“Oppenheimer” larga como favorito ao Oscar e o francês “Anatomia de uma Queda” surpreende com quatro indicações em importantes categorias

Foto: “Oppenheimer”, de Christopher Nolan

Por Maria do Rosário Caetano

“Oppenheimer”, de Christopher Nolan, é o recordista de indicações ao Oscar (treze) e a maioria delas de imenso peso, como melhor filme, direção, ator, roteiro adaptado e fotografia.

O épico sobre o Projeto Manhattan e seu líder (o cientista nuclear Julius Robert Oppenheimer) – responsáveis pela criação da bomba atômica – é o franco favorito para triunfar na cerimônia da nonagésima-sexta edição da estatueta hollywoodiana, a ser entregue no dia 10 de março. Depois de “Oppenheimer”, os recordistas de indicações são “Pobres Criaturas”, do britânico (de origem grega) Yorgos Lanthimos, com 11, e “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese, com 10.

Duas produções realizadas na Europa (como o vencedor do Festival de Veneza, “Pobres Criaturas”) brilham nas mais importantes categorias do Oscar 2024: o francês “Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet, e o britânico “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer. Cada um recebeu cinco importantes indicações.

“Anatomia de uma Queda” iniciou seu triunfo em Cannes, ao receber a Palma de Ouro de melhor filme. Fez imenso sucesso de público em seu país (mais de 1,5 milhão de espectadores) e, excepcionalmente, nos EUA (quase 400 mil ingressos). Passou a figurar como recorrente candidato a melhor filme estrangeiro em outras competições. Conquistou dois Globo de Ouro: roteiro original e filme em língua não-inglesa, mas nessa última categoria foi preterido em seu próprio país. O escolhido foi “Sabor da Vida”, um “culinária movie” protagonizado pela oscarizada Juliette Binoche e por Benoît Magimel.

Virulenta reação à escolha do júri francês não demorou a acontecer. No El País, de Madri, o crítico Gregório Belinchon previu que a guilhotina seria restaurada em Paris para cortar cabeças de jurados, entre eles Olivier Assayas, que haviam preterido o filme Palma de Ouro. Soube-se, depois da polêmica provocada por três jornais parisienses, que o placar foi apertado: quatro votos para o escolhido (no original “La Passion de Dodin Bouffant”) e três para “Anatomia de uma Queda”. Assayas teria votado no vencedor da Palma de Ouro? Ou no filme da amiga Binoche, dirigida por ele no belo “Acima das Nuvens”? Ele se disse impedido de revelar seu voto pelo regulamento do júri nomeado pelo Ministério da Cultura.

O jornal Libération, criado 50 anos atrás por equipe liderada por Jean-Paul Sartre, reagiu de forma paroxística: o filme de Justine Triet é excelente, o melhor do ano, e “Sabor da Vida”, o pior. Quem viu os dois filmes argumenta que “Anatomia” é realmente bem melhor, mas “Dodin Bouffant” está longe de ser um filme ruim, pelo talento de seu diretor, o vietnamita (radicado na França) Trang Anh Hung, e de seus astros, a oscarizada Binoche e Magimel, de “Pacifiction”, de Albert Serra, e da série “Marselha”.

Pois a Academia de Hollywood deu razão aos críticos do “culinária movie”, que ficou fora da seleção final, e indicou “Anatomia de uma Queda” a melhor filme (categoria principal), direção, atriz (a alemã Sandra Hüller, que vive momento de ouro) e roteiro original (escrito pela cineasta em pareceria com o marido Arthur “Onoda” Harari).

Sandra Hüller, revelada ao mundo pelo estranho e irresistível “Toni Erdman”, brilha também em “Zona de Interesse”, outro título que cravou importantes indicações: melhor filme, diretor, roteiro adaptado (de romance de Martin Amis) e filme internacional. Como este longa-metragem se passa na Alemanha nazista e é falado em alemão, seus produtores britânicos puderam inscrevê-lo na categoria internacional.

“Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet

Quatro concorrentes completam a categoria de filmes realizados em outros países, que não os anglo-saxões, ou em outros idiomas: o espanhol “A Sociedade da Neve”, de Juan Antonio Bayona, sobre a tragédia vivida nos Andes por time de rúgbi uruguaio; o japonês “Dias Perfeitos”, do alemão Wim Wenders (que tirou a vaga de “Monster”, de Kore-Eda), o italiano “Io Capitano”, de Matteo “Gomorra” Garrone, e o germânico “The Teachers’ Lounge”, de Ilker Çatak, diretor nascido em Berlim, decerto de origem turca.

Na categoria longa documental, o Chile, país latino-americano que já triunfou na categoria “filme internacional”, com “Una Mulher Fantástica”, conta com candidato fortíssimo – “A Memória Infinita”, de Maite “Agente Duplo” Alberdi. Vale lembrar, antes de citar seus concorrentes, que o Chile cravou outra vaga – a de melhor fotografia, por “O Conde”, a poderosa e vampiresca sátira da trajetória política do General Pinochet, comandada por Pablo Larraín.

Os rivais de Maite Alberdi são a tunisiana Hania Kaouther, que conquistou com “Quatro Filhas” (Four Daughters) o Olho de Ouro de melhor documentário em Cannes; Nisha Pahuja com “To Kill a Tiger” (Canadá-India); Mstyslav Chernov, com o ucraniano ”20 Days in Mariupol”, e Moses Bwayo e Christopher Sharp, com “Bobi Wine: O Presidente do Povo”(Uganda-EUA). Este mostra o ator e músico pop que lhe dá nome, em processo eleitoral, disputando a presidência do país africano.

No campo da animação, o Japão brilha com “O Menino e a Garça”, do mestre Miyazaki, que se soma ao filme 100% nipônico de Wim Wenders e a uma indicação para o tocante e alucinante “monster movie” de Takashi Uamazak – “Godzilla Minus One” (indicado na categoria efeitos especiais).

Entre os rivais de “O Menino e a Garça” figuram produção de diretor basco (Pablo Berger), produzida pela Espanha e França (“Meu Amigo Robô”), outra oriunda do Reino Unido (“Nimona”) e duas estadunidenses (“Elementos” e “Homem Aranha: Através do Aranhaverso”).

Por fim, uma constatação: os fãs de “Barbie”, a boneca cor-de-rosa, devem estar decepcionados, mesmo que a milionária (e publicitária) produção tenha cravado nove indicações, incluindo melhor filme. Não deve, ao que tudo indica,  acumular muitas estatuetas em março. Depois de brilhar modestamente no Globo de Ouro e levar um gelo do Bafta, o Oscar britânico, o campeão de bilheterias planetárias viu sua realizadora Greta Gerwig ignorada na categoria direção e sua protagonista, louríssima Margot Robbie esquecida.

MELHOR FILME

  • “Anatomia de uma Queda”, de Justine Trier (França)
  • “American Fiction”, de Cord Jefferson (EUA)
  • “Oppenheimer”, de Christopher Nolan (EUA)
  • “Os Rejeitados”, de Alexander Payne (EUA)
  • “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese (EUA)
  • “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer
  • “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos (Reino Unido)
  • “Maestro”, de Bradley Cooper (EUA)
  • “Vidas Passadas”, de Celine Song (EUA-Coreia)
  • “Barbie”, de Greta Gerwig (EUA)

MELHOR FILME INTERNACIONAL

  • “A Sociedade da Neve”, de José Antônio Bayona (Espanha)
  • “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer (Reino Unido)
  • “Io Capitano”, de Matteo Garrone (Itália)
  • “Dias Perfeitos”, de Wim Wenders (Japão)
  • “The Teachers’ Lounge”, de Ilker Çatak (Alemanha)

MELHOR LONGA DOCUMENTAL

  • “A Memória Infinita”, de Maite Alberdi (Chile)
  • “Four Daughters”, de Hania Kaouther (Tunísia)
  • “To Kill a Tiger”, de Nisha Pahuja (Canadá-India)
  • “20 Days in Mariupol”, de Mstyslav Chernov (Ucrânia)
  • “Bobi Wine: O Presidente do Povo”, de Moses Bwayo e Christopher Sharp (Uganda-EUA)

MELHOR ANIMAÇÃO

  • ‘O Menino e a Garça’, de Hayo Miyazaki (Japão)
  • “Meu Amigo Robô” (Robot Dreams), de Pablo Berger (Espanha, França)
  • ‘Elementos’, de Peter Sohn (EUA)
  • ‘Nimona’, de Troy Quane e Nick Bruno (EUA)
  • ‘Homem Aranha: Através do Aranhaverso, de Persichetti, Ramsey e Rothman (EUA)

MELHOR DIREÇÃO

  • Justine Triet, ‘Anatomia de uma Queda’
  • Jonathan Glazer, ‘Zona de Interesse’
  • Yorgos Lanthimos, ‘Pobres Criaturas’
  • Christopher Nolan, ‘Oppenheimer’
  • Martin Scorsese, Assassinos da Lua das Flores’

MELHOR ATRIZ

  • Lily Gladstone,  de ‘Assassinos da Lua das Flores’
  • Sandra Hüller, de ‘Anatomia de uma Queda’
  • Carey Mulligan, de ‘Maestro’
  • Emma Stone, de “Pobres Criaturas’
  • Annette Bening, de ‘Nyad’

MELHOR ATOR

  • Paul Giamatti, de “Os Rejeitados’
  • Cillian Murphy, de “Oppenheimer’
  • Colman Domingo, de “Rustin’
  • Jeffrey Wright,  de “American Fiction’
  • Bradley Cooper, de “Maestro’

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

  • Da’Vine Joy Randolph, ‘Os Rejeitados’
  • Emily Blunt, ‘Oppenheimer’
  • Danielle Brooks, ‘A Cor Púrpura’
  • America Ferrara, ‘Barbie’
  • Jodie Foster, ‘Nyad’

MELHOR ATOR COADJUVANTE

  • Sterling K. Brown, ‘American Fiction’
  • Robert De Niro, ‘Assassinos da Lua das Flores’
  • Robert Downey Jr., ‘Oppenheimer’
  • Ryan Gosling, ‘Barbie’
  • Mark Ruffalo, ‘Pobres Criaturas’

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

  • Justine Triet e Arthur Harari (‘Anatomia de uma Queda’)
  • Celine Song (Vidas Passadas)
  • David Hemingson (“Os Rejeitados’)
  • Bradley Cooper e Josh Singer (‘Maestro’)
  • Samy Butcher (‘Segredos de um Escândalo’)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

  • ‘Cord Jeferson (American Fiction’)
  • Christopher Nolan (‘Oppenheimer’ )
  • Tony McNamara (‘Pobres Criaturas’
  • ‘Barbie’ (Greta Gerwig e Noah Baumbach)
  • Jonathan Glazer (‘Zona de Interesse’)

MELHOR FOTOGRAFIA

  • Edward Lachman (O Conde)
  • Rodrigo Prieto (Assassinos da Lua das Flores)
  • Hoyte van Hoytema (Oppenheimer)
  • Robbie Ryan (Pobres Criaturas)
  • Matthew Libatique (Maestro)

MELHOR MONTAGEM

  • ‘Anatomia de uma Queda’
  • ‘Os Rejeitados’
  • ‘Assassinos da Lua das Flores’
  • ‘Oppenheimer’
  • ‘Pobres Criaturas’

TRILHA SONORA

  • ‘American Fiction’
  • ‘Assassinos da Lua das Flores’
  • ‘Oppenheimer’
  • ‘Pobres Criaturas’
  • ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

  • ‘It Never Went Away’, de ‘American Symphony’
  • ‘I’m Just Ken’, de ‘Barbie’
  • ‘What Was I Made For?’, de ‘Barbie’
  • ‘The Fire Inside’, de ‘Flamin’ Hot’
  • ‘Washzazhe’, ‘Assassinos da Lua das Flores’

MELHOR FIGURINO

  • Holly Waddington  (Pobres Criaturas)
  • Jacqueline West (Assassinos da Lua das Flores)
  • Janty Yates e Dave Crossman (Napoleão)
  • Ellen Mirojnick (Oppenheimer)
  • Jacqueline Duran (Barbie)

MELHOR CABELO E MAQUIAGEM

  • ‘A Sociedade da Neve’
  • ‘Golda: A Mulher de uma Nação’
  • ‘Maestro’
  • ‘Oppenheimer’
  • ‘Pobres Criaturas’

DIREÇÃO DE ARTE

  • ‘Assassinos da Lua das Flores’
  • ‘Napoleão’
  • ‘Oppenheimer’
  • ‘Pobres Criaturas’
  • Barbie

MELHOR SOM

  • ‘Resistência’
  • ‘Maestro’
  • ‘Oppenheimer’
  • ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um’
  • ‘Zona de Interesse’

MELHOR EFEITO ESPECIAL

  • ‘Godzilla Minus One”
  • ‘Napoleão
  • ‘Resistência’
  • ‘Guardiões da Galáxia: Vol. 3’
  • ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um’

DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM

  • ‘The ABCs of Book Banning’

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