II Semana de Cinema e Mercado
O segundo dia da II Semana de Cinema e Mercado, realizado em São Paulo, na Academia Internacional de Cinema – AIC, em 6 de agosto, debateu o tema Distribuição de curtas, filmes independentes e carreira em festival, com os palestrantes Silvia Cruz, fundadora e diretora da empresa de distribuição Vitrine Filmes, e Francisco César Filho, criador e organizador da Mostra do Audiovisual Paulista e diretor do Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo.
Foram discutidas as mudanças ocorridas nas salas de cinema entre os anos 70 e 80. Segundo Francisco César Filho, “até os anos 70, as pessoas consumiam filmes de maneira diferente. As salas eram enormes, ficavam nos grandes centros, lugares de grande circulação de pessoas. O ingresso era ridiculamente barato, era o lazer mais barato da época. Os filmes ficavam meses em cartaz, pois o que os vendia era a propaganda boca a boca. Dentro dessa realidade existia espaço para Truffaut, Bergman e Rossellini. O que muda no final dos anos 80? O centro das grandes cidades não é mais obrigatório, nem sequer agradável. As salas enormes deixam de fazer sentido. A classe média alta migra para os shoppings, lugar de consumo, de entretenimento, não de cultura. O preço do ingresso sobe. No espaço ocupado por apenas uma sala, constroem-se vinte. Com isso, podem-se ter sessões começando o tempo todo. As grandes produtoras começam a focar os filmes nesse público, de shopping, que consume entretenimento, espetáculo, e não arte. Por isso, os festivais se proliferaram na década de 1990. Pois já não existia espaço para filmes de arte nas salas comerciais.” Francisco ressalta ainda: “no começo dos anos 90, existiam em média 22 festivais no Brasil, hoje, são aproximadamente 250. Os festivais acabaram virando uma vitrine de exibição para o realizador e uma das poucas formas de se ver filmes fora do circuito comercial.”
Silvia trouxe todos esses exemplos para a atualidade, e ressaltou ainda mais a importância de participar de festivais. “Além de enviar filmes, o realizador precisa ir, precisa estar nos festivais. Depois que o diretor conversa com o público, a visão das pessoas sobre o filme pode mudar, e isso pode fazer toda a diferença na hora da premiação”. Silvia também contou sobre os cálculos da distribuição, como ocorrem as porcentagens de distribuição de lucro entre produtor, cinema e distribuidor e revelou curiosidades que todos queriam saber sobre seu último trabalho de grande sucesso “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho.