Crianças malcriadas
Quem diria que um curta-metragem brasileiro, “Historietas Assombradas (para Crianças Malcriadas)”, realizado em 2005, daria origem à série infantil mais vista na TV paga brasileira? Pois foi isto que aconteceu. A série cumpriu com imenso sucesso sua primeira temporada e vai, agora, partir para novos episódios. A sinopse do filme, uma animação de apenas 15 minutos, dirigido por Victor Hugo Borges, chama atenção por seu bom-humor: “três histórias que sua avó não contou, senão você faria xixi na cama”. Premiado em muitos festivais, “Historietas Assombradas” traz as vozes de Miriam Muniz (1931-2004) e de Isabela Guasco. Ter a saudosa Miriam, com seu vozeirão, dando vida a uma avó que conta histórias apavorantes às criancinhas, foi um achado. O roteiro é realmente a maior sacada deste projeto: crianças têm muito medo, mas não resistem a uma história de assombrações e monstros. O filme trabalhava com três assombrações brasileiras: o Boitatá, o Corpo Seco e o Jurupari. A série, exibida com sucesso no Cartoon Network, ampliou seu tema, metalinguisticamente, aos monstros cinematográficos, uma das forças motoras do cinema norte-americano. Há que se registrar que a animação brasileira vem ganhando fôlego cada vez mais significativo. Dois dos filmes que mais prêmios conquistaram em festivais brasileiros e no exterior são “Vida Maria”, de Márcio Ramos, e “Linear”, de Amir Admoni. E fiquemos de olho em “Luz, Anima, Ação”, coproduzido pelo Canal Brasil. Afinal, este longa-metragem (e série), dirigido por Eduardo Calvet, narra quase cem anos de história dos filmes animados brasileiros.