Tudo igual no cabo
A nova lei do cabo vem, aos poucos, colocando filmes brasileiros na grade dos canais por assinatura. Mas eles são, ainda, tão raros na TV “fechada” quanto na aberta. O mesmo vale para filmes europeus, asiáticos ou latino-americanos. Realizadores prolíficos como Claude Chabrol, conhecido como o “Balzac cinematográfico da França”, ou o japonês Mizoguchi, também dos mais produtivos, são raríssimos nas redes abertas ou por assinatura. Quando a TV a cabo chegou ao Brasil, dizia-se que veríamos filmes do mundo inteiro, que a variedade seria total, que teríamos de Kurosawa a Gutierrez Alea, de Ozu a Glauber, de Eisenstein a Nelson Pereira, de Buñuel a Godard, de Renoir a Paul Leduc, de Welles a Scola, somados a Fellini, Antonioni, Rossellini, De Sica e Pasolini. Não foi o que se viu na prática. Cadê o cinema do mundo, seja ele da era clássica ou contemporânea? Cadê os filmes de Jacques Rivette, Jia Zhang-Ke, Jean Rouch, Pontecorvo, Kiarostami ou Edward Yang? Noventa por cento da produção exibida na TV a cabo brasileira é oriunda dos EUA. Não se pode negar que os norte-americanos têm a mais poderosa (e qualificada) indústria cinematográfica do mundo. Mas este predicado não justifica que se oferte, no cabo, o mesmo cardápio dos cinemas e da TV aberta. Até porque Japão e Itália já fizeram o melhor cinema do mundo, décadas atrás. Por isto, vale perguntar: onde estão as comédias de Dino Risi, os dramas de Mário Monicelli, os filmes agridoces de Ettore Scola, as obras-primas da trinca Mizoguchi-Ozu-Kurosawa?