Estética do “pum”
O mais consistente mergulho da mídia brasileira no sucesso das comédias populares (ou popularescas) – aquelas que ocupam postos nobres nas listas de nossos campeões de bilheteria – foi empreendido pela revista “Piauí” (janeiro de 2016). Além de perfilar o “midas” da comédia brasileira, o cineasta Roberto Santucci, a repórter Luiza Miguez deu destaque a nome obscuro em nosso meio cinematográfico: o do roteirista Paulo Cursino. O carioca Santucci, que convoca os serviços de Cursino, é um workhaholic que, em poucos anos de carreira, já dirigiu 13 filmes: começou com o péssimo “Olé”, realizado nos EUA, onde estudou. Passou para o mediano “Belinge a Esfinge” e chegou ao que pode ser considerado seu “melhor” trabalho, “Alucinados”. Este thriller nem conseguiu ser lançado. Mas serviu como passaporte para o diretor, que é também montador, começar a dirigir, em escala industrial, comédias como “De Pernas pro Ar” (1 e 2), Até que a Sorte nos Separe (1, 2 e 3), “Loucas pra Casar”, “Um Suburbano Sortudo” etc. Cursino, do interior caipira de SP, não estudou nos EUA. Formou-se, para valer, em equipes de programas humorísticos da TV, tipo “Zorra Total”. E não esconde os fundamentos de seu trabalho. Ele é daqueles que querem oferecer ao público o que o público quer ver. E entende que o público brasileiro (em especial, o da chamada classe C) gosta de piadas apelativas. Por mirar o porteiro e o garçom, ele se vê motivado a fazer “piada de pum”, pois “aí o cara vai rir”.
Está entronizada a “estética do pum” e assemelhados, tão presente nos filmes de recorte popularesco, em especial, os estrelados por Leandro Hassum. Mas até Hassum, rei deste tipo de comédia, promete cinebiografia dramática, ou seja, contar sua vida de filho de traficante, criado num mundo de fantasia. O próprio Santucci, que parece desprezar tanto os cultores de filmes-cabeça, promete voltar ao filme de ação, seu gênero preferido. Frente a tal quadro, resta nos indagar: será que teremos sempre, para conquistar mercado, que apelar a este tipo de filme que oferece ao espectador o pouco que ele quer? Ou seja, apelação, escatologia, tramas caricatas? Chaplin, com seu eterno Carlitos, foi um dos cineastas mais populares do mundo. Nunca fez uma comédia apelativa. Dino Risi (“Aquele que Sabe Viver”) e Monicelli dirigiram grandes comédias (“O Incrível Exército de Brancaleone” é a maior delas) e alcançaram grande plateias planetárias.