Francis Ford Coppola ganha retrospectiva inédita

A mostra Francis Ford Coppola: o Cronista da América celebra um dos maiores diretores da história do cinema, um artista consagrado que continua a se reinventar em pleno século XXI. Serão exibidos 25 filmes dirigidos por Coppola para o cinema, desde suas primeiras produções – s “skin flicks” Tonight for Sure e The Bellboy and the Playgirls –, passando pelo terror B dirigido para o produtor Roger Corman, Demência 13, pelos sucessos de público e de crítica dos anos 1970 – O Poderoso ChefãoO Poderoso Chefão – Parte II e Apocalypse Now Redux – até sua fase mais recente de experimentações com o digital (Tetro) e com o 3D (Virgínia).

Francis Ford Coppola foi o primeiro diretor egresso de uma universidade (UCLA), o patrono do “Renascimento do Autor” nos Estados Unidos, o principal expoente da “Nova Hollywood” e o responsável por lançar nomes como George Lucas, John Milius, Al Pacino, Robert Duvall e James Caan no cinema.

Em 1961, com Tonight for Sure, iniciava a carreira que renderia ao cineasta 5 Oscars e 2 Palmas de Ouro em Cannes (por A Conversação e Apocalypse Now), que o levaria a fundar seu próprio estúdio – o Zoetrope Studios – e que, para fechar o ciclo, retornaria à produção independente e autoral em seus últimos filmes.

Coppola, junto com William Friedkin, Peter Bogdanovich, Brian De Palma, Martin Scorsese, Terrence Malick, George Lucas, Steven Spielberg e Michael Cimino, integra a geração de diretores norte-americanos que, nos anos 70, influenciados pela Nouvelle Vague e pela explosão de Cinemas Novos ao redor do mundo, tomou de assalto Hollywood, que estava em crise desde a falência do “Studio System” (a linha de montagem que os grandes estúdios possuíam, controlando todas as etapas para a realização dos filmes). Peter Biskind os chama de “Easy Rider, Raging Bull”: nunca os diretores contaram com tamanha liberdade artística e criativa dentro da maior indústria cinematográfica do planeta.

O Poderoso Chefão (1972) foi o marco divisor de águas para o “renascimento do autor” no cinema norte-americano. Com 134 milhões de dólares de bilheteria (apenas nos EUA), recorde na época, a saga da família Corleone foi o primeiro “round” na batalha entre os novos executivos dos grandes estúdios, egressos dos departamentos de marketing, e os jovens diretores que ansiavam deter o controle artístico sobre os próprios filmes.

Ainda em 1969, Coppola fundou, com os amigos George Lucas e Walter Murch, a produtora American Zoetrope, estabelecendo-a em São Francisco. Pegou 600 mil dólares de empréstimo com a Warner Brothers para desenvolvimento de projetos, mas o estúdio exigiu o financiamento de volta quando não aprovou os roteiros apresentados.

A fim de pagar a dívida com a Warner, Coppola aceitou, por sugestão de George Lucas, dirigir O Poderoso Chefão. Seu desejo era realizar filmes pequenos, baseados em seus próprios roteiros, como seria A Conversação, mas o sucesso de O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão – Parte II o levaram a apostar em Apocalypse Now.

Como no acordo inicial da American Zoetrope com a Warner, Coppola outra vez arriscou: o diretor colocou o próprio dinheiro e, com os direitos sobre a produção, faturou alto quando Apocalypse Now se provou mais um blockbuster em sua carreira.

Em 1980, Coppola abriu o Zoetrope Studios. Ao mesmo tempo, avançou com a idéia do “cinema eletrônico”, em que integrava pré-produção, produção e pós-produção, ao invés de separá-las, e fazia uso extensivo do vídeo como ferramenta de auxílio durante a filmagem, a edição e a mixagem. Ao custo de 27 milhões de dólares, Do Fundo do Coração foi um fracasso de público e de crítica, selando o destino do Zoetrope Studios, que foi vendido em 1982.

Durante as décadas de 1980 e 1990, ele trabalhou como diretor contratado pelos estúdios, em projetos com a intenção de pagar os débitos acumulados com o Zoetrope Studios. Os maiores sucessos comerciais de Coppola no período foram Vidas sem RumoPeggy Sue – Seu Passado a Espera e o inesperado Drácula de Bram Stoker. Em 1990, o diretor retornou a O Poderoso Chefão, realizando a parte final da trilogia.

Francis Ford Coppola, então, se retirou para sua vinícola no Vale do Napa, na Califórnia. Porém, no despertar do século XXI, ele se reinventou. Primeiro, através da filha, Sofia Coppola, para quem produziu As Virgens SuicidasEncontros e DesencontrosMaria AntonietaUm Lugar Qualquer e Bling Ring – A Gangue de Hollywood. Depois, novamente como diretor de filmes independentes, voltando ao projeto original de sua carreira: Velha JuventudeTetro e Virgínia.

Inédita no Brasil, a mostra Francis Ford Coppola: o Cronista da América apresenta também dois documentários Francis Ford Coppola: o Apocalipse de um Cineasta, de Fax Bahr, George Hickenlooper e Eleanor Coppola, sobre a tumultuada realização da obra-prima Apocalypse Now; e A Década que Mudou o Cinemade Ted Demme e Richard LaGravenese, sobre a década de 70, quando houve uma grande mudança no cinema americano, no qual Coppola é um dos personagens.

Será realizado um debate, no dia 11 de junho, com o crítico de cinema Gilberto Silva Jr. e o professor Rafael de Luna, e editado um luxuoso catálogo com mais de 300 páginas sobre a obra do diretor e produtor.

A mostra estará em cartaz no CCBB Rio de Janeiro, de 3 a 29 de junho, no Centro Cultural Severiano Ribeiro – Odeon (RJ), de 18 a 24 de junho, no CCBB Brasília e Cine Brasília, de 25 de junho a 20 de julho, no CCBB São Paulo, de 1º a 27 de julho, e no Cine SESC (SP), de 23 a 29 de julho.

A programação completa da mostra pode ser conferida no site www.bb.com.br/cultura.

 

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