Filme mostra Michael J. Fox do estouro juvenil à luta contra o Parkinson

Por Maria do Rosário Caetano

“Still: A Michael J. Fox Movie” é um longa-metragem cujo protagonista, o astro absoluto do blockbuster “De Volta para o Futuro”, jamais desejaria encabeçar. Afinal, quando estourou nos EUA, primeiro na série “Family Ties”, depois na trilogia mix de comédia familiar e ficção científica, que o transformaria em nome planetário, Michael era um baixinho ágil, cheio de vida, bem-humorado e com futuro promissor e milionário pela frente.

Tudo mudou quando, aos 29 anos, apareceram, precocemente, os primeiros sintomas do Mal de Parkinson no corpo do ator, cada dia mais famoso e requisitado pela indústria hollywoodiana. Depois de uma noitada de farra com o amigo Woody Harrelson, na Flórida, ele acordou de ressaca. Percebeu que um dedo de sua mão não se movimentava como os outros.

Michael não queria acreditar no que estava acontecendo. No documentário, em suas sinceras confidências, ele lembrará que recebera, naquela noite na Flórida, uma “mensagem do futuro”. Pois dali em diante, vagarosamente, a doença iria dificultar seus movimentos e impor imensos desafios à sua carreira e à sua vida cotidiana. Eles os enfrentou – e continua enfrentando – com paciência, humor e sem buscar a piedade alheia. E com ajuda da família – a esposa Tracy Pollan, atriz com quem contracenou na juventude e que está com ele até hoje, e os filhos Sam, os gêmeos Aquinah e Scuyler e Esmé.

A partir dessa sexta-feira, 12 de maio, a Apple TV disponibiliza em seu streaming o filme que narra a saga existencial do baixinho canadense. O documentário, dirigido pelo premiado realizador norte-americano Davis Guggenheim, o mesmo do oscarizado “Uma Verdade Inconveniente” (registro da face ecológica de Al Gore) e de “Meu Nome é Malala”, dura lisérgicos 95 minutos. O cineasta soma imagens documentais e sofisticadas reconstituições (com atores muito semelhantes aos personagens representados) da infância e juventude de Michael J. Fox. A verossimilhança é valor nobre, e com poder de sedução garantido, para o cinema norte-americano.

O canadense que nasceu na pequena Edmonton, em junho de 1961, era o garoto que fazia teatro na escola e arrancava gargalhadas dos amigos. Já que não era um galã, pois, pequenino, parecia bem mais novo que as garotas de sua idade, resolveu chamar atenção “fazendo arte”, palhaçadas, comédia.

Um dia, surgiu oportunidade para importante teste em Hollywood. Os pais bancaram o sonho do menino e zarparam para os EUA. Até acertar-se na série “Family Ties” (“Caras & Caretas”, exibida pela TV Globo) e roubar a cena, vendo seu personagem crescer cada vez mais, ele comeu o pão que o diabo amassou. Passou meses e meses num quartinho apertado, comendo pizza barata e correndo atrás de todo tipo de teste.

O grande dia e a grande chance chegariam a ponto de tornar Fox um rosto tão conhecido nos EUA que seria escolhido por ninguém mais, ninguém menos, que Steven Spielberg para protagonizar “De Volta para o Futuro” (Robert Zemeckis, 1985). E isto aconteceu, sem que ele pudesse interromper as gravações da série “Family Ties”, que lhe tomava cada vez mais tempo. Afinal, seu personagem garantia alta pontuação no ibope norte-americano, o que resultava em ganhar mais cenas e falas para decorar.

Para que o jovem astro, então com 23 para 24 anos, pudesse desempenhar os dois papeis, foi montada verdadeira engenharia de guerra. Ela é recriada por Davis Guggenheim em seu documentário, no mais genuíno clima de thriller e filme de ação.

Vai dar tempo? O rapazinho conseguirá dormir apenas duas ou três horas por dia, decorar seus dois scripts (o do filme e o da série) e ficar horas e horas sob os refletores e frente às câmeras? Todo mundo sabe que deu tudo certo. Muito certo.

“Still: A Michael J. Fox Movie”, que participou de vários festivais e, no Brasil, da principal competição do Festival É Tudo Verdade, com sessões muito procuradas pelo público, mostra que, mesmo com o Mal de Parkinson avançando, a pequena raposa participou de dezenas de filmes e programas de TV.

Não deixou, nunca, de dedicar-se, também e com afinco, aos mais avançados tratamentos disponibilizados pela medicina, foi (e continua sendo) um dedicado praticante de exercícios corporais e tornou-se ativista em defesa dos direitos dos portadores de Parkinson. Michel não esconderá do público contemporâneo: “por sete anos, escondeu a doença”. Ele mesmo necessitava aceitá-la. Como diz Guggenheim, “seu herói entrara em rota de colisão” com tudo que a vida lhe vinha ofertando.

Hoje, Michael J. Fox já narrou suas memórias em livro e, agora, em filme que está correndo o mundo. Leva tombos, pois seu equilíbrio é cada vez mais frágil. Deixa-se filmar em queda, depois de soltar barra protetora e tentar caminhar sem ajuda de seu personal trainer.

Quem assistir ao filme de Fox não vai se arrepender. Ele continua um moleque, que apesar de todos os pesares e limitações impostos pela doença, tem fome de viver. E Davis Guggenheim soube construir um documentário solar como seu personagem. O baixinho canadense não se entregou ao desespero ao descobrir que seu futuro seria bem diferente do da maioria de seus contemporâneos na ensolarada Califórnia.

 

Still: A Michael J. Fox Movie
EUA, 2022, 95 minutos
Direção: Davis Guggenheim
Participação: Michael J. Fox, sua esposa Tracy Pollan e os filhos Sam, Aquinah, Scuyler e Esmé
Fotografia: Kim Milles
Montagem: Michael Harte
Trilha sonora: John Powell
Onde: Apple TV (a partir de 10 de maio)

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