Augusto dos Anjos

O belo filme “Mate-me por Favor”, da estreante Anita Rocha da Silveira, conseguiu – numa Barra da Tijuca ensolarada e com personagens coloridos e jovens – criar intrigante atmosfera de horror. Algo que nos remete ao sueco “Deixa Ela Entrar” (Tomas Alfredson, 2008), embora a diretora assuma diálogo com o David Lynch de “Veludo Azul” (1986) e não defenda o horror como algo metafísico que tanto apaixona realizadores como Juliana Rojas, Marco Dutra, Kleber Mendonça e Aly Muritiba. “Busco mais uma atmosfera fantástica que o horror”, ponderou em debate na Mostra de Gostoso.

“Mate-me por Favor”, que causa estranhamento e curiosidade desde o título, faz excelente uso dos poemas “Versos Íntimos” e “Psicologia de um Vencido”, de Augusto dos Anjos, que enquete da imprensa de João Pessoa elegeu como “o paraibano do século XX”. Anita, que é sobrinha-neta da psiquiatra Nise da Silveira (1905 -1999), agregou os versos augustianos à sua narrativa sem quebra de ritmo, nem pedantismo. E o fez por entender que eles dariam sólida contribuição à atmosfera buscada pelo filme, entrando em perfeita sintonia com o cotidiano de seus jovens protagonistas, estudantes de nível colegial (a obra de Augusto dos Anjos faz parte do nosso currículo escolar). Quem, entre os mais sensíveis, não conhece os versos “Eu, filho do carbono e do amoníaco/ Monstro de escuridão e rutilância/ Sofro, desde a epigênese da infância/ A influência má dos signos do zodíaco”? Ou: “Vês! Ninguém assistiu ao formidável/ Enterro de tua última quimera/ Somente a Ingratidão – esta pantera –/ Foi tua companheira inseparável”?

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