Prêmio Goya reúne Victor Erice, “20 Mil Espécies de Abelhas”, “A Sociedade da Neve” e “Atiraram no Pianista”

Foto: “20.000 Espécies de Abelhas”, de Estíbaliz Urresola Solaguren

Por Maria do Rosário Caetano

Os Prêmio Goya, o “Oscar espanhol”, têm servido de poderosa vitrine ao ótimo momento vivido pelo cinema do país ibérico.

Ano passado, o grande vencedor foi “Las Bestias”, de Rodrigo Sorogoyen, que estreia nos cinemas brasileiros no próximo 25 de janeiro.  Ao lado dele, também com enorme número de indicações, estava o excelente “Alcarràs”, de Carla Simón, vencedor do Festival de Berlim.

Agora, outro filme que causou sensação no festival germânico – “20.000 Espécies de Abelhas”, de Estíbaliz Urresola Solaguren – é o recordista de indicações (15). Atrás dele se situam “A Sociedade da Neve”, de José Antonio Bayona, sobre a tragédia resultante de acidente de avião na Cordilheira dos Andes (13), e “Cerrar los Ojos”, de Victor Erice, o genial realizador de “O Espírito da Colmeia” e “El Sol em el Membrillo” (11 indicações).

A tragédia (ou milagre?) do avião uruguaio vem eletrizando os espectadores da Netflix. Já o filme de Erice, cineasta bissexto, foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ano passado, e figurou em dezenas de listas de melhores filmes do ano, incluindo a da revista Cahiers du Cinéma.

Completam a lista de principais postulantes ao “cabeçudo” (apelido dado ao troféu, representado por imensa cabeça do pintor Francisco de Goya y Lucientes) dois longas-metragens: “Un Amor”, de Isabel Coixet, e “Saben Aquell”, de David Trueba. Que vem a ser irmão de Fernando Trueba, que dirigiu (com Javier Mariscal) a animação de base documental “Atiraram no Pianista”, lançado no Brasil pela Sony Pictures. Este filme é um dos cinco concorrentes na categoria melhor produção animada. E tem tudo a ver com o Brasil, pois seu protagonista é o pianista Tenório Jr, assassinado em condições obscuras na Argentina, em 1976, quando acompanhava turnê musical de Vinícius de Moraes.

O filme de David Trueba reconstitui a história do humorista barcelonês Eugeni Jofra (1941-2001), que, junto com sua esposa Conchita Alcaide, incendiou os palcos de Espanha. Ele era tão desatinado, que foi apresentar seu show de stand up comedy horas depois da morte da mulher (ocorrida prematuramente, em 1980). Ao público silencioso e solene, pois consciente do momento delicado que ele atravessava, o iconoclata Eugeni comentou: “Les veo muy sérios. Se les há muerto alguien?”.

“Un Amor”, de Isabel Coixet, o nome mais conhecido do cinema feminino espanhol, baseia-se em romance homônimo de Sara Mesa. Exibido no Festival do Rio, o filme tem a tradutora free-lancer Natalia, de 30 anos (Laia Costa), como protagonista. Ela vive em La Escapa, região rural da Espanha. Um dia, Natalia recebe proposta tentadora de seu vizinho, “O Germânico” Andreas (Hovik Keuchkerian). A relação que se estabelece entre os dois torna-se cada vez mais obsessiva. A jovem começa a questionar se deve entregar-se a paixão e práticas sexuais tão avassaladoras.

Os Prêmios Goya, em sua trigésima-oitava edição, serão entregues em Valladolid, no dia 10 de fevereiro. A cerimônia será apresentada por Ana Belén, Javier Ambrossi e Javier Calvo. O homenageado deste ano é o diretor de fotografia e restaurador de filmes Juan Mariné.

Será que, como “Alcarràs”, um dos franco-favoritos ao Goya 2023, detentor do Urso de Ouro em Berlim, “20.000 Espécies de Abelhas”, agora recordista de indicações, ficará a ver navios? O filme de Estíbaliz Urresola também causou sensação em Berlim e sua atriz Sofia Otero, de 9 anos, ganhou o Urso de Prata por seu impressionante desempenho. Uma personagem queer. Mas os integrantes da Academia de Cinema da Espanha não quiseram repetir a ousadia do júri berlinense. A menina, que estreou com um urso de prata num dos maiores festivais do mundo, foi solenemente ignorada (não cravou vaga como melhor atriz protagonista, nem como melhor revelação feminina).

Em compensação, o excelente longa-metragem da estreante basca tem Patricia López Arnaiz como candidata a melhor atriz (no comovente papel da mãe da criança) e duas fortes candidatas a coadjuvante – Ane Gabarain e Itziar Lazkano.

Ane, basca como a maioria do elenco do filme (falado em espanhol e euskera), é uma atriz notável. Quem viu a série “Pátria” (HBO), baseada no best seller de Fernando Aramburu, sabe do que ela é capaz. Se ganhar o Goya, será por total merecimento.

Correndo por fora está Ana Torrent, de “Cerrar los Ojos”, que volta a trabalhar com seu descobridor, Victor Erice. Nunca é demais lembrar que ele a revelou como a menininha Ana, de “O Espírito da Colmeia”. O mundo se encantou com a garotinha de olhos pretos, grandes e sonhadores, que queria reencontrar Frankenstein, depois de vê-lo na tela de cinema de esquecido vilarejo espanhol. O sucesso foi tão grande, que Carlos Saura a convocou para que interpretasse a filha de Geraldine Chaplin em “Cria Cuervos”.

“Cerrar los Ojos”, de Victor Erice

“A Sociedade da Neve”, de José Antonio Bayona, é a mais apaixonante das versões da tragédia vivida pelo Old Christians Rugby Club, time que se dirigia, num avião da Força Aérea Uruguaia, ao Chile, para partida amistosa. Dos 45 embarcados na aeronave, 16 sobreviveram, depois de 72 dias de privações e fome, que os levaram a praticar o canibalismo.

Será que o filme ganhará prêmios artísticos de peso? Ou apenas prêmios técnicos? Afinal, trata-se de show de virtuosismo e efeitos especiais. Ou terá cacife para derrotar o fascinante “20.000 Espécies de Abelhas”?

E o que caberá ao veterano Victor Erice? Depois do imenso reconhecimento da crítica internacional, o mestre, tão discreto e genial, sairá de mãos abanando?

A perda da memória por causa de Alzheimer é tema de dois filmes presentes na competição do Goya 2024: o favorito a melhor longa ibero-americano, o chileno “A Memória Infinita” (cotado também para o Oscar de melhor documentário) e o espanhol “Mientras Seas Tú, El Aquí y Ahora de Carme Elias”, de Claudia Pinto Emperador, que concorre ao “cabeçudo” de melhor documentário.

O filme de Maite Alberdi, uma pequena obra-prima, registra a perda de memória do escritor Augusto Góngora, visto ao lado de sua incansável companheira, a atriz Paulina Urrutia, ex-ministra da Cultura do Chile.

Já o documentário espanhol de Emperador mostra o processo de perda de memória da atriz Carme Elias, nascida em Barcelona, em 1951. Quinze anos atrás, ela ganhou o Goya de melhor intérprete por seu trabalho no filme “Camino”.

Confira os candidatos:

Melhor filme

. “20.000 Espécies de Abelhas”, de Estíbaliz Urresola Solaguren
. “Cerrar los Ojos”, de Victor Erice
. “A Sociedade da Neve”, de José Antonio Bayona
. “Un Amor”, de Isabel Coixet
. “Saben Aquell”, de David Trueba

Melhor direção. Victor Erice (“Cerrar los Ojos”)
. Isabel Coixet (“Un Amor”)
. Elena Martín (“Creatura”)
. David Trueba (“Sabe Aquell”)
. José Antonio Bayona (“A Sociedade da Neve”)

Melhor direção de estreante

. Estíbaliz Urresola Solaguren (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Itaso Arana (“Las Chicas Están Bien”)
. Alvaro Gago (“Mátria”)
. Alejandro Marín (“Te Estoy Amando Locamente”)
. Alejandro Rojas e Juan Sebastián Vásquez (“La Llegada”)

Melhor animação

. “Atiraram no Pianista”, de Fernando Trueba e Javier Mariscal
. “El Sueño de la Sultana”, de Isabel Herguera
. “Hanna y los Monstruos”, de Lorena Alves
. “Robot Dreams”, de Pablo Berger
. “Momias”, de Juan Jesús García Galocha

Melhor documentário

. “Mientras Seas Tú, El Aquí y Ahora de Carme Elias”, de Claudia Pinto Emperador
. “Iberia, Naturaleza Infinita”, de Arturo Menor
. “Caleta Palace”, de José Antonio Hergueta
. “Esta Ambición Desmedida”, de Santos Bacana
. “Contigo, Contigo y Sin Mí”, de Amaya Villar Navascués

Melhor filme Ibero-Americano

. “Puan”, de Maria Alché e Benjamin Naishtat (Argentina)
. “A Memória Infinita”, de Maite Alberdi (Chile)
. “Simón”, de Diego Vicentini (Venezuela)
. “Alma Viva”, de Cristèle Alves Meira (Portugal)
. “La Pecera”, de Glorimar Mafrero Sánchez

Melhor filme europeu

. “Anatomia de Uma Queda”, de Justine Triet (França)
. “As Oito Montanhas”, de Charlotte Vandermeersch e Felix Van Groeningen (Bélgica e Itália)
. “Sala de Professores”, de Ilker Çatak (Alemanha)
. “Aftersun”, de Charlotte Wells (Inglaterra)
. “Safe Place”, de Juraj Lerotic (Croácia)

Melhor atriz
. Patricia López Arnaiz (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. María Vázquez (Matria)
. Malena Alterio (Que Nadie Durma)
. Carolina Yuste (“Saben Aquell”)
. Laia Costa (“Un Amor”)Melhor ator

. Manolo Solo (“Cerrar los Ojos”)
. Eric Auquer (“El Maestro Que Prometió el Mar”)
. David Verdaguer (“Sabe Aquell”)
. Hovik Keuchekerian (“Un Amor”)
. Alberto Ammann ( Le Llegada”)

Melhor atriz coadjuvante

. Ana Torrent (“Cerrar los Ojos”)
. Ane Gabarain (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Itziar Lazkano (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Clara Segura (“Creatura”)
. Luisa Gavasa (“El Maestro Que Prometió el Mar”)

Melhor ator coadjuvante

. Martxelo Rubio (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. José Coronado (“Cerrar los Ojos”)
. Hugo Silva (“Un Amor”)
. Alex Brendemühl (“Creatura”)
. Juan Carlos Vellido (“Bajo Terapia”)

Melhor atriz revelação

. Xinyi Ye (“Chinas”)
. Yeju Ji (“Chinas”)
. Sara Becker (“La Contadora de Películas”)
. Claudia Malagelada ( “Creatura”)
. Janet Novoás (“O Corno”)

Melhor ator revelação

. Matías Recalt (“A Sociedade da Neve”)
. Brianeitor (“Campeonex”)
. Julio Hr Chen (“Chinas”)
. La Dani (“Te Estoy Amando Locamente”)
. Omar Banana (“Te Estoy Amando Locamente”)

Melhor roteiro original

. Estíbaliz Urresola Solaguren (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Michel Gaztambide e Victor Erice (“Cerrar los Ojos”)
. Alejandro Marín e Carmen Garrido (“Te Estoy Amando Locamente”)
. Félix Viscarret (“Una Vida Tan Simples”)
. Alejandro Rojas e J. Sebastián Bazquez (“La Llegada”)

Melhor roteiro adaptado

. Bernat Vilaplana, Jaime Marques-Olarreaga, Nicolas Casariego e J.A. Bayona (“A Sociedade da Neve”)
. Albert Espinosa e David Trueba (“Saben Aquell”)
. Isabel Coixet e Laura Ferrero (“Un Amor”)
. Albert Val (“El Maestro Que Prometió el Mar”)

Melhor fotografia

. Valentín Alvarez (“Cerrar los Ojos”)
. Gina Ferrer (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Pedro Luquque (A Sociedade da Neve”)
. Bet Rourich (“Un Amor”)
. Diego Trenas (“Una Noche com Adela”)

Melhor montagem

. Raúl Barreras (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Ascen Marchena (“Cerrar los Ojos”)
. Andrés Gil e Jaume Martín (“A Sociedade da Neve”)
. Fátima de los Santos (“Mamacruz”)
. Fernando Franco (“Robot Dreams”)

Melhor Direção de Arte

. Izaskun Urkijo (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Curru Garabal (“Cerrar los Ojos”)
. Carlos Coni (“La Contadora de Películas”)
. Marc Pou (“Saben Aquell”)
. Alain Bainée (“A Sociedade da Neve”)

Melhor trilha sonora

. Andreas Motis (“Saben Aquell”)
. Michael Giacchino (“A Sociedade da Neve”)
. Natasha Aruzu (“El Maestro Que Prometió el Mar”)
. Alfonso Vilallonga (“Robot Dreams”)
. Arnau Bataller (“La Paradoja de Antares”)

Melhor canção original

. “Yo Solo Quiero Amar”, de Rigoberta Bandini (“Te Estoy Amando Locamente”)
. “El Amor de Andrea”, de Baglietto, García, Galván, González, Pucho, Latorre e Castro (“El Amor de Andrea”)
. “La Galinita”, de Fernando Moresi e Sergio Bertran (“La Imatge Permanet”)
. “Chinas”, de Marina Herlop (“Chinas”)
. “Eco”, de Xoel Lopez (“Amigos Has la Muerte”)

Melhor figurino

. Nerea Torrijos (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. María Armengol (“El Maestro Que Prometió el Mar”)
. Merce Paloma (“La Contadora de Películas”)
. Lala Huete (“Saben Aquell”)
. Julio Suárez (“A Sociedade da Neve”)

Melhor maquiagem e cabelos

. Ainhoa Eskisabel e Jone Gabarian (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Ana e Belém López-Puigcerver e Montsé Ribé (“A Sociedade da Neve”)
. Sarai Rodríguez , Noe Montes e Oscar del Monte (“Valle de Sombras”)
. Eli Adánez e Juan Begara (La Ternura”)
. Caitlin Acheson (“Saben Aquell”)

Melhores efeitos especiais

. Mariano García Marty, Jon Serrano, David Heras, Frans Belda e Indira Martín (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. Pau Costa, Félix Bergés e Laura Pedro (“A Sociedade da Neve”)
. Eneriz Zapiani e Inaki Gil Ketxu (“La Ermita”)
. Mariano García Marty, Jon Serrano, Juan Ventura e Amparo Martínez (Tin & Tina”)
. Raúl Romanillos e Miriam Piquer (Valle de Sombras)

Melhor direção de produção

. Pablo Vidal (“20.000 Espécies de Abelhas”)
. María José Diez (“Cerrar los Ojos”). Margarita Huguet (“A Sociedade da Neve”)
. Eduardo Vallès (“Saben Aquell”)
. Leire Aurrekoetxea e Luis Gutierrez (“Valle de Sombras”)

Melhor som

. Valino, Corella e Salvador (“20.000 Espécies de Abelhas”), de Estíbaliz Urresola Solaguren. Marín, Ferro e Palencia (“Cerrar los Ojos”)
. Adrados, Tarra e Orts (“A Sociedade da Neve”)
. Arévalo, Ordoyo e Praderas (“Campeonex”)
. Mas, Castro e Praderas (“Saben Aquell”)

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