Festival de Brasília 2015 – Fórum de Coprodução Internacional

Por Maria do Rosário Caetano, de Brasília

 

Um time de peso debateu, ontem, OS DESAFIOS DA COPRODUÇÃO, no Fórum de Coprodução Internacional, que se faz acompanhar da “Mostra Continente Compartilhado”. Na foto, da esquerda para a direita: o moderador Marcos Ligocki, o produtor Rodrigo Teixeira, de “Alemão” e “Frances Ha”, o representante da Motion Pictures Association para a América Latina, Ricardo Castanheira, a produtora Isabel Martinez (“Soy Cuba” e “Estrada 47”), o produtor e realizador Márcio Curi (“Loucos por Cinema”, “A Última Estação”) e o produtor Fabiano Gullane (“O Lobo Atrás da Porta” e “Que Horas Ela Volta?”).

 

PREÇO INFLACIONADO

Rodrigo Teixeira, da produtora RT, contou de seus projetos desenvolvidos no Brasil e também nos EUA. Lamentou ter inflacionado o mercado de aquisição de direitos autorais de dezenas de obras literárias, em determinado momento de sua trajetória de produtor. Ele começou aos 22 anos, com “O Cheiro do Ralo”. Disse que hoje já não se paga o pouco que se pagava, nem o muito que ele passou a pagar. “Chegamos ao equilíbrio”

ROTEIROS RUINS

O lusitano Ricardo Castanheira, representante da MPA-AL, afirmou que há falta de quadros qualificados no Brasil, em especial, para área do roteiro cinematográfico. E garantiu que os estúdios que ele representa querem coproduzir com o Brasil. Que não é possível assinar Acordo de Coprodução Brasil-EUA, pois não existe no poderoso país do norte, uma instituição cinematográfica semelhante à Ancine. Mas contou que levou Manoel Rangel, diretor-presidente de nossa Agência Nacional de Cinema, a um encontro com produtores na Califórnia. “Foi a primeira viagem de Rangel aos EUA!”, garantiu. Além dele, Alfredo Manevy, diretor da Spcine também participou do encontro de coprodução no mais poderoso polo de cinema do mundo.

MAL UNIVERSAL

Rodrigo Teixeira ponderou que a falta (crise) de bons roteiros é mundial. Não só brasileira. “Mantenho muito contato com o pessoal do Sundance Festival, nos EUA. E eles, que estão investindo na produção, testemunham que recebem, cada vez mais roteiros para analisar. E que a maioria é medíocre. Neste nosso tempo presente, lê-se pouco e assiste-se cada vez menos a bons filmes. Os roteiros que chegam ao Sundance e à minha produtora mostram isto com clareza”.

PARCERIAS DIFÍCEIS

Isabel Martinez, costarriquenha de nascimento e mulher e produtora do cineasta Vicente Ferraz, lembrou a montagem de parcerias internacionais para o documentário SOY CUBA, que teve excelente acolhida, e para a ficção ESTRADA 47, que uniu Brasil-Itália-Portugal. O brasiliense Márcio Curi lembrou que, depois da boa repercussão crítica de LOUCOS POR CINEMA e AS FILHAS DO VENTO, tentou levantar produção internacional para VIVA O POVO BRASILEIRO, adaptação de André Luiz Oliveira para romance de João Ubaldo Ribeiro. As dificuldades foram imensas. E o projeto foi engavetado. Ele conseguiu, porém, realizar coprodução com o Líbano para longa-metragem (“A Ultima Estação”) que ele mesmo dirigiu. Mas as dificuldades foram, mais uma vez, enormes e os produtores libaneses ficaram frustrados com a pequena bilheteria do filme no mercado brasileiro.

LOBO E REGINA CASÉ

Fabiano Gullane contou que sua produtora, a Gullane Filmes, já soma 40 títulos, muitos deles frutos de parcerias internacionais. Caso de “Bicho de Sete Cabeças”, com a Benetton da Itália, “Terra Vermelha”, de Marcos Becchis (também com a Itália), o infanto-juvenil AMAZONIA, com os franceses, o estranhíssimo “Plastic City”, com a China, etc. Fabiano ouviu, com imensa satisfação, elogio da concorrência. Rodrigo Teixeira testemunhou: “os dois maiores sucessos brasileiros, atualmente, no mercado externo não são meus. São ambos da Gullane”. O produtor se referia a O LOBO ATRÁS DA PORTA, protagonizado por Leandra Leal, e QUE HORAS ELA VOLTA?”, por Regina Casé. RT e Gullane disseram que Fernando COIMBRA, diretor do LOBO, está bombando no mercado internacional e que, por isto, vai comandar uma produção de 40 milhões de dólares. Não foi apenas O LOBO que o cacifou, já que este filme foi bem recebido no restrito mercado de arte, mas sim, os dois episódios da série NARCOS (comandada por José Padilha), que ele dirigiu. No capítulo NARCOS, RT registrou: “aqui no Brasil, ficam implicando com o sotaque de Wagner Moura, enquanto ele figura no IMDB como o sétimo nome em maior evidência no mundo, neste momento”.

LUCRO E PREJUÍZO

RT contou que ganhou muito dinheiro com FRANCIS HA, produção norte-americana que ele bancou. No BRASIL, ganhou dinheiro com ALEMÃO e perdeu com TIM MAIA. “Alemão” fez quase um milhão de espectadores e acaba de ser vendido por um milhão de reais, cash, para a Globo, que vai transformá-lo numa microssérie. Já TIM MAIA vendeu 800 mil ingressos. Necessitávamos de 1,6 milhão para que ele se pagasse. Esperávamos para ele uns 2,5 milhões de ingressos. Fizemos menos de um terço deste total.

MUITAS PERGUNTAS

Findas as “falas” dos palestrantes, as perguntas da plateia eram tantas, que o debate, iniciado às 16h30, poderia entrar noite adentro. Ligocki exigiu que perguntas fossem feitas em bloco, mas muita gente não pôde colocar suas indagações, pois dali a pouco haveria sessão no Cine Brasília. O auditório, lotado, só esvaziou quando o moderador avisou que o prazo estava “esgotadíssimo”.

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