Cinema brasileiro: o que veremos em 2018
Há filmes brasileiros com apelo de público para enfrentar a grave queda de bilheterias, verificada em 2017? O tombo, recém-divulgado pela Ancine, constitui quadro dos mais preocupantes: os 16,4% de market share (taxa de ocupação) de 2016 foram reduzidos a 9,6%, um dos menores de nossa história recente. E, para piorar, são sombrios os tempos que se anunciam, com presença cada vez mais sedutora de novos suportes de exibição (Netflix e assemelhados à frente) e menos público nas salas de cinemas.
Se depender do sempre otimista Bruno Wainer, da distribuidora Downtown – parceiro de Márcio Fraccaroli e de sua Paris Filmes no lançamento dos principais candidatos a blockbuster brasileiro –, haverá, sim, produções de peso para vender milhões de ingressos. Um deles é a primeira parte da cinebiografia do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal (“Nada a Perder”, que estreia dia 29 de março). E o outro, uma comédia metalinguística de título divertido e promissor: “A Chibata Sideral”.
E quem é o responsável pela “chibatada” que pretende ser vista por milhões de espectadores? Ninguém mais, ninguém menos que um cineasta cearense – Halder Gomes, fã de Bruce Lee e torcedor do Fortaleza, que no início de sua carreira era visto como um intruso no ninho. Pois o rapaz se aprumou e vem desenvolvendo parceria das mais férteis com Bruno Wainer.
A dupla se formou para distribuir um filme de fundo de quintal, “Cine Holliúdy”. Resultado: quase 500 mil ingressos. Passaram para “O Shaolin do Sertão” e atingiram mais de 650 mil espectadores. Agora, com “Os Parças”, a coisa pegou no breu: 1,6 milhão de ingressos.
“Chibata Sideral” serve de hilário complemento ao nome do segundo filme da trilogia “Cine Holliúdy”, protagonizada pelo lutador de caratê, Edmilson Filho, que no cinema virou Francisgleydisson, exibidor de pequena sala no interior do Nordeste. Um exibidor que quer impedir, a qualquer custo, o fim de seu ofício. Desta vez, para atingir seu objetivo, ele até realizará um filme de ficção científica. O lançamento da “Chibata” está previsto para 14 de junho, mesmo dia de “O Paciente”, sobre a agonia de Tancredo Neves, e “Legalize, Já”, vibrante perfil de Marcelo D2, um dos criadores da banda Planet Hemp.
A Revista de CINEMA perguntou à Bruno Wainer se ele tem ajudado a qualificar os filmes de Halder Gomes com mais recursos financeiros, elencos famosos e supervisão de roteiros. Ele responde: “Halder é um talento. Orgulho-me de ter ajudado este talento a desabrochar. O universo dele é tão autoral que nem entro em suas decisões criativas. O que fiz foi apresentá-lo a novos roteiristas, para que, assim, pudesse exercer a sua criatividade enquanto diretor e criador, tirando dele o peso de acumular também a função de escrever roteiros”.
Wainer prefere não arriscar metas numéricas para seus lançamentos, mas avisa que há, na cartela Paris Filmes-Downtown, mais títulos que prometem boas bilheterias: “O Doutrinador”, adaptação de série de quadrinhos de mesmo nome, com direção de Gustavo Bonafé e Fabio Mendonça, e os dois novos longas-metragens de Roberto Santucci, considerado o “rei do blockbuster” brasileiro (“Os Farofeiros”, com estreia prevista para 8 de março, e “O Candidato Honesto 2”, para o segundo semestre).
A produtora carioca Total Filmes, em parceria com a Fox, chega com candidato a blockbuster construído com DNA mexicano: “Não se Aceitam Devoluções”. O remake brasileiro do filme azteca (escrito, dirigido e protagonizado por Eugenio Derbet) tem desafio gigantesco pela frente. Afinal, os números do longa-metragem made in Mexico são espantosos: vendeu 15 milhões de ingressos em seu mercado interno e 5 milhões nos EUA. Os trunfos brasileiros são o protagonista Leandro Hassum (que divide com Ingrid Guimarães e Paulo “Minha Mãe é uma Peça” Gustavo, o Olimpo dos blockbusters verde-amarelos), a trama melodramática (a construção do amor de um pai por filha pequena que ele nem sabia existir) e o diretor brasiliense André Moraes.
André, que foi músico da banda Sepultura, é trilheiro de sucessos como “Lisbela e o Prisioneiro” e dirigiu apenas um longa (“Entrando Numa Roubada”, com Débora Secco). O filme não estourou nas bilheterias, mas apresentou um realizador energizado e possuído por explícito desejo de dialogar com o grande público. Chance maior que o projeto “Não se Aceitam Devoluções”, André Moraes não encontrará tão cedo.
O Papa e Marighella
A poderosa O2 Filmes, maior produtora de São Paulo, comandada por Fernando Meirelles e sócios, continuará sua trajetória como grande geradora de conteúdo para TV. Sem esquecer sua cartela de produções e coproduções cinematográficas. Afinal, foi um filme, “Cidade de Deus” (3,2 milhões de ingressos, em 2002), que a projetou nacional e internacionalmente. As novidades da O2 são muitas.
“Como produtor” – conta Meirelles, que dirige “The Pope” (O Papa) para Netflix – “estou metido em muitos filmes, não apenas em “Marighella”. Neste, confessa, “estou presente até no set”. Fora o filme de Wagner Moura, o cineasta é coprodutor de vários títulos da carteira da Globo Filmes: “O Nome da Morte”, de Henrique Goldman, “ Mulheres Alteradas”, de Luís Pinheiro, “Aos teus Olhos”, de Carolina Jabor, “Ferrugem”, de Aly Muritiba, “Eduardo e Mônica”, de Renê Sampaio , “Colegas 2”, de Marcelo Galvão, “Os Suburbanos”, de Luciano Sabino, “Coreografia da Vida”, “Loop”, “A Menina Azul”, “Madeira de Lei”, “Terapia da Vingança”, “Derrapada”, “O Grampo” etc., etc.
Bem-humorado, o cineasta arremata: “dá trabalho este emprego”, avisando que, “fora estas coisas, minha meta é conseguir fazer um bom VR (virtual reality) ainda este ano. Estou fascinado com as possibilidades do formato”.
No terreno da produção para TV, o produtor destaca “Pico da Neblina”, série da O2 para a HBO, que dirige junto com o filho Quico. São 10 episódios “com o Emicida, se tudo der certo”. E avisa: “rodaremos de julho em diante. Tenho que dirigir ao menos três episódios”. Já a série “Experientes” chega à sua segunda temporada. “Realizamos a primeira para a Globo e ela foi indicada ao Emmy e ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), em 2016”. Agora, “a Globo resolveu retomar o projeto, no qual dirijo apenas um episódio”.
Ânimo não falta ao diretor de “Cidade de Deus”. Além das séries e de “The Pope”, filme centrado em diálogo entre dois papas, o germânico Bento XVI e o Papa Francisco, primeiro latino-americano a comandar a Igreja Católica, ele cuida da cereja do bolo cinematográfico da O2, este ano: “Marighella”, o épico guerrilheiro de Wagner Moura.
O ator, que protagonizou (na pele do Capitão Nascimento) o mais legítimo blockbuster brasileiro (“Tropa de Elite 2”: mais de onze milhões de ingressos, sem ajuda da Igreja Universal), deixou carreira internacional consagradora (foi indicado ao Emmy, pelo Pablo Escobar de “Narcos”) para cinebiografar o conterrâneo Carlos Marighella. O Boletim Filme B anuncia o lançamento do filme para o dia 20 de setembro. Mas o cineasta disse à Folha de S. Paulo que o lançamento só deve ocorrer em 2019 (primeiro, nos cinemas, depois, como minissérie, na Globo).
A Conspiração, grande produtora carioca, também segue firme na geração de conteúdos para a TV aberta (caso da bem-sucedida e premiada série “Sob Pressão”) e TV por assinatura. O “conspirador” Leonardo Monteiro de Barros conta que, para este ano, dois filmes dirigidos por integrantes da produtora serão lançados: “Aos teus Olhos”, de Carolina Jabor, protagonizado por Daniel Oliveira (dia 12 de abril) e o suspense sobrenatural “O Juízo”, roteiro de Fernanda Torres, dirigido por Andrucha Waddington. Este filme, com elenco de peso (Felipe Camargo, Criolo, Carolina Castro, Fernanda Montenegro e Lima Duarte) terá distribuição da poderosa Paris Filmes. A data de lançamento ainda não foi definida.
Monteiro de Barros lembra que “a Conspiração produz mais de 100 novas horas de programação de TV a cada ano”, o que não a impede de realizar novos filmes. “Estamos cuidando de três novos projetos cinematográficos: a cinebiografia “Allan Kardec” e duas comédias românticas (“Sem Filtro”, remake do blockbuster chileno “Sin Filtro”, e “L.O.C.A – Liga das Obsessivas Compulsivas de Amor”).
Mariza Leão, da Morena Filmes, tem dois lançamentos para este ano. Um, dirigido por Sérgio Rezende (“O Paciente”) e outro de Júlia Rezende (“Como é Cruel Viver Assim”). No final do ano, a produtora lança “De Pernas Pro Ar 3”, protagonizado, mais uma vez, pela “rainha do blockbuster brasileiro”, Ingrid Guimarães (o recente “Fala Sério, Mãe!”, que ela divide com Larissa Manoela, se aproxima dos 3 milhões de ingressos).
“O Paciente”, com Othon Bastos, Esther Goes, Leonardo Medeiros, Paulo Betti e Emilio Dantas, é um thriller médico que conta os bastidores da morte de Tancredo Neves, após 7 intervenções cirúrgicas.
“Como é Cruel Viver Assim”, exibido na Première do Festival do Rio, passará pelo Miami Internacional Film Festival e pelo Chicago Latino Film Festival. No elenco, estão Marcelo Valle, Fabíola Nascimento, Silvio Guindane e Debora Lamm. A trama se desenvolve “em ritmo de comédia ácida, em torno de quatro losers sem perspectiva alguma em suas vidas”.
No segundo semestre, Mariza Leão comandará as filmagens de “Depois a Louca Sou Eu”, baseado em livro de Tati Bernardi, também com direção de Júlia Rezende. “No final do ano” – avisa – “começaremos a preparação do ‘Eike’, com direção do João Jardim”. E, para mostrar que não vive de improviso, a produtora carioca já cuida do desenvolvimento de quatro roteiros para filmagens em 2019.
Paula Barreto, à frente da LC Barreto, uma das mais tradicionais produtoras do país, está concentrada na geração de conteúdo para TV. Sem esquecer filmes para cinema.
Na cartela da LC Barreto há três séries em processo e um filme – “Amor sem Fronteira”, comédia romântica de Marcelo Santiago, coprodução com a Patagonik argentina. No elenco, estão Luana Piovani, Paulo Tiefenthaler, Maria Clara Gueiros, Gabi Lopes, Guida Vianna, Toni Garrido e os argentinos Aylin Prandi e Francisco Andrade.
Para a TV, a produtora criada por Luiz Carlos Barreto (que fará 90 anos em maio próximo), realiza “Toda Forma de Amor”, “O Negro no Futebol” e “Escravidão no Século XXI”.
“Toda Forma de Amor” compõe-se com cinco episódios dirigidos pelo experiente Bruno Barreto, para o Canal Brasil. No elenco, estão Guta Ruiz, Rômulo Arantes Neto e grande elenco. Paula explica que “a série aborda universo pouco visitado pela dramaturgia de televisão – a comunidade LGBT”. E o faz “sem apelar para estereótipos, flertando com gênero policial e romântico”.
“O Negro no Futebol”, de Gustavo Acioly, narra, em quatro episódios, a trajetória dos afro-brasileiros nos gramados brasileiros. Paula detalha: “mostramos a entrada dos primeiros negros nos times de futebol brasileiros até os dias de hoje”. A HBO exibirá a série antes da Copa do Mundo, que tem a Rússia como sede.
“Escravidão no Século XXI”, série com 5 episódios, tem direção de Marcelo Santiago e direção geral de Bruno Barreto. Como o nome indica, esta série, a ser apresentada pela HBO, mostrará formas de exploração de mão de obra humana no tempo presente.
Baixo Orçamento
No terreno dos filmes de baixo custo, aqueles que não estouram nas bilheterias, mas têm valor cultural significativo, um nome impõe-se com força única: o do ex-lutador de judô, Cavi Borges. Sua produtora, a Cavideo, que nasceu como locadora, dispõe de invejável cartela de produções e lançamentos para este ano.
“Tenho 11 longas para lançar em festivais e nas salas de cinemas”, conta, com seu sorriso largo e generoso. “Queria só dirigir meus filmes, mas não resisto aos convites do amigos”. Dá um exemplo: “como dizer não a Sérgio Ricardo”?
“Bandeira de Retalhos”, que Cavi produziu em parceria com o Canal Brasil, marca a volta do octogenário cantor, compositor (inclusive da trilha de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”), pintor e cineasta (de poucos, mas significativos filmes). O criador de “Beto Bom de Bola”, canção cujas vaias o levaram a perder a calma e quebrar o violão num festival de MPB, não dirigia um longa há 44 anos. Volta à ativa com adaptação cinematográfica de peça teatral que ele mesmo escreveu e que foi montada pelo Grupo Nós do Morro (um dos esteios do filme “Cidade de Deus”). À trupe do Vidigal, somaram-se atores como Osmar Prado, Antônio Pitanga e Bemvindo Sequeira. Babu Santana, cria dos Nós do Morro, vive um traficante, em participação que ele considera “muito especial”.
Cavi Borges enumera suas dez novas produções e realizações: os documentários “Neville D’Almeida – Cronista da Beleza e do Caos”, de Mario Abadde, “Geração Semente”, de Patricia Terra, “Surf no Alemão”, de Eduardo BR, e “Heróis”, do próprio Cavi. E as ficções “Os Príncipes”, de Luiz Rosemberg Filho, “Vende-se esta Moto”, de Marcus Faustini, “Incógnita X”, de Leandro Franz, “Quebranto”, de José Sette de Barros, “O que Seria deste Mundo sem Paixão”, de Luiz Carlos Lacerda, e “Salto no Vazio”, de Cavi Borges e Patricia Niedermeier.
Safra documental
O cinema documental vem marcando presença firme em nossos cinemas, mesmo que em horários raros e vespertinos. Um dos primeiros lançamentos desta temporada é “A Luta do Século”, do baiano Sérgio Machado. Ao invés de fazer sensacionalismo com a luta de dois boxeadores vindos das periferias pernambucanas (o mestiço Luciano Todo Duro) e baianas (o negro Reginaldo Holyfield), o diretor de “Cidade Baixa” desenha terna radiografia do que fazem brasileiros pobres para enfrentar a miséria.
Joel Zito Araújo, diretor do contundente “A Negação do Brasil”, segue em sua saga de narrativas negras. Em seu novo filme, o longa documental “Fela”, ele registra as relações fraternas e conturbadas do cantor e multi-instrumentista nigeriano Fela Kuti (1938-1997) e seu biógrafo, o cubano (radicado na Bahia) Carlos Moore.
O realizador define seus personagens: “Fela e Moore são dois pan-africanistas militantes. A história deles condensa as tragédias e glórias dessa geração”. O documentário, pontua, “está no terceiro corte. Neste momento, estou negociando direitos, de música e imagens, que são muitos. A parte das músicas já está resolvida. A parte das imagens é mais fácil, porém muito demorada, pois implica encontrar os donos de cada trechinho, de cada fotograma. Espero que o filme fique pronto em abril para começar sua trajetória em festivais”.
Muitas biografias continuarão compondo a matéria-prima da produção documental brasileira, ao longo de 2018. André di Mauro biografa um parente ilustre, Humberto Mauro, criador de “Ganga Bruta” e de dezenas de documentários produzidos pelo Ince (Instituto Nacional do Cinema Educativo). Com apoio da Globonews, finalmente um realizador (Lucas H. Rossi) desencantará a tantas vezes anunciada cinebiografia do ator Sebastião Prata, parceiro de Oscarito em chanchadas memoráveis (“Othelo, o Grande”).
Na Paraíba, Marcus Vilar e Cacá Teixeira finalizam ritmado retrato de Jackson do Pandeiro. No mesmo Estado nordestino, Cláudio Brito realiza mais um filme sobre Ariano Suassuna, para fechar sua Tetralogia Suassassuniana. E já tem pronta boa parte da cinebiografia do compositor e escritor Bráulio Tavares. A carioca Emília Silveira lança “Callado”, seu delicado retrato do autor de “Quarup” e “Reflexos do Baile”. Joel Pizzini finaliza com “Rio da Dúvida”, ensaio poético que trará muito da trajetória do Marechal Cândido Rondon.
No terreno do documentário político (ou “cinema urgente”), a safra 2018 tem títulos em quantidade para inundar as telas (mesmo que em horários alternativos). Tudo começa com a participação de Maria Augusta Ramos no Festival de Berlim (10 a 25 de fevereiro), com “O Processo”, um dos mais esperados filmes sobre o “golpe parlamentar” materializado no impeachment de Dilma Roussef.
Ao longo do ano, devem chegar às telas os longas documentais “Impeachment – Dois Pesos e Duas Medidas”, de Petra Costa, “No Palácio” (título provisório), de Anna Muylaert, Lô Politi e Cesar Charlone (sobre os últimos dias de Dilma no Palácio da Alvorada), “Excelentíssimos”, de Douglas Duarte (que chegou a ter subtítulo provisório dos mais provocadores: “A Gangue da Gravata de Seda”), sobre o Parlamento brasileiro, “Filme Manifesto – O Golpe de Estado”, de Paula Fabiano, “Esquerda em Transe”, de Renato Tapajós (já apresentado no Festival de Havana), “Um Domingo de 53 Horas”, de Cristiano Vieira, , “Impeachment Visto do Sul”, de Boca Migotto, “O Muro”, de Lula Buarque de Hollanda, “Operação de Garantia da Lei e da Ordem”, de Júlia Murat e Miguel Ramos, “Missão 115”, de Silvio Da-Rin, e “Escolas em Luta”, de Consonni, Marques e Tambelli.
No Festival de Berlim, o gênero documental abriu generosas portas para o cinema brasileiro. Além de “O Processo”, lá estarão “Ex-Pajé”, de Luiz Bolognesi, “Aeroporto Central”, de Karim Ainouz, e “Bixa Travesty”, de Claudia Priscila e Kiko Goifman.
O ano da Animação
O cinema de animação brasileiro vive este ano de 2018 como “tempo de muitas comemorações”. Pela primeira vez, festeja o lançamento, num só ano (2017) de seis longas-metragens (todos pré-indicados aos Prêmios Platino-Melhores do Cinema Ibero-Americano). Para completar, os associados da ABCA (Associação Brasileira de Cinema de Animação) preparam-se para o Festival Internacional de Annecy (11 a 16 de junho), meca do gênero. O Brasil, que venceu duas edições do evento, nos últimos cinco anos (com “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, e “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu) é o país a ser festejado pelo festival francês, devido à relevância de sua produção animada.
Arnaldo Galvão, um dos integrantes da ABCA, está eufórico com os rumos tomados pela animação brasileira. “Este ano, se der tudo certo” – anuncia – “devemos lançar em Annecy os longas “Tito e os Pássaros”, de Gustavo Steinberg, e “A Cidade dos Piratas”, de Otto Guerra”. E mais: “temos uns 30 filmes ‘na garagem’, em diversas etapas, aguardando que os processos sejam acelerados e possamos deslanchar um pouquinho mais rápido”.
Galvão cita “a produtora Jodaf, de João Daniel Thikomiroff, que depois de fazer versão animada do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ engatou a produção de “Vivi Viravento”. E lembra que “a O2 Filmes também tem enorme interesse pelo gênero, praticado por Quico Meirelles, jovem realizador, filho do produtor e cineasta Fernando Meirelles”.
Para completar a euforia dos animadores, em meados deste ano, a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) lança, em parceria com a Editora Letramento e o Canal Brasil, o livro “100 Melhores Animações Brasileiras”, em formato álbum. O livro tem lançamento previsto para Annecy, na França, e, depois, no Festival Anima Mundi, no Rio e em São Paulo.
A baiana Cândida Liberato, presidente da ABCA, está tão entusiasmada quanto o colega Arnaldo Brandão. “Viveremos um bom ano para o cinema de animação” – postula – “porque temos muitos projetos espalhados por várias regiões brasileiras. Aqui na Bahia, nossa produtora prepara um longa-metragem que vai somar documentário e animação para narrar a trajetória de meu pai, o artista plástico e cineasta Chico Liberato”.
A direção de “A Vida é da Cor que Pintamos” (nome do filme) será de Jorge Alfredo Guimarães, diretor de ‘Samba Riachão’ e o roteiro de Newton Cannito e da atriz Ingra Lyberato.
Produção regional
“No final de 2017” – detalha Cândida Liberato – “o Governo do Estado da Bahia lançou edital de conteúdos para televisão que deve contemplar, ao longo deste ano, cerca de 30 projetos. Em 2016, promoveram edital que contemplou três projetos de longa-metragem, todos em fase de produção e finalização”.
A documentarista e produtora Paula Gomes (do festejado “Jonas e o Circo sem Lona”) conta que, depois do lançamento de “A Luta do Século”, dois novos longas baianos chegarão aos festivais e aos cinemas: “Guerra do Algodão”, de Cláudio Marques, que está em fase de pós-produção, e “Filho de Boi”, de Haroldo Borges (do Coletivo Plano 3 Filmes).
De Pernambuco, um dos mais importantes polos regionais de produção brasileira, virão novos filmes de Lírio Ferreira (“Acqua Movie”), Kleber Mendonça (“Bacurau”), Marcelo Lordello (“Paterna”), Gabriel Mascaro (“Overgod), entre outros.
Do Rio Grande do Sul, outra força regional, virão o novo longa de Jorge Furtado (“Rasga Coração”, baseado em texto dramático de Oduvaldo Viana Filho), “Legalidade”, filme sobre campanha liderada por Leonel Brizola para garantir a posse do vice João Goulart, na Presidência, em 1961) e o novo filme (“Tinta Bruta”) da dupla Márcio Reolon e Felipe Matzembacher, os autores do belo “Beira-Mar”.
De Minas Gerais, vem “Arábia”, de Affonso Uchoa e João Dumans, vencedor do Festival de Brasília, com lançamento agendado para abril. E também “Baixo Centro”, de Ewerton Belico e Samuel Marotta, vencedor da Mostra de Tiradentes, e “Imo”, de Bruna Scheb Correa (com Giovanna Tintori, Mc Xuxu e Helena Frade).
Do Maranhão, virão mais dois longas do incansável realizador, produtor e exibidor Frederico Machado: “Boi de Lágrimas” e “As Órbitas da Água”. E da Paraíba, famosa por seus documentários, três ficções: o terror histórico “Nó do Diabo”, de quatro realizadores (com Zezé Motta e Isabel Zua no elenco), “Rebento”, de André Morais (com Zezita Matos e Fernando Teixeira), e “Beiço de Estrada”, de Eliezer Rolim (com Darlene Glória e Mayana Neiva).
Do Paraná, chega o segundo longa ficcional de Aly Muritiba (“Ferrugem”), um dos títulos brasileiros selecionados para o Sundance Festival (o outro foi “Benzinho”, de Gustavo Pizzi). O cineasta baiano-paranaense fará seu terceiro longa ficcional, em breve, com produção de Rodrigo Teixeira (“Barba Ensopada de Sangue”).
Por falar em Rodrigo Teixeira, o nome da hora no cinema brasileiro (ele disputa o Oscar com “Me Chame pelo seu Nome”), e há que se destacar que viverá um 2018 cheio de som e fúria. Afinal, lançará “Animal Cordial”, de Gabriela Amaral de Almeida, e “ Severina”, de Felipe Hirsh, e produzirá “A Vida Invisível”, de Karim Ainouz, e “Suicidas”, de Matheus Souza. Comandará, ainda, a adaptação de “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, adaptação do livo homônimo de Fernando Morais, sob o comando de ninguém mais, ninguém menos, que Olivier Assayas, diretor do mais eletrizante thriller político do audiovisual contemporâneo, “Carlos”, sobre o guerrilheiro venezuelano conhecido como “O Chacal”.
Por Maria do Rosário Caetano
ATORES E CINEASTAS FICAM DEFENDENDO A IDEOLOGIA SOCIALISTA E O BANDIDO DO LULA, DEPOIS RECLAMAM DA QUEDA NAS BILHETERIAS!