Mostra Mosfilm é adiada por causa da Guerra na Ucrânia

Por Maria do Rosário Caetano

Por causa da guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, iniciada em 2014, e agravada com a recente invasão da ex-república soviética, a CPC-UMES Filmes, em comum acordo com o CineSesc, resolveu adiar, sem previsão de nova data, a oitava edição da Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo, que seria realizada na sala da Rua Augusta paulistana, da próxima quarta-feira, dia 10 de março, até 23, com exibição de 16 longas-metragens.

O evento prestaria homenagem ao bicentenário de nascimento de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), com a exibição do longa-metragem “O Idiota”, de Ivan Pyryev (1958), e de uma raridade da era muda: “Rua Mercantil Nº 3”, de Abraham Room, sobre triângulo amoroso inspirado na vida real e libertária do poeta, ator, roteirista e cineasta amador Vladimir Maikovaski (1893-1930), da atriz Lilya Brik (1891-1978) e do escritor e crítico literário Ossip Brik (1888-1945). Um filme de 1927, de enquadramentos de ousadia rara e moral transgressora.

A seleção da Mostra Mosfilm 8 inclui, ainda, filmes de Grigori Aleksandrov (“Uma Banda Divertida”, 1934), realizador que trabalhou com Sergei Eisenstein até a frustrada experiência de “Que Viva México!”, uma série (“Libertação”) de cinco longas sobre a Segunda Guerra Mundial, comanda por Yuri Ozerov, o metafísico “Andrey Rublev”, de Andrey Tarkovsky, a comédia, com pitadas de melodrama “Moscou Não Acredita em Lágrimas”, de Vladimir Menshov (premiada com o Oscar estrangeiro em 1979), e o novíssimo “Vladivostok”, de Anton Bormatov (2021). Este filme, realizado já em tempos de Covid-19, ambienta-se na cidade portuária que lhe dá nome, situada no extremo-leste da Rússia, próxima à Coreia e ao Japão (no final da Transiberiana, a 9 mil km de Moscou). Um de seus roteiristas, Karen Shakhnazarov, presidente da Mosfilm, diz que inspirou-se em “Cais das Sombras” (1938), de Marcel Carné (com Jean Gabin e Michelle Morgan), para contar essa história de amor e violência. O filme faz várias citações cinematográficas – inclusive do “Acossado”, de Godard – já que sua protagonista feminina é apaixonada por cinema.

O estúdio Mosfilm vai comemorar seu centenário em 2024. Ele foi criado por Vladimir Ilyich Ulianov, o Lenin, que considerava o cinema “a arte do século”. O líder da Revolução Bolchevique, que morreu em janeiro de 1924, deixou os fundamentos do Mosfilm estruturados, mas não viveu para inaugurá-lo. Tendo Moscou como base, o estúdio moscovita formou com a Lenfilm, situada em São Petersburgo (ou Petrogrado, depois Leningrado, e agora, novamente São Petersburgo) os dois mais importantes focos de produção do imenso país eurasiano.

Para acompanhar a 8ª Mostra de Cinema Soviético e Russo, quando ela vier a acontecer, haverá “live” com o professor da UnB e pesquisador João Lanari Bo, autor do livro “Cinema para Russos, Cinema para Soviéticos”, cujo primeiro volume foi publicado pela Bazar do Tempo, em 2020, e narra a história do cinema russo (e soviético), dos anos pioneiros até 1957. O segundo volume trará a história dessa poderosa cinematografia de 1958 até os dias atuais.

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