Diretor de “Valentina”, sobre jovem transsexual, morre aos 42 anos

Por Maria do Rosário Caetano

O cineasta mineiro-brasiliense Cássio Pereira dos Santos, de 42 anos, diretor de oito curtas-metragens e do longa “Valentina”, sobre jovem transsexual, detentor de 24 prêmios nacionais e internacionais, morreu neste sábado, primeiro de outubro, aos 42 anos. A causa de seu falecimento precoce, ocorrida em Uberlândia, onde vivia, não foi revelada pela família. Testemunhos não oficiais dizem que ele recorreu ao suicídio.

Dois meses atrás, Cássio esteve em São Paulo, onde participou, na Cinemateca Brasileira, da Mostra de Diretores Estreantes, ao lado de vários colegas (Lino Meireles, João Paulo Miranda, Djin Sganzerla, Thais Fujinaga, Daniel Leite Almeida, Madiano Marchetti, entre outros). Seu longa de estreia (“Valentina”, presente na mostra) rendeu à sua protagonista, Thiessa Woinbackk, quatro prêmios de melhor atriz. Valentina é uma adolescente trans, de 17 anos, que muda-se de pequena cidade mineira com sua mãe, Márcia (Guta Stresser), para tentar novo recomeço. As duas supõem que, em outro ambiente, quem sabe, os preconceitos possam ser menores. Na nova escola, em busca de mais privacidade, ela tenta matricular-se sob o nome de Valentina, mas a instituição exige a assinatura do pai (Rômulo Braga), que vive distante da mãe e da filha.

No Brasil, o filme ganhou quatro prêmios no Mix Brasil, inclusive o de melhor longa, e foi o escolhido do público na Mostra de Cinema de São Paulo. Hoje está disponível na Netflix.

Cássio nasceu em 1980, no município de Patos de Minas, no Alto Paranaíba. Mudou-se para Brasília, onde formou-se em Cinema na UnB (Universidade de Brasília). Foi aluno da professora e cineasta Erika Bauer, que o convocou para a equipe do longa documental “Dom Helder Câmara – O Santo Rebelde” (2004). Ao saber da morte de Cássio, a professora da UnB desabafou: “quando parte um ex-aluno, que virou assistente, amigo, irmão, filho, colega e uma infinidade de coisas que só se desenvolvem quando a conexão é profunda, a gente faz o quê?”

Depois de formado, Cássio dedicou-se ao trabalho na televisão, ainda no Distrito Federal. Atuou na TV Escola, canal do MEC (Ministério da Educação) e começou a dirigir seus primeiros curtas-metragens. Foram oito no total. Dois deles tiveram boa difusão em festivais – “A Menina do Espantalho”, de 2008, e “Marina Não Vai à Praia” (2014). Este filme já foi realizado em Minas Gerais, seu estado natal, para onde regressara. Obra ficcional, de delicada manufatura, “Marina” marcava sua dedicação às minorias.

A protagonista do filme, interpretada por Aline Videira, é uma adolescente downniana, que sonha em conhecer o mar. Todos a proíbem de participar de buliçosa excursão litorânea (decerto ao Espírito Santo, já que o imenso estado das Gerais não tem praia). Ela, porém, não desiste. Tudo fará para realizar seu sonho.

O curta conquistou muitos admiradores. E abriu caminhos para que Cássio, produzido pela irmã Erika Pereira dos Santos (nenhum parentesco com o cineasta Nelson Pereira dos Santos), estreasse no longa-metragem com “Valentina”. Este filme, além dos 24 prêmios nacionais e internacionais, foi vendido para a Espanha, Suécia e Japão. E comprado pela Netflix Brasil e América Latina.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.