Dreyer, Karina, Godard
Os filmes do dinamarquês Carl Dreyer (1889-1968) continuam emocionando as pessoas, fertilizando o cinema e frequentando listas de melhores criações cinematográficas de todos os tempos. Na recente lista do BFI (Instituto Britânico de Filmes), ele comparece bem posicionado com “Martírio de Joana D’Arc” (1928), “A Palavra” (1955) e “Gertrude” (1964), o derradeiro, que está disponível em DVD no Brasil pela Magnus Opus. A atriz Anna Karina, conterrânea de Dreyer, homenageou o cineasta em “Viver a Vida” (1962). O filme, uma das mais belas e surpreendentes criações de Godard, mostra sua personagem, a jovem prostituta Nana, se debulhando em lágrimas ao ver Joana D´Arc, magistralmente interpretada por Falconetti, submetida ao rigor de seus inquisidores. Em sua passagem pelo BIF (Festival Internacional de Brasília), Karina lembrou que ela e Godard, no tempo em que foram casados, mantiveram grande proximidade com Dreyer. Sempre que o grande cineasta, que, em 79 anos de vida, só dirigiu 14 longas, ia a Paris, a atriz exercia a função de sua tradutora. Ela contou que “ele viu e gostou muito de ‘Viver a Vida’”. Mais tarde, “convidou minha mãe, que era estilista, para assinar os figurinos de Gertrude”. Anna Karina contou, também, que não contracenou com a projeção da imagem em celulóide de Falconetti. “Tudo foi feito em uma sala escura. Como eu conhecia o filme de cor, não foi difícil registrar minha dor e lágrimas ao evocar o rosto de Joana D’Arc no momento em que o Padre Massieu (Artaud) anunciava que ela seria queimada na fogueira”. Dos filmes de Dreyer, só “Joana D’Arc” teve lançamento comercial no Brasil. Graças ao DVD, hoje é possível ver boa parte de seus filmes (aos já citados, somam-se “Dias de Ira”, “Mikael”, “A Quarta Aliança da Sra. Margarida” e – sobre ele – “Carl Dreyer – Radiografia da Alma”).