“Fluxo”, de André Pellenz, propõe reflexões sobre crises conjugais, pandemia e política

Definido pelo seu diretor e roteirista André Pellenz como “um filme que parece um documentário sobre o futuro”, o drama “Fluxo” – gravado em preto e branco numa fase em que as filmagens presenciais estavam proibidas por conta da Covid-19 – chega aos cinemas no dia 31 de agosto. Na trama, uma distopia política-conjugal, um casal em crise, interpretado por Gabriel Godoy e Bruna Guerin, acaba tendo que lidar com uma situação inesperada, um lockdown. Obrigados a conviver, eles reavaliam seus conceitos, enquanto uma ameaça maior vai se formando do lado de fora: um governo de ultradireita prepara um golpe de estado.

Produzido pela Media Bridge e pela Paramount Pictures, com distribuição da Pipa Pictures e Paramount, “Fluxo” conta ainda com Cássio Gabus Mendes, Silvero Pereira, Guida Vianna, Ronaldo Reis, Alana Ferri e Monika Saviano no elenco, todos filmados em suas casas por meio de aplicativos, em Rio, São Paulo e Fortaleza.

A frustração de ver o lançamento de seu filme “Os Espetaculares”, que estava cercado de grande expectativa, mas que, com os cinemas fechados, teve o lançamento cancelado, motivou André Pellenz. Escrito em apenas 20 dias, o diretor não quis esperar a flexibilização de protocolos e decidiu gravar “Fluxo” de maneira totalmente remota, com um mínimo de recursos e ousando na linguagem cinematográfica. Os atores receberam o equipamento em casa e seguiram as instruções da equipe (que nem mesmo se encontrou) a distância, sendo responsáveis por todos os movimentos de câmera, sem a presença de qualquer pessoa no set, algo visto poucas vezes na história do cinema.

Com o filme pronto, já no fim da pandemia, André decidiu que era preciso mudar alguma coisa. O insight acabou implicando numa revisão da montagem do filme, alterando alguns conceitos da obra.

Responsável por capitanear grandes sucessos comerciais, como “Minha Mãe é uma Peça” (2013), “Detetives do Prédio Azul” (2017), e mais recentemente “Os Aventureiros”, até então a maior bilheteria brasileira do ano de 2023, Pellenz gostou da experiência de fazer algo mais simples e artesanal.

“Chegaram equipamentos e mais equipamentos na minha casa na época. Duas câmeras, iluminação, cabos e mais cabos, tripés, material para arte e som. Uma loucura. A casa ficou de ponta cabeça e tivemos que ter muita calma para entender que a nossa casa viraria um set de filmagem por 15 dias”, conta Gabriel Godoy.

O ator relembra o grande desafio que era concluir cada plano: “Sair do personagem não era uma questão, mas não sair do cenário do filme, isso era (risos). O desafio era antes de gravar. Era mais tempo sendo da técnica do que do elenco. Geralmente, buscamos estar 100% concentrados em um set de filmagem, porém no caso do ‘Fluxo’ precisávamos estar 500% para dar conta de tudo. Às vezes passávamos 40 minutos montando um plano e, quando estava tudo pronto, eu lembrava: ‘Ah, agora preciso também atuar. Sou ator do filme’ (risos). Foi uma experiência única realmente”, diz.

Bruna Guerin também se recorda com prazer do desafio, que trouxe muitos aprendizados: “Como tínhamos que exercer todas as funções do set, além de atuar, foi muito desafiador. Mas a equipe toda nos conduziu com tanta paciência e generosidade que acabou sendo um prazer estar vivenciando tudo aquilo. Foi um dos maiores aprendizados que tive na vida. Hoje enxergo e trabalho no audiovisual muito diferente por conta dessa experiência”.

Outro destaque é a participação especial de Cássio Gabus Mendes, que não saiu de sua casa e fez tudo sozinho. “Jamais imaginei que um dia faria uma cena sem mais ninguém por perto”, disse o ator durante as gravações.

Silvero Pereira, que gravou suas cenas em Fortaleza, compõe o elenco num papel-chave para a distopia final. O ator também gravou a música-tema do filme, “Jaqueta Amarela”, de Assucena (da extinta banda As Baías e a Cozinha Mineira).

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