Fest Gramado – Elenco de filme boliviano compõe OEA cinematográfica
Por Maria do Rosário Caetano, de Gramado
Dois atores, um brasileiro-boliviano, FERNANDO ARZE, e a boliviana DANIELA LEMA (foto), representaram o filme CARGA SELLADA (CARGA INVIOLÁVEL), de JULIA VARGAS. O filme representa a Bolívia na mostra competitiva de Gramado. O elenco, mobilizado por Júlia, fotógrafa, formada na Suíça e muito reconhecida em seu país, compõe uma verdadeira OEA (Organização dos Estados Americanos) cinematográfica. O protagonista, Gustavo Sanchez Parra, é mexicano. Ele interpreta Mariscal, capitão da Polícia Nacional, a quem cabe levar carga tóxica, num trem, rumo ao Altiplano. Um de seus auxiliares é Gonzalo Cubero, ator venezuelano (também é venezuelana a atriz Prakti Maduro, que interpreta a fútil mulher do capitão). O condutor da locomotiva é boliviano (Luis Bredow), assim como Daniela, que interpreta jovem de origem indígena, que entra furtivamente no trem, para participar de toda a complicada aventura. Coube ao brasileiro (nascido na Bolívia) FERNANDO ARZE completar o time.
No palco do Palácio dos Festivais, Fernando impressionou a todos por seu português perfeito. No debate do filme, ele explicou por que fala tão bem nosso idioma. “Nasci na Bolívia, mas mudei-me para o Rio de Janeiro, aos dez anos. Fiz teatro, pequenos papéis em novelas na Globo e Record e cinema (interpretou o namorado de Ney Matogrosso no filme “O Primeiro Dia de nossas Vidas”, de Domingos Oliveira) até três anos atrás, quando voltei à Bolívia”. O ator, que estudou Teatro em Nova York, contou que as filmagens de CARGA SELLADA aconteceram no inverno, sob temperaturas baixíssimas: “estávamos a 4 mil metros de altura e chegamos a enfrentar gravações com os termômetros marcando 15 graus negativos”.
Um dos temas recorrentes no debate do filme, uma coprodução que uniu a Bolívia ao México, Venezuela e França, foi a introdução do elemento fantástico. Afinal, este “locomotiva-movie” mostra populações nativas do Altiplano boliviano enfrentando os policiais que levam a carga tóxica para descarte nas montanhas. Mas mostra também “diablos” (deuses indígenas) unidos contra a contaminação das terras e águas bolivianas. Os dois atores explicaram que JULIA VARGAS é uma “pessoa muito espiritualizada” e que ama e respeita a cultura dos povos do Altiplano. Por desejo dela, haveria ainda mais inserções “espirituais” na narrativa. Mas os montadores (Miguel Peres e Daniel Prync) e também os produtores, em nome do ritmo do filme (que dura 107 minutos), sugeriram cortes. E foi a parte fantástica que, mesmo filmada, perdeu espaço na narrativa.