Um Nordestern “Mad Max”
“Reza a Lenda”, filme que marca a estreia de Homero Olivetto na direção e que estreia no próximo dia 21 de janeiro, é um “ovni” no cinema brasileiro. Ou seja, um longa-metragem de ação, que soma referências como “Mad Max” e “Easy Rider”, com pitadas dos épicos de Sergio Leoni, ao “nordestern”. Ou seja, aos filmes de aventura protagonizados por bando de cangaceiro.
O longa, que soma esforços da produtora de Homero, da Imagem e Globo Filmes, reuniu elenco estelar. Cauã Reymond é o protagonista e contracena com Sophie Charlotte (com visual masculinizado), Humberto Martins, Luísa Arraes, Júlio Andrade e Sílvia Buarque. Três atores nordestinos dão marca especial a “Reza a Lenda”. O pernambucano Jesuíta Barbosa, tão frágil em muitos filmes, incorpora uma espécie de “Rambo do agreste” e manda ver com armamento pesadíssimo. Os paraibanos Zezita Matos e Nanego Lira, ela, irmã de Everaldo Pontes, ele, integrante do Clã dos Lira (com Soya, Buda, Bertrand), desempenham papéis fundamentais em dois tempos da trama (durante a infância do protagonista, e em sua fase rebelde-armado-até-os-dentes, de cangaceiro primitivo-futurista).
Durante coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, dia 8 de dezembro, em São Paulo, Cauã Reymond se fez passar por mestre de cerimônia dos mais divertidos, comandando o meio de campo para que as outras estrelas do elenco brilhassem. Tarimbado no trato com jornalistas, ele deu um show de animação e bom-humor. Quando Humberto Martins entrou, atrasado, na sala da coletiva, ele o saudou: “Chegou o nosso Tom Lee Jones”.
Alguém perguntou a Sophie Charlotte se ela entrara no filme primeiro como produtora, ou como atriz. Ela respondeu: “como atriz” (ela e Cauã Reymond são coprodutores do filme). Aí, Cauã aparteou: “quem produziu este filme, para valer, quem fez chover no sertão, foi Bianca Villar, a quem peço que se levante e receba uma salva de palmas”. E completou: “Bianca e Kiki Lavigne, que está conosco, toda chique, de saia!!!!”. E Homero Olivetto acrescentou: “(Kiki) é minha mulher”. Aí, Cauã lembrou que, além de ator, é produtor e sócio de Mário Canivello. E que os dois estão preparando um filme sobre Dom Pedro I.
O protagonista de “Reza a Lenda” lembrou também os filmes que já coproduziu: “E se Nada Mais Der Certo”, “Alemão” (ambos de José Eduardo Belmonte) e Tim Maia, de Mauro Lima. “Coproduzir” – assegurou – “é bom, porque a gente pode opinar, ler o roteiro desde o primeiro tratamento, trocar ideias”.
Aí, Homero Olivetto revelou algo raro: “Um dos produtores do filme, Abrahão, da Imagem, fez algo que não é comum. Quando sugeriram que atenuássemos cenas violentas, ele foi o primeiro a defender a permanência delas”.
No final da conversa, Cauã provocou: “No ‘Reza a Lenda 2’, vou ter que enfrentar o Marcinho, filho do Teodoro (o coronel interpretado por Humberto Martins)”.
Ele já tinha brincado com o ator, que garantira aceitar qualquer papel em “Reza a Lenda”, mesmo que não tivesse o destaque do terrível (e religioso) coronel Teodoro.
Cauã zoou: “até a Laura, personagem da Luísa (Arraes)?
– “Aí não, né?”, rebateu Humberto Martins.
A Revista de CINEMA dirigiu três perguntas a Homero Olivetto:
Revista de CINEMA – O filme, que você roteirizou com Newton Cannito e Patrícia Andrade, mistura cangaço e “Mad Max”, seca e misticismo. O que, nele, parece ter a ver com sua geração é o tratamento dado à narrativa: muito veloz, com mescla de gêneros e muitas referências. O que o levou ao tema nordestino e ao universo do cangaço?
Homero Olivetto – Parte da minha família é sergipana. Cresci ouvindo histórias de cangaceiros de meu avô, a quem dedico o filme (José Medeiros). Quando estudava Filosofia, na Bahia, há 20 anos, escrevi o conto que deu origem ao filme. Só em 2006 vim a transformá-lo no primeiro tratamento do roteiro.
Revista de CINEMA – Você não temeu escalar Jesuíta Barbosa, ator de muitos papeis delicados, fragéis, até femininos, para interpretar uma espécie de “Rambo do agreste”?
Homero Olivetto – De jeito nenhum. O Jesuíta é um ator incrível. Não tinha dúvida, não temia nenhuma fragilidade dele. Ele tem uma força interna e uma alma inquieta, características aliás de todos os atores do filme. Há um vulcão dentro de todos eles.
Revista de CINEMA – Gostaria que você falasse da escalação de dois atores que admiro muito: os paraibanos Zezita Matos e Nanego Lira.
Homero Olivetto – Confesso que conhecia pouco o trabalho deles. Mas o pouco que vi me encantou. Eu queria atores que tivessem, como eu disse, um vulcão dentro deles. Que se entregassem aos personagens. Que saíssem da zona de conforto.
Assista ao teaser do filme aqui.
Por Maria do Rosário Caetano