Festival de Brasília soma “A Fúria”, do veterano Ruy Guerra, a filmes de jovens realizadores

Foto: “A Fúria”, de Ruy Guerra

Por Maria do Rosário Caetano

O comando da quinquagésima-sétima edição do festival mais antigo do país – o de Brasília do Cinema Brasileiro – anunciou sua seleção para a disputa dos históricos troféus Candango.

A presença do nonagenário Ruy Guerra, com “A Fúria”, fecho de trilogia iniciada em 1965 e sequenciada com “A Queda”, de 1977, é a grande novidade. Ao veterano realizador, que dirige o filme em parceria com Luciana Mazzotti, somam-se mais cinco títulos, de jovens realizadores, vindos de vários pontos do território brasileiro: o brasiliense “Pacto da Viola”, de Guilherme Bacalhao; os mineiros “Suçuarana”, de Clarissa Campolina e Sérgio Borges, e “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá”, de Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna; o pernambucano “Salomé”, de André Antônio, e o amazonense “Enquanto o Céu Não me Espera”, de Christiane Garcia.

O festival candango promoverá mais uma edição (a vigésima-quinta) de sua Mostra Brasília, fruto de parceria com a Assembleia Legislativa do DF, e a mostra Caleidoscópio, destinada a filmes mais experimentais (ver selecionados abaixo).

No núcleo histórico, serão exibidos “Meteorango Kid, o Herói Intergalático”, de André Luiz Oliveira (1969), e “Xica da Silva”, de Cacá Diegues, protagonizado por Zezé Motta, de 80 anos, que receberá um Candango especial por sua trajetória no cinema.

Serão homenageados, também, in memoriam, Vladimir Carvalho (1935-2024) e a atriz e produtora Malu Moraes (1946-2024), nomes dos mais atuantes na história do cinema brasiliense.

Durante a coletiva de imprensa que desenhou o perfil da edição número 57 do Festival de Brasília, o secretário de Cultura, Claudio Abrantes, anunciou — ao lado de Sara Rocha (diretora geral), Eduardo Valente (diretor artístico) e de Rodney Pirelli (representante da Assembleia Legislativa — que decreto governamental recém-assinado transformou a grande sala de exibição do niemárico Cine Brasília em “Sala Vladimir Carvalho”.

E, mais, o festival acontecerá em três das Regiões Administrativas (cidades-satélites) do DF e em dois espaços do Plano Piloto, ambas no Cine Brasília (a Sala 1, a Vladimir Carvalho, e a 2, provisória, com 200 lugares, construída num dos espaços externos do cinema mais antigo da cidade). Aliás, Abrantes garantiu que “a Secretaria de Cultura está promovendo estudos arquitetônicos e consultas jurídicas”, em parceria com o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em torno da criação de novas edificações nas cercanias do Cine Brasília. Quem sabe para “servir como espaço de abrigo ao acervo deixado pelo Projeto CineMemória”, do incansável cineasta paraibano-candango. Afinal, frisou o secretário: “Brasília é (e deve ser) a sede do patrimônio deixado por Vladimir”.

Três filmes marcarão presença nas cerimônias de abertura e encerramento do festival: “Criaturas da Mente”, de Marcelo Gomes, sobre trabalho e vida do neurocientista Sidarta Ribeiro, “O Menino d’Olho d’Água”, de Lírio Ferreira e Carolina Sá, registro das peripécias artísticas do compositor e multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal, e “Sinfonia da Sobrevivência”, de Michel Coeli, sobre o fogo que devorou, recentemente, o bioma do Pantanal causando a morte de milhares de animais. Este filme foi eleito, pelo Júri da Mostra SP 2024, o melhor documentário brasileiro (na competição Novos Diretores).

“O Menino d’Olho d’Água”, de Lírio Ferreira e Carolina Sá

A seleção de longas (todos 100% inéditos) da principal mostra do Festival de Brasília será complementada – além da Mostra Assembleia Legislativa e da Caleidoscópio (também competitivas) – por dois segmentos informativos: Festival dos Festivais e A Formação dos Brasis. Sem esquecer o Festivalzinho, que, esse ano, somará quatro longas (um brasiliense) e três curtas.

Muitos dos 79 filmes programados pelas várias mostras do festival candango serão exibidos na sede da Cia Lábios da Lua (Gama), no Complexo Cultural de Planaltina e na Faculdade Estácio do Pistão Sul (Taguatinga).

Sara Rocha e Eduardo Valente garantiram que, ano que vem, o Festival de Brasília voltará a acontecer em sua data histórica, setembro, tempo de ipês floridos e em fina sintonia com seus idealizadores-criadores. Estes o queriam na estação primaveril.

Confira os selecionados:

Longa-metragem (Troféu Candango)

. “A Fúria”, de Ruy Guerra e Luciana Mazzotti (RJ)
. “Pacto da Viola”, de Guilherme Bacalhao (DF)
. “Enquanto o Céu Não me Espera”, de Christiane Garcia (AM)
. “Suçuarana”, de Clarissa Campolina e Sérgio Borges (MG)
. “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá”, de Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna (MG)
. “Salomé”, de André Antônio (PE)

Mostra Brasília (Assembleia Legislativa)

. “Nada”, de Adriano Guimarães (longa-metragem)
. “Manual do Herói”, de Fáuston Silva (longa)
. “Tesouro Natterer”, de Renato Barbieri (longa)
. “A Câmara”, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão (longa)

E os curtas-metragens:

. “Caravana da Coragem”, de Pedro B. Garcia
. “A Sua Imagem na Minha Caixa de Correio”, de Silvino Mendonça
. “Cemitério Verde”, de Maurício Chades.
. “Kwat e Jaí – Os Bebês Heróis do Xingu”, de Clarice Cardell
. “ONA”, de Clara Maria e M4vi Adroindie
. “Xarpi”, de Rafael Lobo
. “Via Sacra”, de João Campos
. “Manequim”, de Diego e Danilo Borges

Mostra Caleidoscópio

. “Trópico de Leão”, de Luna Alkalay (SP)
. “Topo”, de Eugenio Puppo (SP)
. “Future Brilliant”, de Abílio Dias (SP)
. “Palimpsesto”, de André Di Franco e Felipe Canêdo (MG)
. “Filhas da Noite”, de Henrique Arruda e Sylara Silvério (PE)

Mostra Festival dos Festivais

. “Oeste Outra Vez”, de Erico Rassi (GO)
. “Kasa Branca”, de Luciano Vidigal (RJ)
. “Apocalipse Tropical”, de Petra Costa (RJ-MG)
. “A Queda do Céu”, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha (RJ)

Mostra de Curtas-Metragens (competição brasileira)

. “Inflamável”, de Rafael Ribeiro Gontijo (DF)
. “Descamar”, de Nicolau (DF)
. “Confluências”, de Dácia Ibiapina (DF)
. “Javyju – Bom Dia”, de Kunha Rete e Carlos Eduardo Magalhães (SP),
. “Mãe de Ouro”, de Maick Hannder (MG)
. “E seu Corpo é Belo”, de Yuri Costa (RJ).
. “Dois Nilos”, de Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro (RJ)
. “E Assim Aprendi a Voar”, de Antonio Fargoni (RO)
. “Kabuki”, de Tiago Minamisawa (SC)
. “Chibo”, de Gabriela Poester e Henrique Lahude (RS)
. “Maremoto”, de Cristina Lima e Juliana Bezerra (RN)
. “Mar de Dentro”, de Lia Letícia (PE)

Mostra A Formação dos Brasis

. “Barreto, Fotógrafo das Lentes Nuas”, de Miguel Freire (RJ)
. “Ausente”, de Ana Carolina Soares (MG)
. “Quem é essa Mulher?”, de Mariana Jaspe (BA)
. “Brasiliana: a História do Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo”, de Joel Zito Araújo (SP)

Filmes de abertura e encerramento

. “Criaturas da Mente”, de Marcelo Gomes (PE-SP)
. “O Menino d’Olho d’Água”, de Lírio Ferreira e Carolina Sá (PE-RJ)
. “Sinfonia da Sobrevivência”, de Michel Coeli (MT)

Núcleo Histórico

. “Meteorango Kid, o Herói Intergalático”, de André Luiz Oliveira (BA)
. “Xica da Silva”, de Cacá Diegues (RJ)
. “Meteorango Kid – Vivo ou Morto” (2023), de Marcel Gonnet (making of póstumo do “Meteornago” baiano)

Festivalzinho de Brasília do Cinema Brasileiro

. “Joãozinho – o Filme”, de Faustón da Silva (DF)
. “Abá e sua Banda”, de Humberto Avelar (RJ)
. “Marraia”, de Diego Scarparo
. “A Menina e o Flautista”, de Lara Dezan

Séries de TV

. “Como Nascem os Heróis”, de Iberê Carvalho (EBC-TV Brasil)
. “Malvinas: Diário de uma Guerra, de Ricardo Pereira e Eugenia Moreyra (Globoplay)
. “Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí”, de Caio Cavechini e Evelyn Kuriki (Globoplay)

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