Jabor e Navarro
O “Amarcord baiano” de Edgard Navarro (“Eu Me Lembro”) e o “Amarcord carioca” de Arnaldo Jabor (“Suprema Felicidade”) apresentam inegáveis pontos em comum. Instigado a comentar semelhanças e diferenças entre os dois filmes (pelo blogueiro Antonio Nahud Júnior), Navarro usou de sua franqueza habitual e emitiu opiniões corajosas que vão resumidas aqui: “Concordo que há pontos de contato inegáveis, mas não sei se Jabor viu “Eu Me Lembro” antes de realizar seu filme. Num filme de memórias pessoais (caso de ambos) podem ocorrer inúmeras coincidências de situações pelas quais muitos de nós passamos na infância ou adolescência, com pequenas diferenças de cor local”. Outra: “Acho o filme do Jabor muito bem realizado e sincero. E, por isso, em se tratando dele, comovente. Parece-me que Jabor reservou o espaço do cinema, de onde esteve afastado por tanto tempo, para o sagrado exercício de sua verdade mais cara. Acho louvável em todos os sentidos que ele, de ordinário tão irônico e esperto (esperto aqui querendo também significar escroto – como se um movimento de genuína bondade do coração fosse coisa de otário, como se fosse imperioso “manter a sua fama de mau” – coisa de uma geração de machistas empedernidos à la Erasmo Carlos), tenha se despido e se rasgado o coração (pra citar o “Choro 10”, de Villa-Lobos, trilha sonora da cena mais tocante do filme, a meu ver), entregando-o de forma honesta, sem cinismo. Ou me engano? Porque, mesmo nos muitos momentos em que prevalece certo clima de sacanagem entre os adolescentes, o filme deixa entrever alma generosa e honesta. Em se tratando de um pavão como Jabor, vitimado pela síndrome da importância pessoal de que fala o Don Juan, de Castañeda, um surto de sinceridade não é pouca coisa e deve ser mencionado sempre que possível, seja como estímulo pra que ele deixe de cultivar essa imagem de f.d.p contumaz, mefistofélico, de homem sardônico, mal acostumado”. Quem quiser ler a íntegra das considerações de Navarro pode fazê-lo no blog www.ofalcaomaltes.blogspot.com.