Pablo Trapero é homenageado no Festival Latino-Americano de São Paulo
A 9ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que acontecerá de 24 a 30 de julho, prestará homenagens, acompanhadas de retrospectivas de filmes, ao cineasta e produtor Pablo Trapero, à atriz e produtora Martina Gusmán – ambos argentinos e de carreiras premiadas internacionalmente –, ao cineasta Silvio Tendler, diretor dos documentários de maior bilheteria do cinema brasileiro, e à atriz e produtora Leandra Leal.
O diretor, produtor, roteirista e montador Pablo Trapero é um dos nomes centrais da chamada nova onda argentina que encantou o circuito internacional de cinema a partir da segunda metade dos anos 1990. Um dos autores mais sólidos e originais do atual cinema latino-americano, responsável por um cinema narrativo de qualidade, terá na programação títulos como “O Outro Lado da Lei” (2002), “Família Rodante” (2004, coproduzido com o Brasil), “Leonera” (2008), “Abutres” (2010) e “Elefante Branco” (2012).
Em 2014, Trapero ocupou a presidência do júri da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes. O prestígio internacional do diretor está refletido na circulação prestigiosa de suas obras. “O Outro Lado da Lei” foi vencedor do prêmio da crítica internacional no Festival de Chicago e da crítica ibero-americana no Festival de Guadalajara. “Família Rodante” foi selecionado para os festivais de Toronto e Nova York. Em 2008, “Leonera”, exibido em competição no Festival de Cannes, revelou ao mundo o talento excepcional da sua intérprete principal, Martina Gusmán. Seu trabalho no filme impressionou por suas transformações físicas ao longo da narrativa e o desenvolvimento que imprimiu à sua personagem, transformando-a na revelação do cinema latino-americano daquele ano.
Martina é igualmente homenageada este ano o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. Desde 2000, é casada com Trapero e sua sócia na Matanza Cine, uma empresa independente que produz jovens autores argentinos, como Raúl Perrone (“La Mecha”, 2003), Albertina Carri (“Geminis”, 2005, e “A Raiva”, 2008) e Guillermo Pfening (“Caíto”, 2012). Em 2011, integrou o júri da competição oficial do Festival de Cannes, ao lado de nomes como Robert De Niro, Jude Law, Uma Thurman e Olivier Assayas. Ela é protagonista de “Abutres” e “Elefante Branco”, além de estar na produção de “O Outro Lado da Lei” e “Família Rodante”.
O festival prestará também homenagem a Silvio Tendler, conhecido como “o cineasta dos vencidos” por abordar em seus filmes personalidades como os ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek. Silvio Tendler já realizou mais de 30 filmes, com temas sobre a memória brasileira, refletindo os rumos do Brasil, da América Latina e do mundo em desenvolvimento. É membro fundador da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano e do Comitê de Cineastas da América Latina. Responde por algumas das maiores bilheterias do cinema documental brasileiro, como “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980) e “Jango”(1984) – o primeiro, visto por 800 mil espectadores, o último, por mais de um milhão de pessoas. Os dois longas-metragens estão programados na homenagem, assim como suas produções mais recentes: “Marighella – Retrato Falado do Guerrilheiro” (2001), “Glauber o Filme, Labirinto do Brasil” (2003, exibido no Festival de Cannes), “Utopia e Barbárie” (2005) “Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto do Lado de Cá” (2006, prêmio do público no Festival de Brasília), “Há Muitas Noites na Noite – Poema Sujo Ferreira Gullar” (2010) e “O Veneno Está na Mesa” (2011).
A última homenagem do evento é para a neta do produtor cultural Américo Leal e filha da atriz Ângela Leal, a carioca Leandra Leal, que iniciou carreira como atriz no teatro aos sete anos de idade e na televisão um ano mais tarde. Foi revelada no cinema aos 13 anos por Walter Lima Jr. em “A Ostra e O Vento” (1997), longa pelo qual foi premiada nacional e internacionalmente e incluído na homenagem do festival. Também estarão presentes dois importantes marcos de sua carreira cinematográfica: “Nome Próprio” (2007), que o diretor Murilo Salles adaptou do livro “Máquina de Pinball, de Clara Averbuck e pelo qual a atriz foi premiada no Festival de Gramado, e “O Lobo Atrás da Porta” (2013), de Fernando Coimbra, filme vencedor do Festival do Rio e premiado nos Estados Unidos, Cuba e Espanha. Recentemente, Leandra Leal passou a atuar na produção de filmes, tendo realizado com jovens diretores títulos de rápida filmagem e contando com mesma equipe e elenco (com a própria Leandra e Mariana Ximenes). Estão na programação dois deles: “O Uívo da Gaita” (2013), de Bruno Safadi, e “O Rio nos Pertence!” (2013), de Ricardo Pretti.
Além de promover homenagens e organizar encontros e debates, o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo coloca em foco os destaques da produção mais recente feita na região, incluindo vários títulos inéditos no Brasil. No total, são 114 filmes, representando 16 países da América Latina e do Caribe. A programação é inteiramente gratuita e acontece em nove salas: Memorial da América Latina (em uma tenda especialmente instalada na Praça Cívica, com capacidade para 500 pessoas), Cinesesc, Cine Olido, Centro Cultural São Paulo (salas Paulo Emílio e Lima Barreto), Cinemateca Brasileira, Cineclube Latino-Americano, Centro Cultural da Juventude e Centro Cultural da Penha.
Nesta edição, o festival promove uma inédita mostra que reúne documentários musicais dedicados a importantes artistas da Argentina, Brasil, Chile, Cuba e Venezuela que se tornaram responsáveis por boa parte do imaginário musical da região. Denominada Docs Musicais América Latina, a mostra destaca dois títulos inéditos no Brasil. Dirigido por Gregory Allen, “El Objeto Antes Llamado Disco: O Filme” (2013) retrata o conjunto mexicano de rock Café Tacvba durante o proceso de criação do disco homônimo. O grupo é conhecido por suas parcerias com os músicos David Byrne e Beck, e pelas trilhas sonoras de “Amores Brutos”, de Alejandro González Iñárritu, e de “E sua Mãe Também”, de Alfonso Cuarón. Outro grupo bastante popular da música latino-americano, os venezuelanos Los Amigos Invisibles, ganham em “La Casa del Ritmo: Um Filme Sobre Los Amigos Invisibles” (2012), de Javier Andrade. Trata-se de uma celebração da carreira da banda, que também já foi apadrinhada por David Byrne.
Um dos cantores cubanos contemporâneos de maior relevo internacional, Silvio Rodríguez, é criador juntamente com Pablo Milanez e outros, do movimento da Nova Trova Cubana. Considerado um poeta lúcido e inteligente, capaz de sintetizar o intimismo e os temas universais com a mobilização e a consciência social, o artista ganha esmerado retrato na coprodução entre Cuba e Espanha inédita no Brasil “Silvio Rodríguez, Ojalá” (2013), dirigida por Nico Garcia.
Familiares, amigos e colegas recordam Violeta Parra, a mais universal das cantoras folclóricas chilenas, em “Viola Chilensis” (2003), de Luis R. Vera. Merecedora de uma cinebiografia ficcional (“Violeta Foi Para o Céu”, de Andrés Wood), Violeta Parra é considerada fundadora da música popular chilena.
“Mercedes Sosa, a Voz da América Latina” (2013), de Rodrigo H. Vila, é um documentário sobre a cantora argentina, artista de extrema importância na história política e cultural da América Latina. A inconfundível voz de Mercedes, “La Negra”, guia o público por sua trajetória e depoimentos de personalidades ressaltam sua relevância em toda América do Sul.
Já a representação brasileira é composta por oito títulos, produzidos 2000 e 2013. Um dos destaques é “Cartola – Música para os Olhos” (2006, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda), sobre o mestre Cartola, um dos compositores mais importantes da música brasileira e também um dos expoentes mais nobres do samba. Em “O Gingado da Nêga” (2014), de Rafael de Paula Rodrigues, Elza Soares fala sobre sua história, carreira, casamento, ídolos. Entre os entrevistados, além de amigos, famosos admiradores da cantora, como Pedro Bial, Lobão e Jorge Aragão, entre outros.
Em “Tom Zé ou Quem Irá Colocar uma Dinamite na Cabeça do Século?” (2000), a cineasta Carla Gallo flagra o processo criativo do inventivo músico baiano. Já em “Daquele Instante em Diante“ (2011), o diretor Rogério Velloso mergulha na obra e na vida pessoal do genial artista Itamar Assumpção para mostrar suas várias facetas: compositor, poeta, performer, amante das plantas, homem caseiro, gênio incompreendido, controlador irredutível de tudo o que envolvia sua criação e parceiro de tantos outros talentosos contemporâneos.
“Botinada: A Origem do Punk no Brasil” (2006), de Gastão Moreira, é um documentário que narra a história do início do movimento punk no Brasil, e o paradeiro de seus protagonistas, contando com imagens raras de apresentações das bandas Inocentes e Cólera. Já “Rock Brasília – Era de Ouro” (2011) utiliza imagens filmadas desde o final dos anos 1980por seu diretor, o veterano Vladimir Carvalho, para abordar a trajetória de bandas de Brasília, como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude.
O cineasta Caco Souza e o crítico Ricardo Alexandre debruçaram-se sobre a chamada “fase psicodélica” (1967-1970) do cantor Ronnie Von, um objeto de culto em todo o mundo e uma espécie de “elo perdido” entre a Jovem Guarda e o tropicalismo brasileiro, e o resultado está no documentário“Ronnie Von – Quando Éramos Príncipes”, de 2013. No filme, o próprio cantor e outras testemunhas (Arnaldo Saccomani, Rita Lee, Manoel Barenbein) relembram o período, enquanto Ronnie, acompanhado pela banda Os Haxixins, passeia pelo repertório ao vivo em estúdio, em sua primeira gravação em quase 20 anos. E documentarista Eduardo Coutinho, falecido em fevereiro último, tem na programação o emocionante “As Canções”(2011), no qual homens e mulheres cantam e contam as músicas que marcaram suas vidas, de autoria de Roberto Carlos, Chico Buarque e Jorge Benjor, entre outros. Em 2008, com “Jogo de cena”, Coutinho venceu o prêmio do público no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo.