Cinema eterniza genialidade de Pelé em dezenas de documentários e ficções

Por Maria do Rosário Caetano

Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, atleta do século, tricampeão do mundo, autor de mais de 1.200 gols e nome brasileiro mais conhecido no exterior, fez sua passagem nessa quinta-feira, 29 de dezembro. Morreu, aos 82 anos, depois de longos sofrimentos trazidos por câncer de cólon, que se espalhara em tumores no fígado, pulmão e intestino. Mas sua imagem, se depender da paixão de seus admiradores e do poder do cinema, fará dele eterno, como o título do documentário que o mostrou provocando trégua em guerra africana. Os contendores, dos dois lados, queriam vê-lo jogar.

Pelé e sua história foram tema de muitos documentários e de algumas ficções. Brasileiros e internacionais. De curta, média e longa duração. Ele mesmo, que sonhava ser também ator (e cantor), integrou elenco estelar em produção norte-americana (“Fuga para a Vitória”, de John Huston, 1981), ao lado dos craques Max Von Sydow e Michael Caine, e do canastrão Sylvester Stallone. Foi dirigido por Anselmo Duarte (“Os Trombadinhas”), Oswaldo Oliveira (“A Marcha”), Ipojuca Pontes (“Pedro Mico”), Miguel Borges (“Barão Otelo no Barato dos Milhões”), Victor di Melo (“Solidão, uma Linda História de Amor”) e Carlos Manga (“Os Trapalhões e o Rei do Futebol”).

A história do craque nascido em Três Corações, Minas Gerais, em 23 de outubro de 1940, começou com uma aparição em “O Preço da Vitória”, de Oswaldo Sampaio, que aproveitou a fama da seleção brasileira (incluindo o jovem campeão de 17 anos, Pelé) e dezenas de outros craques (Gilmar, Castilho, Belini, Didi, Garrincha, Mazzola, Pepe, Zagallo, etc.). A trama, folhetinesca, narrava a vida de um menino que sonhava ser atleta profissional. O filme foi lançado em 1959, ainda no calor do triunfo da Copa sediada pela Suécia, em 1958.

Três anos depois, Pelé era a razão de ser de uma ficção, com inserções documentais, dirigida pelo argentino-brasileiro Carlos Hugo Christensen. Bicampeão do mundo (em 1958 e 1962), o craque do Santos Futebol Clube teve sua vida narrada no folhetinesco, às vezes tocante, “O Rei Pelé”, escrito por Benedito Ruy Barbosa, com diálogos de Nelson Rodrigues.

A ficção mais recente — “Pelé, o Nascimento de uma Lenda”, dos norte-americanos Michael e Jeff Zimbalist — foi lançada cinco anos atrás. Trata-se de filme que se propõe, em ritmo de fábula, a mostrar “o garoto que virou o jogo”. Para colocar a infância e juventude de Pelé nas telas, os dois cineastas, conhecedores de nossas favelas, pois aqui haviam realizado o longa “Favela Rising”, recorreram a apoios internacionais e deixaram claro seu recorte: mostrar o filho de Dondinho e Dona Celeste dos nove aos 17 anos. Ou seja, da infância, em Bauru, até a adolescência, quando o Brasil ganhou seu primeiro título mundial e Pelé assombrou o mundo.

É, porém, no campo do documentário que o “Atleta do Século” teve sua vida registrada com rico material de arquivo, seja no Brasil, na Itália, na Alemanha ou nos EUA. Ele é figura chave (ou presente) nos filmes “Il Profeta del Gol” (italiano), “Martins-Passion, Die” (germânico) e “Once in a Lifetime: The Extraordinary Story of the New Yorker Cosmos” (entre outros feitos nos EUA). Dos títulos brasileiros, destacam-se “Isto é Pelé”, da dupla Luiz Carlos Barreto-Eduardo Escorel, e “Pelé Eterno”, de Anibal Massaini.

O cineasta e produtor paulistano, da Cinearte, dedicou longos anos de sua vida a construir “Pelé Eterno”, o mais completo filme já feito sobre o ídolo do Santos Futebol Clube, o Peixe praiano. Aliás, a equipe alvinegra acaba de acrescentar a seu escudo uma coroa (a do Rei Pelé) às suas estrelas conquistadas como time vencedor de dois Mundiais (de clubes de futebol).

O jovem cineasta Paulo Machline juntou-se, em 1998, ao escritor José Roberto Torero (“O Chalaça”) para contar delicioso episódio da vida do menino Edson Arantes do Nascimento, quando ele ainda jogava no Bauru, time do interior paulista, que o revelou. O filme, um curta-metragem, “Uma História de Futebol”, foi finalista ao Oscar 2002, na categoria “curta live-action”.

Pelé, aliás, apareceu em muitos, mas muitos, curtas e médias-metragens, sem falar em centenas de programas de TV que o tiveram como astro mais fulgurante.

O Canal Brasil, para homenagear o maior jogador de futebol de todos os tempos, programou significativa maratona cinematográfica que vai durar três dias. Ontem, quinta-feira, foi apresentada entrevista de Pelé ao “Cinejornal”, seguido do filme “Pelé Eterno”. Hoje, sexta-feira, 30, será feita homenagem ao craque, seguida da exibição de “Isto é Pelé”. No sábado, 31, às 19h25, será a vez de se exibir o média-metragem “Pelé – Um Rei Desconhecido” (Ernesto Rodrigues, 2017), seguido de “Solidão – Uma Linda História de Amor (Victor Mello, 1989), às 20h.

“Pelé – Um Rei Desconhecido”, que dura 38 minutos, uniu forças da produtora Bizum ao Canal Brasil, para juntos registrarem as glórias do “Rei” a partir de imagens raras de arquivos estrangeiros, preservados ao longo dos anos. O “Atleta do Século” será visto em imagens produzidas na Europa, nas Américas, na Oceania e, claro, no Brasil.

 

FILMOGRAFIA

2021 – “Pelé”, documentário de David Tryhorn e Ben Nicholas. Produção da Pitch, em parceria com a Netflix. Produtor: Kevin MacDonald, de “Munique 1972: Um Dia de Setembro”. O filme resgata a história de Pelé, garoto humilde de Três Corações até tornar-se o brasileiro mais conhecido do mundo. E toma sua participação no tricampeonato mundial, na Copa do México de 1970, como sua maior e mais potente vitrine. Com poderosas imagens de arquivos internacionais. Disponível na Netflix desde fevereiro de 2021. Duração: 108 minutos.

2017 – “Pelé, o Nascimento de uma Lenda” (EUA, 2016) – De Michael e Jeff Zimbalist. Com Leonardo Carvalho, Kevin de Paula, Seu Jorge, Mariana Nunes, Milton Gonçalves, Felipe Simas, Diego Boneta, Vincent D’Onofrio e Colm Meaney. Pelé e Rodrigo Santoro fazem participações relâmpago. Duração: 107 minutos.

2004 – “Pelé Eterno” – Direção: Anibal Massaíni Neto – A vida do “rei do futebol” Pelé é mostrada através de depoimentos de ex-jogadores, amigos e celebridades importantes da época. Seguindo ordem cronológica, são exibidos vários de seus gols, principais jogadas e fatos que marcaram sua carreira. Num dos momentos mais emocionantes do filme, uma guerra na África é interrompida, pois os dois lados da contenda querem assistir a um jogo do Santos de Pelé. “Pelé Eterno” atingiu mais de 200 mil espectadores e milhares de DVDs vendidos. Duração: 120 minutos.

1989 – “Solidão – Uma Linda História de Amor. Direção de Victor di Mello. Com Rogério Samora, Marcella Prado, Maitê Proença, Luciana Vendramini, David Cardoso, José Wilker, Pelé, Stênio Garcia, Roberto Bonfim, Cléa Simões, Paulo Goulart, Luma de Oliveira, Nuno Leal Maia e muitos outros. Pedro (Rogerio Samora), um pobre imigrante português, muda-se para o Brasil em busca de oportunidades, mas acaba se envolvendo com a contravenção. Apaixona-se pela mulher de um de seus maiores amigos e vai viver com ela. Mas logo descobrirá que ela o trai. Pedro, então cai na mais profunda solidão, até reencontrar uma mulher arrependida na praia. Pela sinopse, vê que Pelé tem pouca importância na trama. Duração: 94 minutos.

1986 – “Os Trapalhões e o Rei do Futebol” – De Carlos Manga. Com o quarteto Trapalhão (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias), Pelé, José Lewgoy, Luiza Brunet, Maurício do Valle, Milton Morais, Older Cazarré e Marcelo Ibrahim. Cardeal (Renato Aragão) e seus amigos  Elvis Dedé, Fumê Mussum e Tremoço Zacarias  são roupeiros e faxineiros do Independência Futebol Clube. Por causa de disputas entre os cartolas interpretados por Lewgoy e Milton Morais, o técnico do time é demitido. Por acidente, Cardeal acaba assumindo a vaga. E o time começa a vencer. Com ajuda do repórter esportivo Nascimento (Pelé) e de Aninha (Luiza Brunet), que trabalha no bar do clube, eles conseguem vencer a desonestidade dos dirigentes do Independência. O filme foi visto por 3.650.000 espectadores. Duração: 90 minutos.

1985 – “Pedro Mico”, de Ipojuca Pontes – Ficção baseada em peça teatral de Antonio Callado. Com Pelé, Tereza Rachel, Jorge Dória, Átila Iório, Iris Nascimento, Ivan Cândido, Juciléia Telles, Felipe Wagner, Procópio Mariano, Sérgio Sampaio e muitos outros. Milton Gonçalves dubla Pelé, o protagonista Pedro Mico. Fotografia de Walter Carvalho. Trilha sonora de Marcus Vinícius de Andrade. Drama policial que tem no centro da ação um malandro carioca analfabeto.  Ele rouba joias de um sheik e foge com elas, dando volta na quadrilha à qual pertencia. A polícia e os comparsas de Pedro Mico tentam encontrá-lo nos morros do Rio. Ele vive num barraco, na companhia de uma prostituta (Tereza Raquel), que conta para ele a história de Zumbi dos Palmares. Duração: 100 minutos.

1982 – “A Marcha” – Ficção dirigida por Oswaldo Sampaio. Com Paulo Goulart, Pelé, Nicette Bruno, Vera Sampaio Rodolfo Mayer, Lola Brah, Sady Cabral, Jayme Barcellos, Rutinéia de Moraes, Eleonor Bruno, Manoel da Nóbrega, Milton Gonçalves, Goulart de Andrade, Sílvio de Abreu, Henricão, Lutero Luiz, João José Pompeu e muitos outros. Drama histórico, que se passa nos anos de 1887 e 1888, em plena campanha pela abolição da escravatura. Boaventura e Chico Bondade dedicam-se à prática da dissimulação. Cabe a eles infiltrar-se nos lugares mais diversos, com o intuito de doutrinar os escravizados. Quando o fazendeiro menos espera, sua senzala amanhece deserta devido a fugas em massa. Baseado no romance homônimo de Afonso Schmidt. Fotografia de Bob Hucke. Montagem de Carlos Coimbra. Rodado em Bragança Paulista, Fazenda Bela Vista, Santos, Itatiba e Piracicaba.

1980 – Os Trombadinhas – Direção: Anselmo Duarte. Com: Pelé, Paulo Goulart, Paulo Villaça, Neusa Amaral, Ana Maria Nascimento Silva, Sérgio Hingst, Francisco Franco, Roberto Maia, Raul Cortez, Kátia D’ Angelo, Alberto Ruschel, Edgard Franco, Áurea Campos, Wanda Marchetti, entre outros. Em São Paulo, um empresário quer reabilitar as crianças de rua através de um projeto social. Depois de ser desencorajado pela própria polícia, busca a ajuda do treinador do time juvenil do Santos Futebol Clube. Duração: 95 minutos.

1974 – “Isto é Pelé” – Documentário de Luiz Carlos Barreto e Eduardo Escorel. O filme narra a vida de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, apresentando sua carreira de 17 anos (até então) no futebol brasileiro. Ao lado do gênio Pelé, são focalizadas as grandes conquistas do futebol brasileiro, com ênfase nas Copas do Mundo de 1958 e 1970. Duração: 75 minutos.

1971 – “Barão Otelo no Barato dos Milhões”, de Miguel Borges – Produção de Luiz Carlos Barreto. Com Grande Otelo, Dina Sfat, Pelé, Milton Morais, Ivan Cândido, Wilson Grey, Antônio Pitanga, Vera Manhães Pitanga, Procópio Mariano, Elke Maravilha, Hildelgard Angel, Rogério Fróes, Waldir Onofre, Ana Maria Tornaghi e muitos outros. Fotografia de Leonardo Bartucci (assistido por Murilo Salles). Trilha sonora de Edu Lobo. Canção de Luizinho Eça. O filme gira em torno de João Sem-Direção (Grande Otelo), um trabalhador dividido entre o posto de gasolina e a função de gandula, no Maracanã. Ele nunca jogara na Loteria Esportiva, até ser atraído a terreiro de umbanda, onde seria concertado o resultado de jogo entre o Rio da Prata x Fluminense. Se o primeiro ganhasse,  Carvalhais, homem virador e esperto, ficaria com o bolão sozinho. João não aceita participar da jogada. Resolve, então, jogar na Esportiva, e torna-se o afortunado e solitário vencedor. Seus problemas, porém, se multiplicam, pois todos querem tirar sua casquinha. Depois de experimentar vida de playboy, granfino e operário, ele decide mudar-se para uma ilha e dedicar-se ao ócio. Duração: 119 minutos.

1963 – “O Rei Pelé” – Ficção, com inserções documentais, dirigida por Carlos Hugo Christensen. Baseado no livro “Eu Sou Pelé”, de Benedito Ruy Barbosa, o criador da novela “Pantanal”, que assina o roteiro. Os diálogos são do dramaturgo e cronista esportivo Nelson Rodrigues. Fotografia de Mário Pajé. Trilha sonora de Lírio Panicali. Com Lima Duarte, Laura Cardoso, Nhá Barbina, Luiz Carlos Freitas, Maria Luiza Nascimento, Dona Celeste Nascimento, Senhor Dondinho, Clementino Kelé, Eduardo Abbas. E participações do próprio Pelé (então com 23 anos), de Nelson Rodrigues, Vicente Feola e de jogadores do Santos Futebol Clube (Dorval, Lima, Maneco, Pagão, Pepe, Tite, Vasco e Zito).

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