Academia de Cinema reafirma sigilo do Prêmio Grande Otelo e promete estudar solução para a categoria “melhor comédia”
Por Maria do Rosário Caetano
A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais, responsável pela distribuição dos Prêmios Grande Otelo, encaminhou à Revista de CINEMA, através de seu vice-presidente, Paulo Mendonça, esclarecimentos sobre afirmações contidas em meu balanço da vigésima-quarta “Noite dos Otelos”, realizada na última quarta-feira, 30 de julho.
Seguem, abaixo, as ponderação de Paulo Mendonça, ex-diretor do Canal Brasil, compositor (de “Sangue Latino”, parceria com João Ricardo) e argumentista de “Prá Frente, Brasil”. Ele ocupa, também, a vice-presidência da Fiacine (Federação das Academias de Cinema Ibero-Americanas).
Depois das ponderações de Mendonça, seguem as ponderações dessa repórter. O Prêmio Grande Otelo é destinado, anualmente, aos “melhores filmes e séries brasileiros”. Como o Oscar de Hollywood, o Goya espanhol, o Bafta britânico, o César francês e o Donatello italiano, a Academia Brasileira premia os destaques lançados no ano anterior. Não filmes inéditos no circuito comercial. Estes são avaliados em festivais e mostras (nessa categoria, o Brasil conta com quase 400 eventos).
Com a palavra, Paulo Mendonça:
1. Sobre o sigilo da lista de premiados – “Renata Almeida, presidente da Academia, não faltou com a verdade quando disse, em seu discurso, que ninguém sabia previamente dos premiados. Não se sabe mesmo, exceto a PwC, que faz, através do seu sistema, a apuração dos votos, assim garantindo a lisura e o sigilo dos resultados. O fato de existirem discursos pré-preparados talvez se deva à expectativa que cada um dos concorrentes possa ter de ser premiado. Uma questão de gestão de possibilidades”.
2. Melhor documentário – “O filme ‘3 Obás de Xangô’ (foto) ganhou o Grande Otelo de melhor documentário pelo voto dos acadêmicos, não do Júri Popular.
3. Disponibilização dos filmes em mostras – “Todos os longas indicados, além daqueles que foram inscritos por seus produtores como comédias, são disponibilizados gratuitamente para exibição em salas, centros universitários e cineclubes, em diversas cidades de diferentes estados. O voto popular se origina dessas exibições e por aplicativo disponibilizado nas redes pela Academia com o estrito controle de voto por CPF com intuito de se evitar a possibilidade de votos repetidos ou robôs. O documentário ‘3 Obás de Xangô’ teve uma semana de exibição numa sala, com o borderô enviado à Academia, conforme previsto no Regulamento. Aliás, semelhante aos procedimentos do Oscar”.
4. Melhor comédia – “A questão da comédia/voto popular é assunto a ser devidamente apreciado para o próximo ano. Temos, a cada premiação, que lidar com a realidade de um grande número de premiações. Quando o produtor inscreve seu filme, ele informa que se trata, também, de uma comédia. Por isso, na votação de primeiro turno, sua produção se habilita a concorrer em duas categorias: a de filme geral e em comédia. As cinco comédias serão levadas ao voto popular. E poderão concorrer entre os cinco filmes submetidos ao segundo turno de votação para melhor longa-metragem de ficção”.
Ponderações dessa repórter:
1. No texto-balanço da cerimônia de premiação publicado na Revista de CINEMA, em 31/07/2025 (“‘Noite dos Otelos’ consagra ‘Ainda Estou Aqui’ com treze Troféus, ‘Malu’ com três e ‘Senna’ é eleita a melhor série”), duvidei da afirmação da presidente da Academia Brasileira de Cinema, Renata Almeida Magalhães, de que ninguém, nem ela, conhecia, previamente, os resultados. Tal dedução veio dos discursos de agradecimento feitos por representes dos premiados ausentes à cerimônia, realizada na Cidade das Artes Bibi Ferreira. De duas uma: ou o resultado dos votos do colegiado (de 361 integrantes) tornou-se muito previsível, ou a certeza da chuva de prêmios que banharia “Ainda Estou Aqui” estava solidamente cristalizada.
2. Continuo questionando a participação de “3 Obás de Xangô”, de Sérgio Machado, na competição desse ano. O filme, alto astral e motivo de verdadeiras celebrações em suas exibições em festivais, frequentou a “Lista de Lançamentos do Boletim Filme B”, editado por Paulo Sérgio Almeida, ao longo de todo o primeiro semestre. E sofreu sucessivos adiamentos. Sergio Machado, em seu agradecimento pela láurea recebida, lamentou a dificuldade de conseguir distribuidor para seu filme, que celebra a amizade de Jorge Amado, Caymmi e Carybé. O Boletim Filme B dessa semana (edição número 1445) anuncia o lançamento de “3 Obás” para o dia 4 de setembro). O regulamento da Academia deve ser mais preciso. Ou seja, aceitar filmes que tenham sido lançados, para valer, no prazo alcançado pelo Prêmio Grande Otelo.
3. A categoria melhor comédia, com julgamento apenas do Júri Popular, necessita, realmente, de reavaliação. Se todos os longas-metragens selecionados para diversas categorias figuram na lista de possível escolha dos votantes digitais, o “destaque” dado às produções que investem no humor perde sua razão de ser. A imprensa recebeu a tabela com todos os indicados (em 30 categorias) ao Otelo 2025. Uma delas era “Melhor Comédia”. Prêmio que não foi entregue. Por que, então, foi anunciado?
4. Ao deduzir que o “Otelo” de melhor documentário tinha sido atribuído pelo público, errei. Ao consultar a tabela ilustrada com os filmes, no site da Academia, nessa exata categoria, vi ao lado: “Votação Popular”. Falha que faço questão de assumir.
5. Por fim, registro aqui, o empenho da Academia em dialogar com suas congêneres ibero-americanas, já que sou defensora juramentada de nossa aproximação com as cinematografias hispano-hablantes. Por isso, solicitei a Paulo Mendonça, representante brasileiro na Federação de Academias de Cinema da Ibero-América, a lista de parceiras responsáveis pela indicação de filmes para a categoria Melhor filme ibero-americano.
Seguem algumas delas (são 14, no total, com o nome do respectivo prêmio): Argentina (Sur), Portugal (Prêmio Sophia), Colômbia (Macondo), Equador (Colibri), Venezuela (Soto), Uruguai (Iris), Panamá (Icaro), Peru (Leonardo da Vinci), República Dominica (La Silla), Paraguai (Prêmio Nacional), Espanha (Goya).
Registre-se aqui que “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, acaba de ganhar o Prêmio Sur.
