Festival de Brasília divulga selecionados de sua segunda edição virtual
Por Maria do Rosário Caetano
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais tradicional do país, cuja quinquagésima-quarta edição (a segunda on-line) acontece de 7 a 14 de dezembro, divulgou a lista de filmes selecionados para todas as suas competições. Na mostra principal, a de longas brasileiros, reinstala-se o equilíbrio: há quatro ficções (ou serão híbridos?) e dois documentários. Ano passado, a hegemonia absoluta dos documentários transformou o festival, criado por Paulo Emílio Salles Gomes, em 1965, em uma “espécie de sucursal do É Tudo Verdade”.
Sob o comando de Sílvio Tendler e Tânia Montoro, agora formando dupla de curadores, a comissão de seleção (composta com a realizadora Sandra Kogut, a atriz Nicole Puzzi, o crítico Luiz Carlos Merten, o pesquisador Pedro Caribé e o cineasta Lino Meirelles) trouxe o rio de volta a seu leito. Afinal, seus integrantes apostaram no ineditismo e lembraram que, em mais de 50 anos de história, o mais longevo dos festivais brasileiros consagrou atores e atrizes (principais e coadjuvantes), roteiristas e diretores de arte, entre outros profissionais da ficção. O Troféu Candango está exposto em estantes de Fernanda Montenegro, Helena Ignez, Milton Gonçalves, Othon Bastos, Marcélia Cartaxo e dos herdeiros de Paulo José.
Quatro “ficções” foram selecionadas: o baiano “Alice dos Anjos”, de Daniel Leite Alencar, o mineiro “Lavra”, de Lucas Bambozzi, o brasiliense “Acaso”, de Luis Jungmann Girafa, e o paulistano “Ela e Eu”, de Gustavo Rosa de Moura. Como “documentários assumidos”, figuram “Saudade do Futuro”, da carioca Ana Azevedo, e o goiano “De Onde Viemos, para Onde Vamos?”, de Rochane Torres.
Quem enfrentar, no Canal Brasil, o indigesto horário de exibição da mostra principal – próximo à meia-noite (23h30) – poderá conferir se Alencar, Bambozzi, Girafa e Moura realizaram filmes ficcionais ou híbridos. Ou seja, obras que rompem intencionalmente as fronteiras entre o documental e o ficcional.
Por que o festival mais tradicional do país, em sua segunda edição on-line, acontecerá em horário tão ingrato, para não dizer infame?
Ano passado, a parada já fora das mais duras (as sessões começavam às 23h). Ao invés de melhorar, a situação piorou, alongando-se por mais meia-hora. Principalmente para os jornalistas, em especial, que têm que ver os filmes na primeira hora e, no dia seguinte, estarem a postos para o debate e a escritura de textos informativos ou críticos.
Já para o público, o comando do festival, em coletiva de imprensa, lembrou que, este ano, há um “plus”. Os filmes serão exibidos da madrugada (a partir de 1h30) até a meia-noite (23h59 para sermos exatos) do dia seguinte. Portanto, os longas-metragens serão disponibilizados por 22 horas e 30 minutos na plataforma InnSaei. E o júri popular só computará votos efetivadas nas exibições desta plataforma (digamos, “diúrna”). E haverá robusto prêmio ao mais votado. A mesma InnSaei se responsabilizará, em horários mais generosos (e largos), pela exibição da Mostra Brasília (curtas e longas) e pela mostra nacional de curtas-metragens.
O comando do festival, presidido pelo secretário de Cultura Bartolomeu Rodrigues – há que se ressaltar – aperfeiçoou a segunda edição sob seu comando (de Bartô) e a terceira do governo Ibaneis Rocha. O colegiado promete para 2022, ano eleitoral, trazer o evento para sua data histórica (setembro). Afinal, a Fundação Cultural do DF o concebeu e criou como “um grande festival para festejar a primavera brasiliense”.
Silvio Tendler lembrou, na mesma coletiva, as dificuldades para se estabelecer que filmes são 100% inéditos neste momento em que diversos festivais (seis no total) acontecem em datas acumuladas e conflitantes. Mas deixou claro que a comissão de seleção foi rigorosa na pesquisa de cada escolhido. Se o postulante teve ou não exibições em outros eventos, em especial on-line. E contou que realizadores e produtores selecionados garantiram haver escolhido Brasília “como primeira vitrine”.
O cineasta Lino Oliveira, autor do fascinante documentário “Candango – Memórias do Festival” e responsável pelo maior banco de dados da histórica festa cinematográfica candanga (www.metropoles.com), contou que, desde a primeira reunião, a comissão de selecionadores fez do ineditismo uma de suas principais exigências. E que seus integrantes realizaram varredura para não repetir produções exibidas poucas semanas antes, via digital, para todo o território brasileiro. Foram avaliados 150 filmes.
A comissão de curtas nacionais, que recebeu mais de 700 inscrições, não fez triagem de ineditismo. Por isso, entre os 12 selecionados há títulos vistos em outras competições.
Confira os selecionados:
Mostra nacional (longas)
. “Alice dos Anjos”, de Daniel L. Alencar (Bahia, fic)
. “Lavra”, de Lucas Bambozzi (MG, fic)
. “Acaso”, de Luis Jungmann Girafa (DF, fic)
. “Ela e Eu”, de Gustavo Rosa de Moura (SP, fic)
. “Saudade do Futuro”, Ana Azevedo (RJ, doc)
. “De Onde Viemos, Para Onde Vamos?”, de Rochane Torres (GO, doc)
Mostra Brasília (longas)
. “Mestre de Cena”, de João Inácio (doc)
. “Noctiluzes”, de Jimi Figueiredo e Sérgio Sartório (fic)
. “Advento de Maria”, de Vinícius Machado (fic)
. “Acaso”, de Luis Jungmann Girafa (fic)
Mostra nacional (curtas)
. “Terra Nova”, de Diogo Bauer (AM)
. “Filhos da Periferia”, de Arthur Gonzaga (DF)
. “N.F. Trade”, de Thiago Foresti (DF)
. “Era Uma Vez …Uma Princesa”, de Lisiane Cohen (DF)
. “Ocupagem”, de Joel Pizzini (SP)
. “Cantareira”, de Rodrigo Ribeyro (SP)
. “Sayonara”, de Chris Tex (SP)
. “Como Respirar Fora d’Água”, de Fávero & Negreiros (SP)
. “Chão de Fábrica”, de Nina Kopko (SP)
. “Deus me Livre”, de Oliveira & Ansorena (PR)
. “Adão, Eva e o Fruto Proibido”, de R.B. Lima (PB)
. “Da Boca da Noite à Barra do Dia”, de Tiago Delácio (PE)
Mostra Brasília (curtas)
. “Tempo de Derruba”, de Gabriela Dalgean
. “Tinhosa”, de Rafael Cardim Bernardes
. “Cavalo Marinho”, de Gustavo Serrate
. “Benevolentes”, de Thiago Nunes
. “Ele Tem Saudades”, de João Campos
. “A Casa do Caminho”, de Renan Montenegro
. “Virus”, de Larissa Mauro e Joy Ballard
. “Filhos da Periferia”, de Arthur Gonzaga