Museu da Imigração Japonesa abre espaço nobre para produção asiática e exibe “O Deus do Cinema”
Por Maria do Rosário Caetano
O filme japonês “O Deus do Cinema” (foto), do nonagenário Yôji Yamada, é uma das atrações da inauguração do Cine Sato, sala de mais de mil lugares (759 no térreo e 300 no mezanino), nesse domingo, 16 de julho, no tradicional bairro da Liberdade paulistana.
A sala – situada no térreo do Museu da Imigração Japonesa – nasce vocacionada a tornar-se o ponto gravitacional do cinema asiático na maior metrópole do país. Em especial o cinema vindo do Japão e da Coreia do Sul.
Em tempo de salas minúsculas, ocupar um solitário cinema de rua com possibilidade de receber mais de mil espectadores parece uma loucura. Mas o distribuidor Nelson Sato, dono da Sato Company, tomou todas as cautelas possíveis. Nesse mês de julho, ele só apresentará filmes aos domingos. Se tudo der certo, e houver significativa quantidade de espectadores, as sessões acontecerão, em meses vindouros, também aos sábados.
A programação inaugural começará às dez da manhã (com “Kamen Rider Zero One” e episódio de número 51 – “Black Kamel Rider” – como bônus). Cinco minutos depois do meio-dia será a vez de “O Deus do Cinema”, verdadeira celebração à sétima arte, em especial a praticada pelos grandes mestres da era dourada japonesa como Ozu e Mizoguchi. Sem esquecer citações à “Rosa Púrpura do Cairo”, de Woody Allen, aos filmes de Frank Capra e, claro, ao “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore.
O filme de Yamada, que será reprisado às 16h30, homenageia figuras reais da cinematografia japonesa. Caso de cineasta cuja aparência remete ao grande mestre Yasujiro Ozu (1903-1963), interpretado pelo ilustrador e ator Lily Franky. Homenageia, também, a trajetória do Estúdio Shochiku, de vital importância na construção dessa cinematografia muitas vezes reconhecida com a Palma de Ouro de Cannes, o Leão de Veneza e o Oscar de melhor filme internacional (sendo o mais recente atribuído a “Drive my Car”, de Ryusuke Hamaguchi).
Além de ter produzido o primeiro filme colorido do país oriental e de abrigar dezenas de grandes cineastas desde a era muda, o Shochiku foi a casa de Mizoguchi, Ozu, Naruse, Kinoshita e, claro, de Yamada, até hoje vinculado ao estúdio agora centenário. E vital para o cinema da pátria de Kurosawa, Ishikawa, Kobayashi, Shindo, Oshima, Imamura e Koreeda.
Depois da sessão de “O Deus do Cinema”, atração da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ano passado, os que permanceram dentro do Cine Sato por duas sessões seguidas irão almoçar (a região é cercada de muitos restaurantes). Quem não assistiu ao programa inaugural (“Kamen Rider Zero One” + “Black Kamel Rider”) contará com mais duas sessões (uma às 14h25 e a outra às 18h50). O Cine Sato cerrará suas portas antes das 21h.
Para quem não está familiarizado com os seriados japoneses, vale lembrar que “Kamen Rider Zero One: Real x Time”, produção de 2020, soma ação e sci-fi e dura 80 minutos. Seu diretor é Teruaki Sugihara. O programa compõe-se com “Black Kamel Rider”, de apenas 25 minutos, realizado em 1987, por Michio Konishi. Portanto, um programa para quem conheceu a série na década de 1980, na extinta TV Manchete.
A inauguração do novo espaço cinematográfico paulistano faz parte dos festejos do 115º aniversário da chegadas dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil. E devolve ao bairro da Liberdade experiência marcante das décadas de 1950 e 1960, quando a região chegou a contar com quatro cinemas (entre eles o pioneiro Niterói e o Tokyo). Destacavam-se entre seus frequentadores mais famosos os cineastas Walter Hugo Khouri (1929-2003) e Carlos Reichenbach (1945-2012) e o crítico Jairo Ferreira (1945-2003). Os anos de ouro da exibição de filmes nipônicos no Brasil gerou até um livro (“Cinema Japonês na Liberdade”, de Alexandre Kishimoto, publicado pela Editora Estação Liberdade, em 2013).
Ninguém espere do imenso Cine Sato mostras retrospectivas e perspectivas de poderosas cinematografias asiáticas (além a japonesa – a coreana, as chinesas, a indiana etc.). Nelson Sato é um empresário dedicado à distribuição de filmes e seriados contemporâneos. Sua empresa, a Sato Company, foi fundada, em 1985, como distribuidora de filmes para homevideo. Depois, com a expansão de negócios, Nelson Sato passou a atuar, também, nas áreas de cinema, televisão, OTT (Svod/TVod/Avod), licenciamento de produtos e produção de conteúdos (filmes, séries e outros formatos). A Sato ganhou destaque como distribuidora pioneira e de referência em animes e tokusatsu (filmes de efeitos especiais). Em sua carteira de produtos estão o longa-metragem “Akira” (Katsuhiro Otomo,1988), “Ghost in the Shell”, “National Kid”, “Ultraman”, “Jaspion” e “Jiraiya”.
A empresa tornou-se, ainda, a primeira agregadora de conteúdo da Netflix na América Latina (desde 2011).
Já o Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), que abriga o novíssimo Cine Sato, foi fundado em 17 de dezembro de 1955 com a missão de promover “o estreitamento das relações entre Brasil e Japão”, além de assumir tarefa de grande significado para a comunidade nipo-brasileira: organizar, em 1958, as comemorações do cinquentenário da imigração japonesa no Brasil.
O Cine Sato, se bem-sucedido em seu intento, poderá desempenhar, no futuro, dupla (ou tripla) função. Quem sabe tornar-se palco de abertura festiva da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, quando um filme japonês (ou asiático) for escolhido como convidado especial da grande maratona da cinefilia paulistana. Ou, quem sabe, ser vitrine privilegiada de mostra de filmes brasileiros realizados por cineastas de origem asiática (caso de Tizuka Yamasaki, Olga Futema, Thais Fujinaga, Paula Kim, Marcos Yoshi, Hsu Chien), ou produções aqui realizadas, mas com temas relativos às relações com os países orientais (como, entre outros, “Corações Sujos”, de Vicente Amorim, baseado no livro de Fernando Morais, “Fortaleza Hotel”, do cearense Armando Praça, ou “Um Joquei Cearense na Coreia”, de Guto Parente e Mi-Kying Oh).
Nelson Sato poderá, em tempos vindouros, promover mostras ou festivais de Cinema Japonês (ou Coreano) em São Paulo, nos moldes dos dois festivais italianos ou do Varilux de Cinema Francês. Estando a sala equipada com o que há de melhor, poderá também promover retrospectivas de diretores da grandeza de Mizoguchi, Yasujiro Ozu e Akira Kurosawa. Afinal, desde o triunfo de “Rashomon”, no Festival de Veneza, em 1950, que a paixão pelo cinema do país oriental espalhou-se pelo planeta.
O triunfo recente de “Parasita”, de Bong Joon-ho, no Oscar de melhor filme (e melhor filme internacional) e de “Drive my Car” constituem exemplos substantivos da grandeza do cinema feito na Coreia do Sul e no Japão.
Enquanto isto, resta torcer para que o paulistano e os turistas que visitam a Liberdade descubram e transformem o Cine Sato num sucesso popular.
Confiram a descrição que o distribuidor (e agora programador) Nelson Sato faz da parte técnica do novo templo do cinema asiático no Brasil: “contamos com equipamentos modernos, como o projetor DCP canadense Christie (utilizado em mais de 50% dos cinemas nos EUA), som Dolby 5.1 e uma das maiores telas motorizadas do país”.
Por “tela motorizada” entenda-se aquela que sobe e desce, ou seja, é montada e desmontada, depois de usada, dando ao espaço a condição de multiuso. Isto torna-se obrigatório, porque o prédio é tombado, não podendo, portanto, sofrer alterações arquitetônicas.
PROGRAMAÇÃO
Domingo (16 de julho)
10h00 – “Kamen Rider Zero One” + Episódio 51 (bônus) – Duração: 105min
12h05 – “O Deus do Cinema” (duração: 125min)
14h25 – “Kamen Rider Zero One” + Episódio 51 (bônus) – Duração: 105min
16h30 – “O Deus do Cinema” (duração: 125min)
18h50 – “Kamen Rider Zero One” + Episódio 51 (bônus) – Duração: 105min
Domingo (23 de julho)
10h0 – “Human Lost” (110min)
12h10 – “The Promised Neverland” (118min)
14h30 – “Human Lost” (110min)
16h30 – “The Promised Neverland” (118min)
18h45 – “Human Lost” (110min)
Domingo (30 de julho)
10h00 – “Kamen Rider Zero One” + Episódio 51 (bônus) – Duração: 105min
12h05 – “Human Lost” (110min)
14h15 – “Kamen Rider Zero One” + Episódio 51 (bônus) – Duração: 105min
16h20 – “Human Lost” (110min)
18h30 – “Kamen Rider Zero One” + Episódio 51 (bônus) – Duração: 105min
FICHAS TÉCNICAS
O Deus do Cinema
Japão, 2021, Ficção, Drama, 125 min.
Direção: Yôji Yamada
Roteiro: Yûzô Asahara, Maha Harada e Yôji Yamada
Legendas em português
Elenco: Kenji Sawada, Masaki Suda, Mei Nagano, Nobuko Miyamoto, Keiko Kitagawa
Sinopse: Um homem, que adora cinema, trabalha em um estúdio cinematográfico em busca da realização de seus sonhos, rodeado de grandes diretores e atores famosos. Ele e seu amigo, na juventude, apaixonaram-se pela mesma moça.
https://sato.tv.br/movie/deus-
Kamen Rider Zero One Real x Time
Japão, 2020, Ação, Sci-Fi, 80 min.
Direção: Teruaki Sugihara
Roteiro: Yuya Takahashi
Versão – Português (dublado)
Sinopse: Um misterioso homem chamado Es surge acompanhado de milhares de devotos que creem em sua mensagem. Eles causam ataques terroristas de larga escala, assolando o mundo todo de forma simultânea. Aruto Hiden se levanta contra Es. Isamu Fuwa, Yua Yaiba, Gai Amatsu, assim como os integrantes da “MetsuBouJinRai”, também vão à luta contra Es, descobrindo a verdade dos fatos pouco a pouco.
https://sato.tv.br/movie/
Black Kamel Rider – como bônus
Japão, 1987, episódio número 51, 25min
Versão dublada
Direção: Michio Konishi
Roteiro: Shozo Uehara, Noboru Sugimura
Sinopse: Nascido durante um eclipse solar, Issamu Minami e seu irmão adotivo Nobuhiko Akizuki são sequestrados pela seita maligna Gorgom para serem transformados em Imperadores Seculares de Gorgom.
Curiosidades: Black Kamen Rider é uma série clássica de tokusatsu, que conta com 51 episódios. Ela foi lançada originalmente em outubro de 1987 no Japão e exibida pela extinta Rede Manchete a partir de 1991. Atualmente, a série conta com uma nova abertura em português. A canção original era interpretada por Tetsuo Kurata, que também protagonizava os episódios. Agora, a versão brasileira da música é interpretada por Ricardo Cruz, que compôs a nova abertura de “One Punch Man”.
https://sato.tv.br/movie/
Human Lost
Japão, 2019, Ação, animação, sci-fi, Drama 110 min.
Direção: Fuminori Kizaki
Roteiro: Osamu Dazai, Tow Ubukata
Legendas em português
Sinopse: O ano é 2036. Uma revolução no tratamento médico venceu a morte por meio de nanomáquinas internas e do “Sistema Shell”, acessível somente para os mais ricos. Yozo Oba não é o mais rico. Incomodado por sonhos estranhos, ele une-se a um grupo de motociclistas do seu amigo numa infeliz ida a “The Inside”, onde a elite da sociedade vive. Isso instiga uma jornada de descobertas aterrorizantes que mudaram a vida de Yozo para sempre.
https://sato.tv.br/movie/
The Promised Neverland
Japão, 2020, ação, aventura, arama, 118 min.
Direção: Yuichiro Hirakawa
Roteiro: Kaiu Shirai (manga), Posuka Demizu (manga), Noriko Goto
Legendas em Português
Sinopse: Várias crianças japonesas, todas com nome ocidentais, estão sendo bem alimentadas, cuidadas e mimadas em orfanato muito meticuloso e administrado. As instalações e os terrenos são impressionantes, mas a parede que funciona como uma barreira é alta. Há um segredo para o local e uma vez que é revelado a vários órfãos, eles estão desesperados para deixar o local.
Baseado na série de mangá “Yakusoku no Neverland” escrita por Kaiu Shirai e ilustrada por Posuka Demizu.
https://sato.tv.br/movie/