Cine PE, por Maria do Rosário Caetano
O cineasta Bruno Sáfadi, 35 anos, apresentou, ao lado de seu protagonista, o ator Nizo Neto, seu sexto longa-metragem, O PREFEITO, na segunda noite da mostra competitiva do Festival do Audiovisual de Pernambuco. O jovem realizador e NIZO NETO passaram rápido por Recife, pois ambos tinham compromissos profissionais no Rio. Sáfadi integra a equipe de diretores da novela “Liberdade, Liberdade”, na Rede Globo, exibida às 23h00.
Depois de “Meu Nome é Dindi”, “Bel-Air”, “Éden” e de dois filmes do projeto Sônia Silk, o realizador carioca engendrou, com Júlio Bressane, com quem trabalhou em 15 filmes, o projeto TELA BRILHADORA, composto por quatro filmes (além de O PREFEITO: “Garoto”, do próprio Bressane, “O Espelho”, de Rodrigo Lima, e “Origem do Mundo”, de Moa Batsow. O filme mais caro já dirigido por Sáfadi foi “Éden”, protagonizado por Leandra Leal (R$1 milhão). Os outros (exceção para DINDI, que custou R$ 100 mil) tiveram orçamentos infinitamente menores. O PREFEITO está neste time, pois consumiu apenas R$ 60 mil. Sáfadi avisa que seu projeto de vida consiste em realizar muitos filmes: “uns 40, 50 ou 60, pois espero chegar aos 80, 90 anos, com saúde”. Afinal, pondera, “John Ford chegava a realizar três filmes por ano, muitos deles com orçamentos bem reduzidos”.
No Brasil, o mais prolífico de nossos realizadores é justamente Bressane, cineasta com quem mantém profunda identidade e produtiva parceria. Bruno, hoje dividido entre a TV e o cinema, tem muitos projetos estruturados. Um dos próximos será LILITH, com a portuguesa Maria de Medeiros encabeçando o elenco.
NIZO NETO, de 52 anos, está muito feliz por ter ganho de Sáfadi, a quem não conhecia pessoalmente, o seu primeiro papel de protagonista. Famoso por atuar na TV, em programas do pai, o saudoso Chico Anísio, NIZO estreou no cinema em 1980, no longa em episódios INSÔNIA, baseado em contos de GRACILIANO RAMOS, dirigidos por Nelson Pereira dos Santos, Emmanuel Cavalcanti e Luiz Paulino do Santos. No debate de O PREFEITO, no CINE PE, o ator lamentou que este filme, produzido pela Cooperativa do Cinema Brasileiro, siga praticamente inédito (e já se passaram 36 anos).
NIZO gostou de interpretar o alcaide “safadiano”, que tem um pouco de Eduardo Paes e um tanto de Jânio Quadros, tudo temperado com influência das chanchadas e programas radiofônicos, salpicados de referências eruditas. “Como nosso principal cenário foram as obras do Cais do Porto, eu tive que enfrentar muita poeira, barulho e outros desconfortos”, lembrou, com um largo sorriso. “Mas compensou. Creio que este meu primeiro protagonista vai me abrir muitas portas no cinema”. E acrescentou: “filmamos também na Saara, área de comércio popular no Rio. Eu saí correndo sem que as pessoas soubessem tratar-se de uma filmagem (a câmara estava quase escondida). Poderia ter aparecido alguém para interromper aquele louco em desabalada corrida, que era eu”. E mais: “aqueles cachorros apareceram lá, sem que estivessem previstos. Um deles poderia ter me dado uma mordida, mas por sorte, tudo terminou bem”.
Além do inusitado cenário (o prefeito monta seu gabinete de despachos em plena obra, ao lado das máquinas pesadas), o filme chama atenção por sua magnífica trilha sonora, composta com peças de Villa-lobos, Guerra Peixe, Radamés Gnatalli e uma composição de Noel Rosa menos conhecida do que merece, CIDADE MULHER, composta para o filme homônimo de Humberto Mauro (do qual nada restou). Sáfadi só lamentou que, por questão de direito autoral, tenha sido obrigado a retirar uma composição de Tom Jobim da trilha. “O jeito foi substitui-la por uma gravação do Hino Nacional, de 1905”.