As novas faces do cinema

A Revista de CINEMA selecionou 10 novos diretores de maior destaque na estreia em longa-metragem, para mostrar quem são, o que fazem, suas influências e seus projetos futuros. Uma geração pluralista e autoral. São eles, Eduardo Nunes (“Sudoeste”), Tiago Mata Machado (“Os Residentes”), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), André Ristum (“Meu País”), Vinícius Coimbra (“A Hora e a Vez de Augusto Matragra”), Helvécio Marins Jr. (“Girimunho”), Flávia Castro (“Diário de uma Busca”), Julia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Lembradas”), Marco Dutra e Juliana Rojas (“Trabalhar Cansa”) e Sérgio Borges (“O Céu sobre os Ombros”).

Acompanhe, a cada semana, cada um desses diretores.

As histórias de Julia Murat

Era mesmo uma questão de tempo, ela não tinha escapatória. Aos cinco anos, a carioca Julia Murat já andava por sets de filmagem. Ainda adolescente, fez figuração no filme “Doces Poderes” (1987), dirigido por sua mãe, Lúcia Murat (“Quase Dois Irmãos”). No início, queria ser atriz. Fez teatro. E percebeu que gostava mesmo era de ficar atrás das câmeras. Formou-se em Desenho Industrial na UFRJ, fez estágio de assistente de direção de Ruy Guerra em “Estorvo” (1998), e nunca mais deixou a sétima arte. Depois de dirigir os curtas “Ausência” (2004) e “A Velha, o Canto, as Fotos” (2001), estreou em longas ao lado de Leonardo Bittencourt em pleno É Tudo Verdade com “Dia dos Pais” (2008), uma viagem por cinco pequenas cidades da antiga região do café, no Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, em busca pela identidade de sua própria família.

O mesmo sentimento de desterro e falta de pertencimento que preenche “Dia dos Pais” também se vê presente no segundo longa de Julia, “Histórias que Só Existem Quando Lembradas” (2011). “Mas este não é o principal tema do filme, que está mais preocupado em narrar o sentimento da perda, do cansaço, ao mesmo tempo que o contrasta com a descoberta, o encontro e o conflito de gerações”, diz ela, que, além do trabalho como diretora, vem realizando uma carreira como montadora (“Olhar Estrangeiro”). “Histórias que Só Existem Quando Lembradas” é um projeto de doze anos. Julia teve a ideia de misturar uma linguagem documental com uma espécie de realismo fantástico para mostrar o conflito entre uma velha padeira do Vale do Paraíba e uma jovem fotógrafa em 1999. Começou a escrever em 2004. Ano passado, levou o filme para Veneza. Voltou para o Rio com 27 prêmios internacionais e com o filme vendido comercialmente para oito países, incluindo os EUA.

Histórias que Só Existem Quando Lembradas

Julia faz um cinema marcado por dois movimentos: isolamento e pertencimento, e faz questão de tecer uma longa linhagem de influências. “Dos artistas plásticos que me influenciaram eu citaria o Bill Viola, por sua mistura de linguagem, Anselm Kiefer e Daniel Senise, pela tentativa de materialização do “tempo”, Richard Serra e Waltercio Caldas, pelo minimalismo (mesmo em peças gigantes como é o caso de Serra). Dos dançarinos coreógrafos e performers, David Cunningham, pelo abandono da narrativa, Pina Bausch, pela delicadeza e o uso de melodrama contido, Marina Abramovic, pela exploração do corpo e de sua própria história. Dos cineastas: Claire Denis, pela delicadeza e secura que trata os filmes, Jia Zhang-ke e Koreeda, pela mistura do fantástico e do documental, Cao Guimarães, pela poesia do cotidiano”, revela.

Aos 32 anos, Julia agora anda envolvida com um projeto misto de longa-metragem, espetáculo de dança e exposição de escultura. “Chama-se ‘Pendular’. O filme narra a história de um casal (ELE é escultor, ELA é dançarina) e como eles convivem com as dificuldades de uma relação amorosa. A proposta é trabalhar nas três vertentes artísticas a ideia do equilíbrio”, explica.

 

Por Julio Bezerra

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