Nicole Garcia soma sexo e dinheiro no suspense “Amantes”

Por Maria do Rosário Caetano

“Amantes”, nono longa-metragem dirigido pela experiente atriz Nicole Garcia, chega às telas brasileiras nesta quinta-feira, 15 de setembro, dois anos depois de participar da disputa pelo Leão de Ouro de Veneza.

A diretora francesa, nascida em Oran, na Argélia, há 76 anos, trouxe dos sets de dezenas de realizadores – entre eles Alain Resnais, com quem trabalhou no cult “Meu Tio da América” – a elegância e capacidade de dirigir atores. Seu trio de protagonistas – Stacy Martin, de “Ninfomaníaca”, Pierre Niney, de “Yves Saint-Laurent” e “Frantz”, e Benoît Magimel, de “Enquanto Vivo” – brilha em desempenhos notáveis. Os três são vértices de  triângulo amoroso engendrado pelo roteirista Jacques Fieschi, com colaboração da própria realizadora. O resultado é um “noir” que começa como drama juvenil à moda francesa, amoral portanto, para depois tomar rumos inesperados.

Quando “Amantes” começa, conhecemos um jovem casal que vive em Paris. Ela, Lisa (Stacy Martin), prepara-se em exigente escola para atendentes de restaurantes finos. Ele, Simon (Pierre Niney), vende drogas para clientes ricos pelo sistema de entrega em domicílio.

Pouquíssimo se adiantará da trama, pois filme “noir” exige rigoroso pacto de silêncio. Do pouco que se pode dizer é que fato muito grave perturbará a relação dos jovens amantes e que, dali em diante, a trama, cujo primeiro ato é ambientado em Paris, se desdobrará em mais dois lugares: o Oceano Índico (nas tropicais Ilhas Maurício) e em uma Genebra coberta de neve. E que um terceiro personagem surgirá na trama: o rico Léo Redler (Benoît Magimel). Do cruzamento dos destinos desses três personagens, movidos pela paixão (e pelo dinheiro), construir-se-á uma narrativa que prende a atenção do espectador ao longo de seus envolventes 102 minutos.

O filme, mesmo selecionado para disputar o Leão de Ouro, foi ignorado pela revista Cahiers du Cinéma. E dividiu a crítica francesa. Registre-se que recebeu cotação máxima da politizada Positif (cinco estrelas) e quatro do jornal comunista L’Humanité. Mesmo número do direitista Le Figaro. Já o poderoso Le Monde atribuiu-lhe apenas deux étoiles. E o irrequieto Les Inrock, apenas uma. Todos, porém, foram unânimes nos elogios ao trio de atores. Benoît Magimel, que interpreta o filho bastardo de Gérard Depardieu na badalada série “Marselha” (Netflix), está tão convincente na pele do rico empresário Léo Redler, que passamos (quase) o filme inteiro sem saber se ele é um homem apaixonado ou um traficante de armas, um amante carente ou um manipulador tóxico. Seu marido amantíssimo é construído com nuances das mais sutis.

As objeções ao filme se prendem, claro, ao roteiro. Há coincidências que parecem, por demais, fortuitas. Mas, convenhamos, elas surgem também em muitos dos grandes clássicos (inclusive nos de Alfred Hitchcock) do cinema “noir”, gênero que necessita de um deus ex-maquina para construir suas tramas aliciadoras.

Nicole Garcia não realizou um obra-prima. Mas, pelo menos, nos oferece um filme de narrativa clássica, elegante, sofisticada, envolvente. E que se assiste com imensa curiosidade. E que tem um final delicadamente feminino.

 

Amantes
França, 102 minutos, 2020
Direção: Nicole Garcia
Elenco: Stacy Martin, Pierre Niney, Benôit Magimel, Gregoire Colin, Roxane Duran, Antoine Ferey, Nicolas Wanczycki, Pauline Bélier, Mohamed Maktoumi, Daouda Diakhaté, Christopher Montenez
Fotografia: Christophe Beaucarne
Trilha sonora: Gregoire Hetzel
Distribuição: Pandora Filmes

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