Três curtas Yanomami serão exibidos no Festival de Veneza

Por ocasião da 80ª edição do Festival de Veneza, que acontece entre 30 de agosto e 9 de setembro, a Isola Edipo, em colaboração com a Mostra Giornate degli Autori, reservaram um dia especial para o cinema indígena Yanomami. Em 4 de setembro, acontecerá o Eyes of the Forest, Olhos da Floresta, que exibirá três curtas-metragens Yanomami, na Sala Laguna. Será um dia dedicado ao Primeiro Cineasta Yanomami Morzaniel Ɨramari e ao Cinema Indígena Yanomami no Brasil.

Entre eles, está “Mãri Hi – A Árvore do Sonho” (foto), de Morzaniel Ɨramari. Ganhador na categoria Melhor Documentário de Curta-Metragem Nacional, no Festival É Tudo Verdade de 2023, o que já o qualifica como um concorrente ao Oscar na categoria Melhor Documentário em Curta-Metragem, o filme conta com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que nos conduz nessa experiência apresentando o conhecimento dos Yanomami sobre os sonhos.

Além deste, também fazem parte do evento “Thuë Pihi Kuuwi – Uma Mulher Pensando” e Yuri U Xëatima The – A Pesca com Timbó”, ambos de Aida Harika, Roseane Yariana e Edmar Tokorino. Estes são os primeiros filmes dos cineastas e estão entre os primeiros filmes dirigidos por mulheres Yanomami que farão sua estreia em um festival de cinema internacional.

A prática da pesca com timbó, o olhar de uma jovem mulher sobre o trabalho dos xamãs e o conhecimento sobre os sonhos são os temas desses três curtas dirigidos pelos jovens cineastas Yanomami.

O registro dos três filmes foi feito na grande casa coletiva de Watorikɨ, na região do Demini (TIY), produzidos pela Aruac Filmes durante as filmagens do longa-metragem “A Queda do Céu”, filme livremente inspirado na obra homônima de Davi Kopenawa e Bruce Albert, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. Em 2022, a Aruac organizou junto à Hutukara Associação Yanomami (HAY) e ao Instituto Socioambiental (ISA) uma oficina de montagem audiovisual que ensejou a produção dos três curtas.

“Mãri Hi – A Árvore do Sonho”, que fez sua estreia internacional no Sheffield Doc Fest, no Reino Unido, deve, segundo o diretor, ajudar os brancos a pensar com os Yanomami sobre a terra e a saúde dos povos originários.

O evento da Isola Edipo, por ocasião do Festival de Veneza, faz parte do foco anual “Cinema de inclusão entre a visão e a educação”, que está em sua sétima edição. O objetivo da iniciativa deste ano é destacar a visão direta e íntima de cineastas da comunidade Yanomami, uma das populações indígenas mais conhecidas da Amazônia e sua crescente importância no cenário cinematográfico internacional. Um ato político devolvendo à floresta seus olhos, corpos e vozes para conscientizar sobre a situação Yanomami atual e a necessidade urgente de proteger seu território e seu modo de vida.

Nos últimos anos, milhares de garimpeiros ilegais invadiram a Terra Indígena Yanomami em busca de ouro e cassiterita, promovendo altos índices de desmatamento e gerando grave insegurança alimentar, violência e a promoção de inúmeras doenças e mortes. Essa invasão tem gerado um impacto dramático sobre os Yanomami. Como revelado pela reportagem da Sumaúma, em janeiro de 2023, pelo menos 570 crianças morreram durante os quatro anos do último governo por doenças que têm tratamento. Apesar das inúmeras denúncias feitas pelos Yanomami nesse período, o governo as ignorou. No início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a cidade de Boa Vista (RR) e decretou emergência de saúde para o povo Yanomami, oficializando a crise humanitária. Neste contexto, a nova produção audiovisual dos Yanomami é também uma convocação para os não-indígenas apoiarem a proteção da terra-floresta.

Os três curtas são uma produção Aruac Filmes com coprodução da Hutukara Associação Yanomami e produção associada da Gata Maior Filmes. Os filmes contam com o apoio institucional do Instituto Socioambiental e apoio de uma rede de fundações e instituições internacionais que trabalham diretamente com a Amazônia Brasileira.

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