Festival de Cinema de Vitória homenageia Gilberto Gil

Por Maria do Rosário Caetano

O Festival de Cinema de Vitória realiza sua vigésima-sétima edição no espaço virtual. Dessa terça-feira, 24 de novembro, até dia 29, haverá homenagem a Gilberto Gil, mostras competitivas e informativas, debates, palestras e oficinas, com acesso livre e gratuito. Basta cadastrar-se na plataforma InnSaei.TV e no Canal (no YouTube) do festival capixaba.

Gilberto Gil, além de ser lembrado por sua passagem pelo Ministério da Cultura, responsável por substantivo apoio ao audiovisual e à Cinemateca Brasileira, será festejado por sua imensa folha de serviços prestados ao nosso cinema. Ele compôs trilhas sonoras para dezenas de filmes (a mais famosa, que estourou nas rádios, foi a de “Eu Tu Eles”, ficção de Andrucha Waddington) e participou como tema central (ou saborosos depoimentos) de muitos documentários. Os mais famosos são “Doces Bárbaros” (Jom Tob Azulay/1976), “Tempo Rei” (1996), “Pierre Fatumbi Verger: Mensageiro de Dois Mundos” (2000), “Viva São João” (2002), todos da Conspiração Filmes e geralmente comandados por Andrucha Waddington e/ou Lula Buarque, fãs e amigos do artista baiano. O mais recente dos documentários gilbertiano é “Refavela 40”, de Mini Kerti (2019).

Em “Doces Bárbaros”, Gil rouba, involuntariamente, a cena por razão inusitada. Foi preso em Florianópolis, capital catarinense, por porte de maconha (para consumo pessoal). As autoridades judiciais exigiram que ele fosse compulsoriamente internado numa clínica de reabilitação. Fato que interrompeu e atrasou a turnê nacional dos quatro bárbaros.

Gilberto Gil foi até “ator” em alguns filmes, caso de “O Mandarim” (Júlio Bressane/1995), no qual interpretou o sambista Sinhô e contracenou com Noel Rosa (Chico Buarque), Tom Jobim (Edu Lobo), Carmen Miranda (Gal Costa), Raphael Rabello (Villa-Lobos) e Caetano Veloso (ele mesmo). O filme, inventiva cinebiografia de Mário Reis ( 1907-1981), é um canto de amor à primeira era de ouro de nossa música popular. Ídolos do passado são revividos por astros da segunda era de ouro de nossa MPB.

Ano passado, o Festival de Vitória homenageou Vera Fischer, que passou pela capital capixaba em alto estilo, derramando elegância e beleza madura, mas sem esconder a língua afiada (cutucou Xuxa Meneghell, que “comprara” a interdição de “Amor Estranho Amor”, filme de Walter Hugo Khouri, protagonizado por ela, Vera). Os badalados encontros com a estrela catarinense aconteceram ao vivo e a cores. As homenagens a Gil serão virtuais, como o festival. Mas tudo será feito dentro da tradição: foi editado o tradicional “Caderno do Homenageado”, publicação exclusiva e fartamente ilustrada com texto assinado pelo jornalista Jace Theodoro, com supervisão editorial de Lucia Caus, diretora do Festival. E Gil receberá, de presente, escultura criada especialmente para ele pelo artista José Carlos Vilar, e uma joia, também exclusiva, de Carla Buaiz. E, claro, o Troféu Vitória.

O criador de “Aquele Abraço” será o homenageado nacional da festa vitoriense. Já o outro homenageado, escolhido entre gente do audiovisual capixaba, será o cineclubista Claudino de Jesus. Além de cultor apaixonado dos clubes de cinema, o médico Claudino é produtor, ator, técnico e diretor nos campos do Audiovisual e da Artes Cênicas. E, também, ambientalista e professor universitário. Mas foi a exibição cinematográfica alternativa que lhe valeu notoriedade. Ele participou ativamente da retomada do movimento cineclubista no início dos anos 2000 (Era Gil-Juca Ferreira-Orlando Senna) e foi eleito para a presidência do Conselho Nacional de Cineclubes (de 2004 a 2010). Depois, chegou à presidência da Federação Internacional de Cineclubes (FICC), cargo exercido por quase dez anos (2010 a 2019). Ele assegura que todos esses ofícios unem-se por argamassa muito especial: “o engajamento em causas coletivas, guiado pela defesa da democracia e da diversidade”.

Como Gil, Claudino de Jesus ganhará um “Caderno do Homenageado”, assinado pelo jornalista Paulo Gois Bastos, escultura criada por José Carlos Vilar e joia exclusiva de Carla Buaiz, além do Troféu Vitória.

O Festival de Vitória, o mais ferrenho defensor da diversidade no audiovisual e na sociedade brasileiros, escolhe, a cada ano, um lema. O desse ano de 2020 – marcado pela pandemia e desmonte, em nível federal, do setor da Cultura – é “Sonhar Colorido Faz Bem”. Lucia Caus gosta de reafirmar, com toda clareza, que “a seleção dos filmes é feita, sempre, com olhar apurado para a representatividade”, pois “nosso festival constitui-se como espaço para a diversidade de narrativas, para os mais diversos gêneros (cinematográficos e “de gênero” mesmo, com todas as cores do arco-íris), além de representatividade geográfica de todas as regiões do Brasil”.

Até o próximo domingo, dia 29, serão exibidos 101 filmes de curta e longa-metragem, divididos em 13 mostras. Doze delas são competitivas e uma informativa. Inscreveram-se em busca de vaga em uma das múltiplas mostras 1.047 filmes. Isso mesmo, mais de mil títulos. A mostra principal, a de longas-metragens, vencida ano passado por “Pacarrete”, de Allan Deberton, e por sua protagonista, Marcélia Cartaxo (melhor atriz), reúne, esse ano, seis longas. Nenhum 100% inédito, mas todos em sintonia finíssima com a “diversidade”. Ou seja, com mulheres na direção, com cineastas indígenas, com temática LGTBQ+ etc. Sobra, porém, espaço para um nome no masculino, o de Renato Barbieri, com o brasiliense “Pureza”, protagonizado por Dira Paes.

Os outros cinco concorrentes são o desafiador “Para Onde Voam as Feiticeiras”, de São Paulo, das irmãs Eliane e Carla Caffé, em trio com Beto Amaral; o mineiro “Yãmĩyhex: as Mulheres-Espírito”de Sueli Maxakali e Isael Maxakali; o ótimo “Chico Rei Entre Nós”, da paulistana Joyce Prado, filmado majoritariamente em Ouro Preto; “Um Dia com Jerusa”protagonizado por Léa Garcia e dirigido pela estreante Viviane Ferreira, e “O Livro dos Prazeres”, protagonizado por Simone Spoladore e dirigido pela também estreante Marcela Lordy. São, portanto, três documentários (com sua hibridizações) e três ficções, todas com protagonistas femininas.

Na competição de curtas nacionais (com vinte títulos) há produções que chegam recomendadíssimas de outros festivais, caso do impactante “A Morte Branca do Feiticeiro Negro”, do catarinense Rodrigo Ribeiro, dos ótimos “4 Bilhões de Infinitos”, do mineiro Marco Antônio Pereira, e “Inabitável”, dos pernambucanos Matheus Farias e Enock Carvalho (este, com uma atriz luminosa, a baiana Luciana Souza, do Bando de Teatro Olodum). E de “Perifericu”, de quarteto paulistano (Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira), que vai bem além de seu título provocador. Um filme de muitas qualidades.

O longa-metragem “O Cemitério das Almas Perdidas”, de Rodrigo Aragão, prata-da-casa e cultor apaixonado do gênero terror, será exibido em sessão especial e hors concours.

27º Festival de Cinema de Vitória
Data:
 24 e 29 de novembro
Em formato online (Acesso pela plataforma InnSaei.TV e no Canal de YouTube do Festival)
Todas as atividades (filmes, debates, homenagens etc.) são gratuitas. As sessões começarão sempre às 19h e ficarão disponíveis por 24 horas. Para acessar o site, o espectador precisa realizar um cadastro gratuito e conferir os filmes selecionados através de diversas telas, como celular, computador, tablet e smart TV.

Competitiva Nacional de Curtas

. 4 Bilhões de Infinitos – Marco A. Pereira (FIC, MG, 15′)
. Inabitável – Matheus Farias e Enock Carvalho (FIC, PE, 20′)
. Inabitáveis – Anderson Bardot (FIC, ES, 25′)
. A Morte Branca do Feiticeiro Negro – Rodrigo Ribeiro (DOC, SC, 10′)
. Perifericu – Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira (FIC, SP, 20′)
. Baile – Cíntia Domit Bittar (FIC, SC, 18′)
. Ser Feliz no Vão – Lucas H. Rossi (DOC, RJ, 12′)
. 90 Rounds – Juane Vaillant e João Oliveira (DOC, ES, 20′)
. Parte do que Parte Fica – Camilla Shinoda (FIC, DF, 20′)
. Manaus Hot City – Rafael Ramos (FIC, AM, 13′)
. O Tempo e a Falta – Claudiana Braga (DOC, ES, 17′)
. Quinze – Isis Caroline (FIC, SP, 18′)
. Ilhas de Calor – Ulisses Arthur (FIC, AL, 20′)
. Para Todas as Moças – Castiel Brasileiro (DOC, ES, 2′)
. Jorge – Jéferson Vasconcelos (FIC, RJ, 19′)
. O Conforto das Ruínas – Gabriela Lourenzato (FIC, SP, 18′)
. Como Ficamos da Mesma Altura – Laís Araújo (FIC, AL, 17′)
. Egum – Yuri Costa (FIC, RJ, 23′)
. Thinya – Lia Letícia (FIC, PE, 15′)
. O Verbo se Fez Carne – Ziel Karapotó (EXP, PE, 7′)

Mostra “Quatro Estações”

Babi & Elvis, de Mariana Borges (DOC, MG, 18′)
. Agachem, Segurem, Formem, Arrasem – de Caio Baú (DOC, SP, 10′)
. Bonde – Asaph Luccas (FIC, SP, 18′)
. Convictas – Kamila Barbosa Ferreira (DOC, ES, 17’)

Mostra Foco Capixaba

Redundância – Wayner Tristão (EXP, ES, 6′)
. O Trauma é Trasileiro – Castiel Brasileiro e Roger Ghil (DOC, ES, 14′)
. Na Terra dos Papagaios – Adriana Jacobsen (EXP, ES, 2’)
. Amargo Rio Doce – Ricardo Sá (DOC, ES, 20′)
. Zacimba Gaba – Um Raio na Escuridão – Tati Rabelo e Rodrigo Linhales (DOC, ES, 15′)

Mostra Corsária

. Cultural – Armando Lima (EXP, SP, 6′)
.Temporal – Maíra Campos e Michel Ramos (FIC, MG, 8′)
. O Prazer de Matar Insetos – Leonardo Martinelli (FIC, RJ, 10′)
. Pátria – Lívia Costa e Sunny Maia (DOC, CE, 8’)
. Naquela Época Devoraram Meus Olhos – Cleissa Regina Martins (EXP, BR/CAN, 4’)
. 3 Gotas – Luiz Will Gama (EXP, ES, 9’)
. O Jardim Fantástico – Fábio Baldo e Tico Dias (FIC, SP, 20′)

Mostra Outros Olhares

. O que Pode um Corpo? – Victor Di Marco e Márcio Picoli (DOC, RS, 14′)
. Rebento – Vinicius Eliziario (FIC, BA, 18′)
. Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé – Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra (DOC, RJ, 14’)
. Carta para Dona Quarentena – Letícia Braga (EXP, ES, 3’)
. Estamos Todos na Sarjeta, mas Alguns de Nós Olham as Estrelas – João M. de Almeida e Sergio Silva (FIC, SP, 20′)

Mostra Mulheres no Cinema

Seremos Ouvidas, de Larissa Nepomuceno (DOC, PR, 13’)
. Ângela, de Marília Nogueira (FIC, MG, 15’)
. Esmalte Vermelho Sangue, de Gabriela Altaf (DOC, RJ, 13’)
. Minha História É Outra, de Mariana Campos (DOC, RJ, 22’)

Mostra Cinema e Negritude

. Cão Maior, de Filipe Alves (FIC, DF, 20’)
. Terceiro Andar, de Deuilton B. Júnior (FIC, PE, 9’)
. Lembrar Daquilo Que Esqueci, de Castiel Brasileiro (DOC, ES, 20’)
. Alfazema, de Sabrina Fidalgo (FIC, 24′, RJ)

Mostra Nacional de Videoclipes

. Blá Blá Blá, de Júnior Batista. Artista: MORENNA
. KILLA, de Jessica Lauane. Artista: Enme
. Primeiro (Remix), de Raphael Correa. Artista: Antoni e Gustavo Rosseb
. Livre pra Viver, de Danilo Laslo. Artista: Douglas Lopes
. Gigantesca, de Letícia Pires. Artista: Mariana Volker
. Pila Pilão, de Giuliana Danza. Artista: Serelepe
. Dark Cloud, de MAGU (Marina Abranches e Gustavo Martins). Artista: Dan Abranches
. Fantasmas Talvez, de Diego Locatelli e Felipe Amarelo. Artista: André Prando
. Ave de Nós, de Roberto Mamfrim. Artista: Kanduras
. Roma, de Francisco Xavier. Artista: Cinco Nós
. Diferenciado, de Amon e Jeffão. Artista: PTK
. Náufrago, de Consuelo Cruz e Pedro H. França. Artista: Majur
. O Clã, de Raymundo Calumby. Artista: isis Broken
. Texas, de Felipe Soares. Artista: Kira Aderne e Tárcio Luna
. Cidadão de Bem, de Cainã Morellato. Artista: Cainã e a Vizinhança do Espelho
. Sinal Fechado, de Lucas Sá. Artista: Getúlio Abelha

Mostra Nacional de Cinema Ambiental

. Raízes, Direção Coletiva (FIC, RJ, 5’)
. Rocha Matriz, de Miro Soares e Gabriel Menotti (DOC, ES, 25’)
. Comendo Cérebros, de Almir Correia (ANI, PR, 5’)
. Sirumi, de Thiago Camargo (FIC, GO, 19’)

Mostra Do Outro Lado (Cinema Fantástico e de Horror)

. Náusea, de Thomas Webber (FIC, PR, 13’)
. Eu estou vivo, de Maíra Campos e Michel Ramos (FIC, MG, 23’)
. Mamãe tem um demônio, de Demerson Souza (FIC, SP, 24’)
. As Viajantes, de Davi Mello (FIC, SP, 11’)

Fora de Competição

Mostra de Cinema de Bordas

Comando Central, Antônio Estevão (FIC, ES, 103’)
. Nuvem Baixa, de André Okuma (FIC, SP, 15’)
. Marta Morta, de Rubens de Mello (FIC, SP, 7’)
. Os Crimes da Rua do Arvoredo, de Patty Fang (DOC, SP, 8’)

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