, Giuliana Maria, Nanego Lira, Ian Guedes, Buda Lira, Kassandra Brandão, Yluska Gaião. Geyson Luiz, Márcio de Paula, Joálisson Cunha, Edna Diniz, Pablo Rivero, Matheus Leonel,Rodrigo Alves, Sônia Pontes, Cauê Villar, Luana Valentim, Martinho Patrício – Uma viagem onírica na vida do menino João.
. “Moído” (2015, 13′, experimental, 14 anos). De Torquato Joel. Com Marcélia Cartaxo, Fernando Teixeira, Zé Guilherme Amaral, Sôia Lira, Nanêgo Lira e Escurinho — A assimétrica relação do ser humano em sociedade.
. “Rafameia” (2020, 24′, Ficção, 12 anos). De Mariah Teixeira e Nanda Félix. Com Mariah Teixeira, Daniel Porpino, Thardelly Lima, Susy Lopes, Izadora Nascimento, Buda Lira, Fernanda Ferreira, Gerlena Palmeira, Ingrid Trigueiro, Dhyan Urshita, Omar Brito, Vanessa Lima — Após se sentir ameaçada por um entregador de empresa de eletrodomésticos, Carmem tem seu cotidiano atravessado por diversos conflitos e violências.