Herzog, o transgressor

Em recente passagem pelo Brasil, Werner Herzog mostrou que segue imantado por alma transgressora e profundamente avessa a práticas politicamente corretas. Tanto que forneceu quatro arriscados “conselhos” a futuros cineastas: 1. andar a pé por longas distâncias (ele foi de Munique a Paris para reconfortar a amiga Lotte Eisner, e de Boston à Guatemala). 2. furtar instrumentos de trabalho. 3. falsificar documentos. 4. ver muitos, milhares de filmes. Herzog sabe que hoje o acesso a câmaras de filmagem é bem mais fácil que nos tempos de sua juventude. Não esconde que abriu o cadeado de uma sala da Universidade de Munique e furtou a câmera com a qual realizou seus 11 primeiros filmes.  No terreno da falsificação de documentos, sua experiência mais ousada aconteceu na Amazônia peruana, onde filmou “Fitzcarraldo”. Ele tinha, com sua equipe, que cruzar a selva e levar um barco montanha acima. Deparou-se várias vezes com acampamentos militares cheios de “fiscais” fardados. Todos tentavam impedi-lo de trabalhar, exigindo “licenças de filmagem”. O cineasta regressou a Lima e falsificou uma série  de documentos. Forjou papéis que, em nome da Chancelaria, da Secretaria de Estado e do presidente Belaúnde Terry, o autorizavam a filmar. Copiou assinaturas dos altos mandatários com zelo e perícia e encheu os documentos de carimbos.  Se não agisse assim – acredita – teria naufragado em sua insana aventura nas selvas amazônicas. Até porque seu protagonista, Kalus Kinski, também não era chegado à disciplina e à obediência. Basta conferir o que está impresso no documentário “Meu Melhor Inimigo”, do próprio Herzog.

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