Fest Brasília: Público recebe documentário sobre “direito de defesa” com aplausos calorosos
Por Maria do Rosário Caetano, de Brasília
O público recebeu com entusiasmo e demorados aplausos o primeiro longa da competição oficial do Festival de Brasília: o documentário “Sem Pena”, do realizador paulista Eugenio Puppo. Quem pensou que assistiria a mais um filme sobre as bárbaras condições de nossos presídios, deparou-se com obra complexa e polifônica (são ouvidos detentos, mas também criminalistas, filósofos, defensores públicos, autoridades judiciárias e familiares de detentos). E não há cabeças falantes. As vozes se fazem ouvir, expressivas e muito articuladas. Mas, no campo da imagem, predominam informações que enriquecem a sensibilidade/sensorialidade do espectador. E o levam à reflexão. Um filme em tudo oposto aos programas sensacionalistas que infestam os horários vespertinos da TV, com seus apresentadores-justiceiros.
O longa-metragem foi realizado ao longo de cinco anos e nasceu de sugestão do IDDD – Instituto de Defesa do Direito de Defesa. Sim, no nome desta instituição a palavra defesa ganha força pela repetição. Dois curtas foram exibidos antes do longa de Puppo: o pernambucano “Loja de Repteis”, de Pedro Severien, com Maeve Jinkings (melhor atriz no Fest Brasilia, ano passado, pelo longa “Amor, Plástico e Barulho”) e Fransérgio Araújo (“Através da Janela’), e “Bashar”, do paulista Diogo Faggiano, sobre a guerra civil síria. O filme de Severien, um “horror existencialista”, deixou parte da plateia entusiasmada e parte em silêncio. Já “Bashar” recebeu aplausos e um pequeno esboço de vaias.
MOSTRA “REFLEXOS DO GOLPE” – Para refletir sobre o golpe militar de 1964, o Fest Brasilia montou mostra de filmes e seminário que repensa, a partir dos filmes, sobre o que se passou no Brasil depois da queda de Jango. Os filmes estão em várias telas. Ontem, a atriz Domingas Person e a apresentadora-cineasta-e-atriz Marina Person apresentaram o filme “O Caso dos Irmãos Naves”, de Sérgio Person, no Cine Brasília. No mesmo horário, o ator Werner Schunemman apresentou “Quase Dois Irmãos”, de Lúcia Murat, em cinemas de várias cidades-satélites. À noite, Werner contou de sua alegria por ter participado do filme de Lúcia. “Nem é por meu trabalho, que nem tenho entre os melhores que fiz, mas sim pela força mesma do filme, que é muito grande”.
MOSTRA “CONTINENTE COMPARTILHADO” – Outra mostra especial do Fest Brasília que vem chamando atenção, a “Continente Compartilhado”, tem curadoria da produtora Vânia Catani, da Bananeira Filmes (“A Festa da Menina Morta” e “O Palhaço”). Um conceito move as escolhas de Vania: reunir filmes que sejam fruto de coproduções entre países da América Latina. O Brasil, que sempre viveu de costas para os vizinhos da América Hispânica, tem procurado, cada vez mais, atrair parceiros de fala hispânica. No que o Programa Ibermedia tem cumprido papel importante. A curadora selecionou os filmes “Romance Policial”, de Jorge Duran (vencedor do Fest Brasília 1986, com “A Cor do seu Destino), que uniu Brasil e Chile, “La Playa”, de Juan Andres Arango (Colômbia, Brasil, França), “Super Nada”, de Rubens Rewald (Brasil-México), “Artigas – La Redota”, de Cesar Charlone (Uruguai-Brasil), “Histórias que Só Existem Quando Lembradas”, de Júlia Murat (Brasil, Argentina, França) e “Habi, a Estrangeira”, de Florencia Alvarez (Argentina, Brasil).