Competição candanga seleciona filmes de todos os Brasis
Pela primeira vez, em sua história de 53 anos, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que realiza, de 15 a 24 de setembro, sua quinquagésima edição, aposta radicalmente na descentralização cultural. Os nove longas selecionados para disputar o Troféu Candango são oriundos de quatro das cinco regiões brasileiras.
O Sul se faz representar por “Construindo Pontes”, da paranaense Heloisa Passos, e “Música para Quando as Luzes se Apagam”, do gaúcho Ismael Canepele. O Nordeste marca presença ainda mais significativa, com três títulos: “Café com Canela”, dos baianos Ary Rosa e Glenda Nicácio, “Por Trás da Linha de Escudos”, do pernambucano Marcelo Pedroso, e “O Nó do Diabo”, representante da Paraíba, dirigido por quarteto formado por Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhesus Tribuzi. O Sudeste também tem três representantes: o mineiro “Arábia”, de Affonso Uchoa e João Dumans, o carioca “Pendular”, de Júlia Murat, e o paulista “Vazante”, de Daniela Thomas. O Distrito Federal, berço do mais antigo festival do país, comparece com “Era Uma Vez Brasília”, de Adirley Querirós, o único entre os nove concorrentes a ter conquistado o Troféu Candango de melhor longa-metragem, três anos atrás, com “Branco Sai, Preto Fica”.
Além da aposta na descentralização cultural, o Festival de Brasília abre, também, amplo espaço para o cinema feminino. Heloísa Passos, Daniela Thomas, Júlia Murat e Glenda Nicário chegam com seus filmes para mostrar que já vai longe o tempo em que todos os longas traziam assinaturas no masculino.
O ator Guilherme Reis, secretário de Cultura do DF e presidente do festival, que está no Cine Ceará, participando do I Seminário da Descentralização da Produção Audiovisual nas Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, reafirma sua alegria em ver o festival candango, em sua edição de número 50, abarcando produções de nove Estados e apostando na pluralidade. “Os filmes escolhidos são variados em suas temáticas e dão ênfase a questões identitárias, raciais e de gênero”. E “não deixam de refletir sobre os dilemas éticos do Brasil de hoje”.
O secretário brasiliense, que participou em Fortaleza, na tarde desta segunda-feira, 7 de agosto, de debate no Seminário da Descentralização, ao lado de representantes da Ancine e do ex-presidente da Spcine, Alfredo Manevy, verá nascer a CONNE (Conexão Audiovisual do Centro-Oeste, Norte e Nordeste). Este organismo amplia o alcance da APCNN, que o então ministro Gilberto Gil chamava de “apecenenen”, e que representa os produtores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O novo organismo tem em Vladimir Carvalho, de 82 anos e imensa vitalidade, seu presidente de honra. Mais de 40 cineastas e produtores de Estados como Ceará, Maranhão, Pernambuco, Mato Grosso do Su, Amazonas, Pará, Amapá, Acre, Roraima, Sergipe, Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia, Alagoas, Goiás e Tocantins marcam presença no Seminário. Todos eles assinarão a ata de fundação da Conne.
O Festival de Brasília terá, em seu ano 50, quase metade de seus longas selecionados (quatro em nove) oriundos do Nordeste e Centro-Oeste. Uma vitrine privilegiada do que se faz fora do Eixo Rio-São Paulo. Se a CONNE incluísse o Sul, o placar seria de seis (pois Paraná e Rio Grande do Sul se somariam às produções nordestinas e brasiliense) a três (SP, RJ e MG).
Para a mostra competitiva de curta-metragem, foram selecionados 12 filmes, vindos também de nove Estados: “As Melhores Noites de Veroni”, de Ulisses Artur (Alagoas), “Mamata”, de Marcus Curvelo (Bahia), “Nada”, de Gabriel Martins (MG), “Tentei”, de Laís Melo (Paraná), “Carneiro de Ouro”, de Dácia Ibiapiana (DF), os pernambucanos “O Peixe”, de Jonatas Andrade, e “Baunilha”, de Leo Tabosa, os paulistas “A Passagem”, de Juliana Rojas, “Peripatético”, de Jessica Queiroz, e “Torre”, de Nádia Mangolim, e os cariocas “Inocentes”, de Douglas Soares, e “Chico”, dos Irmãos Carvalho. A presença de nomes femininos na direção também é notável.
Por Maria do Rosário Caetano