Daniel Filho é homenageado no Festival de Gramado
Por Maria do Rosário Caetano, de Gramado
O Festival de Gramado iniciou, no último dia 8, série de quatro homenagens com a entrega do “Prêmio Cidade de Gramado” a Daniel Filho, ator, cineasta, diretor de TV e produtor. Depois dele virão Marília Pera (Trofeu Oscarito), Fernando Solanas (Kikito de Cristal) e Zelito Viana (Prêmio Eduardo Abelin). A trajetória de Daniel Filho, que nasceu de mãe argentina (a atriz Mary Daniel) e de pai catalão (o ator Juan Daniel) é espantosa. Ele fará 78 anos no dia 30 de setembro próximo e está comemorando 60 (sim, sessenta) anos de carreira. Afinal, estreou aos 18 anos (em 1955) na chanchada tardia “Colégio de Brotos”. O que se passou dali em diante é para causar espantos artísticos, comerciais e estatísticos. Ele colocou seu nome em dois importantes filmes da era cinemanovista (os ótimos OS CAFAJESTES, de Ruy Guerra/1962, e BOCA DE OURO, de Nelson Pereira dos Santos/1963). Nos dois filmes, fez papéis importantes. No primeiro, esteve no centro da narrativa, interpretando um playboy inconsequente ao lado de Norma Benguell e Jece Valadão. No segundo, deu vida ao repórter sensacionalista (e rodriguiano) Amado Ribeiro.
Na segunda metade dos anos 1960, comporia com Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira, o Boni, a trinca que faria da Globo a mais poderosa rede de TV do país. Nos anos 1970, renovou a telenovela brasileira com série de folhetins que trocou o tom descabelado de Gloria Magadan pelo realismo cotidiano. Nos anos 1980, conheceu o auge de seu poder na Rede Globo e comandou novelas da importância de Roque Santeiro e Vale Tudo. Nunca deixou de fazer, ou produzir, cinema. Destituído do comando da teledramaturgia global, envolveu-se com a Globo Filmes. Fez filmes de mais de seis milhões de ingressos (“Se Eu Fosse Você 2”) e filmes de 100 mil a 400 mil ingressos (“Tempo de Paz” e “Muito Gelo e Dois Dedos D’Água”). E até um B.O. (Filme de baixo orçamento), “Sorria, Você Está Sendo Filmado”, que vendeu perto de 70 mil ingressos, mas chegou à disputada Tela Quente, horário nobre de blockbusters exibidos na Rede Globo. Tem orgulho de ter sido um dos artífices do “milagre da Compadecida”, ou seja, de ver microssérie da Rede Globo – “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes – vender mais de 2 milhões de ingressos nos cinemas (isto depois de ser exibido na TV Globo).
Confiram as estatísticas da carreira cinematográfica de Daniel (excluímos a TV!, afinal, Gramado é um festival de cinema): 36 filmes como ator (protagonizou “Querido Estranho”, baseado em texto de Maria Adelaide Amaral, dirigido por Ricardo Silva Pinto – 2002), uns 30 como produtor ou coprodutor, e 15 como diretor (incluindo comédias com leves pitadas eróticas e “comédias-comédias”, gênero que tem nele um Midas, e até dramas, como “Tempo de Paz” e a cinebiografia espírita de Chico Xavier, outro blockbuster, que vendeu quase 4 milhões de ingressos.
A homenagem a Daniel Filho em Gramado contou com discurso com o qual ele tentou fugir dos agradecimentos a familiares e amigos. E quis ser engraçado. Não teve momentos especiais de brilho. Nem aplausos calorosos (ou de pé, como costuma acontecer por aqui). Daniel Filho construiu muitas amizades, mas também semeou muitos desafetos. Os aplausos foram protocolares. O cineasta, que teve sua obra classificada – num encontro de produtores e distribuidores de cinema – como “gênero” (“no cinema brasileiro haveria comédias, dramas, cinebiografias e filmes de Daniel Filho”), sabe que construir obra com números tão avantajados, num país em que a maioria fica pelo caminho, tem seu preço.
Também, com os cartuchos que tem, fica facil produzir.