Primeiro longa da diretora goiana Larissa Fernandes, é filmado na região da comunidade Kalunga Vão de Almas
Foto © Esther Alves
Pela primeira vez, uma grande produção cinematográfica é rodada no coração da comunidade Kalunga Vão de Almas, patrimônio cultural e sítio histórico localizado em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O longa-metragem “Solina”, dirigido pela cineasta goiana Larissa Fernandes e produzido por Lidiana Reis, da Sol a Pino Filmes, iniciou suas gravações, reunindo uma equipe de cerca de 60 pessoas em um acampamento montado especialmente para a realização do projeto.
A vila onde os moradores locais celebram suas principais festividades, como a festa de Nossa Senhora da Abadia, se transforma agora no centro de um enredo que combina realismo fantástico, ancestralidade e protagonismo negro. Moradores da comunidade participam como parceiros e até atores coadjuvantes, como a Dona Dinda dos Santos Rosa, estreitando os laços entre a equipe e a população local. Essa convivência diária reafirma o compromisso com um cinema que escuta, compartilha e aprende com os territórios onde atua.
“Solina” é o primeiro longa-metragem de Larissa Fernandes, que assina o projeto após uma trajetória marcada por curtas premiados e experiência como diretora de telenovelas na TV Globo. O roteiro, desenvolvido ao longo de quase dez anos, já passou por importantes laboratórios e mercados audiovisuais, como o Brasil CineMundi, o BrLab e o Diáspora Conecta.
A trama, com estreia prevista para 2026, acompanha a heroína Flor (interpretada por Duda Santos), jovem que tem uma conexão forte com a natureza e sabe manusear ervas medicinais. Ela vive em um vilarejo isolado repleto de tradições ancestrais. Em um cenário cinematográfico ainda carente de heroínas negras, “Solina” apresenta uma protagonista corajosa, que questiona o mundo ao seu redor e escolhe transformar sua realidade.
Ao revisitar paisagens e modos de vida que marcaram sua formação, a diretora constrói um filme que propõe novas representações para a mulher negra no cinema brasileiro. Ao lado de Duda, estão também no elenco Christian Malheiros (Vicente), Guilherme Silva (Jorge), Teka Romualdo (Dona Inácia), e os goianos Otto Caetano (Antonio), Renata Caetano (Dirani) e Matheus Lemos (Zinho).
A escolha de filmar no Vão de Almas, além de inédita, carrega um valor simbólico profundo. Fundada por descendentes de pessoas escravizadas que buscaram refúgio no Cerrado, a comunidade Kalunga preserva saberes ancestrais, práticas sustentáveis e uma história de resistência. Foi a partir desse território que Larissa Fernandes teceu a trama de “Solina”, inspirando-se em paisagens, modos de vida e memórias afetivas.
Solina é uma comunidade isolada do mundo, protegida há gerações por uma força ancestral liderada por Pai Acácio. Quando o patriarca morre, o tempo literalmente para: não anoitece, não chove, e a natureza começa a definhar. Jorge, o sucessor escolhido, fracassa em restaurar a ordem. Flor, sua filha, é uma jovem determinada a romper com o destino imposto. Quando tenta fugir do vilarejo, descobre que Solina está cercada por uma misteriosa nuvem de poeira. A chegada inesperada de João, um forasteiro que surge sem saber como, reacende em Flor a esperança de mudança — mas a crise se agrava. Enquanto a comunidade mergulha no caos, Flor compreende que seu seu destino não é fugir, mas reconstruir. Ao confrontar o passado, ela assume o poder da sua ancestralidade, e transforma Solina, inaugurando um novo momento na comunidade.

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