Duas vezes Borges
O ator franco-argentino Jean-Pierre Noher está se preparando, pela segunda vez para reviver o escritor Jorge Luis Borges (1899-1987) num filme. Catorze anos atrás, ele protagonizou “Um Amor de Borges”, de Javier Torre, projeto que lhe rendeu fama e prêmios. Agora, reviverá Borges em “El Amuerzo”. E mais uma vez sob a direção de Javier Torre. O novo desafio é bem maior. Afinal, Noher, de 58 anos, interpretará o autor de “O Aleph” quando ele já se aproximava dos 80 anos.
Ao protagonizar “Um Amor de Borges”, o ator tinha 42 anos. E o escritor-personagem também estava na faixa dos 40. A trama de “El Almuerzo” se passa em maio de 1976, portanto dois meses depois do triunfo do golpe que implantou uma ditadura militar na Argentina. Um grupo de escritores agendou encontro (o almoço do título) com o general Jorge Luiz Videla, que comandava a Junta Militar empossada pelos golpistas. E o fizeram para pedir informações sobre Haroldo Conti, importante escritor argentino e militante de esquerda, que estava desaparecido. Borges foi ao encontro do general na companhia de Ernesto Sábato, Horacio Ratti, presidente da SAE (Sociedade de Escritores Argentinos) e de Leonardo Castellani. Haroldo Conti, nascido em 1925, e cujo desaparecimento motivou o almoço, nunca mais foi encontrado. O trágico ano de 1976 ficou como data presumível de sua morte.
Noher acredita no potencial histórico e artístico deste fato e no gesto dos escritores que procuraram o ditador para pedir pela vida de um colega. Acredita, também, na nova parceria com Javier Torre, seu amigo e integrante de um dos mais importantes clãs cinematográficos da Argentina. Ele é neto de Leopoldo Torre-Rios (“Pelota de Trapo”) e filho de Leopoldo Torre-Nilsson (“La Casa del Angel” e “La Mano em la Trampa”).