Mostra exibe filmografia de Humberto Mauro
Entre os dias 22 de maio e 12 de junho, a Fundação Clóvis Salgado, por meio do Cine Humberto Mauro, em Minas Gerais, celebra a obra e a memória do patrono da sala. Humberto – Mostra dedicada a Humberto Mauro – O grande pioneiro do Cinema Brasileiro reúne longas e curtas-metragens do cineasta mineiro nascido em Volta Grande e cuja trajetória passou por Cataguases e Rio de Janeiro a partir dos anos 1920. Pioneiro da linguagem cinematográfica brasileira e um dos nomes mais referenciais e estudados de nossa história, Humberto Mauro realizou seu primeiro trabalho em 1925, resultando no ainda amador Valadião, o Cratera.
Na cerimônia de abertura, que acontece no dia 23 de maio, será exibida uma leitura multimídia, que reúne imagens dos quatro primeiros filmes de Mauro – Tesouro Perdido (1927), Brasa Dormida (1928) e Sangue Mineiro (1929), além de seu primeiro filme realizado na Cinédia, Lábios sem Beijos (1930) -, com execução da trilha sonora ao vivo, feita para o cineasta por seu sobrinho neto, Gilberto Mauro, em parceria com Ricardo Garcia. Também será prestada homenagem póstuma a Zequinha Mauro, filho e grande colaborador de Humberto Mauro.
Humberto Mauro realizou 15 longas-metragens, dos quais sete foram preservados e serão apresentados na mostra. São eles: Tesouro Perdido (1927), Brasa Dormida (1928), Sangue Mineiro (1929), Lábios sem Beijos (1931), Ganga Bruta (1933), O Descobrimento do Brasil (1937) e O Canto da Saudade (1950).
Filmes nos quais Mauro trabalhou em outras funções estão incluídos na programação, casos de Como Era Gostoso o meu Francês (Nelson Pereira dos Santos, 1971) e Anchieta, José do Brasil (Paulo Cezar Saraceni, 1977), nos quais colaborou nos diálogos em tupi-guarani; A Noiva da Cidade (Alex Viany, 1978), do qual escreveu o roteiro e fez uma ponta como ator; e Memória de Helena (1969), de David Neves, em que atua como o tio da personagem-título.
Entre 1936 e 1964, Humberto Mauro trabalhou no INCE (Instituto Nacional do Cinema Educativo), órgão do governo para o qual dirigiu mais de 300 documentários em curta-metragem. A Velha a Fiar (1964) é seu trabalho mais conhecido dessa fase. Alguns destes filmes serão apresentados na mostra, divididos em seções temáticas: Ficção e docudrama, Cidades históricas, Música erudita brasileira, Grandes vultos, Capitais, Educação rural, Fauna e flora brasileira, Para crianças e Aviação.
O encerramento da mostra levará ao Grande Teatro a obra-prima de Humberto Mauro, Ganga Bruta, nos dias 10 e 11 de junho. A trilha sonora será executada ao vivo pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Na ocasião, será prestada homenagem a Cyro Siqueira, nome decisivo da crítica cinematográfica mineira e brasileira. O processo de recuperação da partitura original, feita pelo Maestro Titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Marcelo Ramos, levou 3 meses para ser concluída.
Filme de 1933, produzido para a Cinédia, Ganga Bruta aborda tema polêmico para a época: violência urbana e repressão sexual. Consta na sinopse que na noite de núpcias, homem descobre que sua mulher não era virgem e, enfurecido, a mata. Depois, enriquece e se apaixona por uma jovem inocente.
Por causa da temática, a crítica da época chegou a chamar Ganga Bruta de “o abacaxi da Cinédia”. Relegado ao esquecimento, foi recuperado em 1952 para a 1ª Retrospectiva do Cinema Brasileiro, que o consagraria como a obra-prima de Humberto Mauro. Anos depois, em sua Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, Glauber Rocha o consideraria “um dos vinte maiores filmes de todos os tempos” e atribuiria a Humberto Mauro o título de “pai do cinema brasileiro”.
Seguindo o conceito das grandes retrospectivas do Cine Humberto Mauro, em que se conjuga a exibição de filmes com atividades de reflexão e formação de público, será possível discutir o papel decisivo de Humberto Mauro na história do cinema brasileiro, além de reavivar a obra mauriana em toda sua variedade e potência, colocando-a em cotejo com as questões e impasses do presente. Haverá palestras com a pesquisadora Sheila Schvarzman, autora do livro Humberto Mauro e as Imagens do Brasil, e com o poeta e escritor Ronaldo Werneck, que foi amigo pessoal do cineasta e escreveu vários artigos, livros e relatos sobre ele.
Outros estudiosos e conhecedores da trajetória do mineiro participarão de debates e sessões comentadas, entre eles os críticos Inácio Araujo e Ewerton Belico, os pesquisadores Hernani Heffner, Paulo Augusto Gomes, Luís Alberto Rocha Melo e Ataídes Braga, a produtora Alice Gonzaga e o cineasta Geraldo Veloso. Todos os longas exibidos terão pelo menos uma sessão comentada. Nos dias 5, 6 e 7 de junho, um curso com o professor e pesquisador Eduardo Morettin, autor do livro Humberto Mauro, Cinema, História, permitirá ao público interessado mergulhar ainda mais no universo do diretor.