Prá Ficar na História

“Prá Ficar na História”, novo documentário do cineasta Boca Migotto, chega aos cinema de Porto Alegre e Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 8 de março.

Autor do longa “Filme sobre um Bom Fim” e de quinze curtas e médias-metragens, muitos deles produzidos para canais de TV, Migotto torce para que seu novo documentário alcance receptividade similar à recebida pelo primeiro. Pelo menos em seu estado natal, o Rio Grande do Sul.

“Filme sobre um Bom Fim” permaneceu em cartaz, em Porto Alegre, durante 16 semanas. Tornou-se um “tchê cult” por retratar e festejar a geração que, na década de 1980, participou da transição do período ditatorial para a democracia. Jovens portalegrenses, que frequentavam ou viviam no mítico bairro do Bom Fim, dedicaram-se, com rara energia e paixão, ao cinema, à música e ao teatro, fertilizando e trocando ideias, calibradas com muitas doses etílicas, em bares boêmios.

Boca Migotto, gaúcho de Carlos Barbosa, fará 42 anos neste sábado, 10. Se sentirá presenteado se o público assistir ao seu “Prá Ficar na História” nas telas grandes do circuito exibidor. Depois, seu documentário chegará a TV, pois é fruto de parceria da GloboNews com produtores independentes, que já rendeu 64 longas documentais.

O Rio Grande do Sul, aliás, vem marcando presença significativa neste projeto de documentários apoiados pelo canal jornalístico das Organizações Globo. Vide o sucesso de “Cidades Fantasmas”, de Tyrell Spencer, vencedor do Festival É Tudo Verdade 2017, e de “Quem é Primavera das Neves”, de Jorge Furtado e Ana Luíza Azevedo.

Entre os 64 primeiros documentários apoiados pela GloboNews destacam-se “Menino 45”, de Belisário Franca, “Pitanga”, de Beto Brant e Camila Pitanga, “Cartas para um Ladrão de Livros”, de Carlos Juliano e Caio Cavecchini, “Setenta”, “Galeria F”, “Silêncio no Estúdio” e o inédito “Callado”, todos de Emília Silveira, “Surf no Alemão”, de Eduardo BR e Cleber Alves, “A Imagem da Tolerância”, de Joana Mariani e Paula Trabusi, e “Rio do Medo”, de Ernesto Rodrigues.

O foco de “Prá Ficar na História” recai sobre um ítalo-descendente, o veterinário Luiz Henrique Fitarelli, que, há dez anos, constrói seu próprio povoado colonial, no município de Garibaldi. O aglomerado de casas é conhecido como Villa Fitarelli e serve, também, como museu e locação para filmes e novelas de época, como a recente “Tempo de Amar”, da TV Globo.

A pré-estreia do longa de Migotto, no município de Garibaldi, no sábado, 3 de março, em cinema montado a céu aberto, causou sensação e mobilizou grande plateia. Outras cidades habitadas por descendentes de italianos – Caxias do Sul e Bento Gonçalves – terão, também, sessões especiais do filme.

“Prá Ficar na História” é bem diferente de “Um Filme para um Bom Fim”. Neste, depoimentos somavam-se a material de arquivo, ao revisitar os afetos de quem viveu no bairro portalegrense. Agora, Bocca Migotto acompanha seu protagonista em suas andanças e conversas com outros integrantes da comunidade ítalo-brasileira e peninsular. E o faz escorado em dois dos melhores profissionais de cinema do Rio Grande do Sul: o diretor de fotografia Bruno Polidoro e a técnica de som Gabriela Bervian (ambos também cineastas). As imagens registradas por Polidoro são de imensa beleza e o som captado por Gabriela, de primeira qualidade.

Migotto conta que a equipe do filme pode, graças aos apoios mobilizados pelo projeto, trabalhar em dois continentes. “Nós acompanhamos a rotina de Luiz Fitarei, durante 17 dias, captando imagens em Garibaldi, na Serra Gaúcha, e nas cidades italianas de Lentiai, Marostica, Canal San Bovo e Padova”.

O cineasta, que assina também o roteiro do filme, entendeu que levar seu protagonista ao norte da Itália, região de onde vieram seus avós, permitiria a ele percorrer, em caminho inverso, trajeto e emoções vividas por seus antepassados. Assim, argumenta, “ao buscar e encontrar suas origens, Fitarelli enriqueceria o nosso filme”.

“Prá Ficar na História” problematiza a ação do veterinário e colecionador gaúcho, que sai de casa em casa, comprando peças antigas, móveis de madeira e assemelhados, para restaurá-los e, muitas vezes, vendê-los a preços que geram lucros. O inquieto ítalo-brasileiro se defende, escorado em sua luta pela preservação da memória dos pioneiros que aqui chegaram, vindo, em maioria, de regiões pobres da Itália. Vieram fazer a América.

“Fitarelli”, lembra Boca Migotto, “é um apaixonado por antiguidades”. Desde os 12 anos, “coleciona os objetos de seu acervo, que soma milhares de itens” (de barris de vinho, passando por móveis coloniais e chegando a diversos tipos de ferramentas de trabalho). “Com recursos próprios” – registra – “ele conseguiu construir autêntica vila do final do século XIX, que inclui capela, estábulos e moinho com roda de água”. Por isto, “passou a ser visto como uma figura incomum, que empenhou muito dinheiro na construção desta réplica de uma vila italiana”.

O cineasta descobriu seu personagem, em 2009, ao gravar série de televisão dentro da Villa Fitarelli. Encantou-se com aquele “excêntrico personagem”, que trazia muito de “visionário”. A ideia do documentário os uniu.

Boca Migotto vive de e para o cinema. É professor do Curso de Realização Audiovisual da Unisinos. Formou-se em Publicidade e fez mestrado em Cinema, na mesma Unisinos. Depois de estudar na Saint Martins College, em Londres, ingressou no doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fundou, com sócios, a Epifania Filmes. Dois anos atrás, criou a Teimoso Filmes e Artes. Entre seus trabalhos no cinema e na TV, Migotto destaca “Sapore d’Italia” (2013), primeira série de ficção da RBS-TV gravada no exterior, “Bocheiros” (2014), série de ficcional exibida pela TV Educativa gaúcha e pelo canal por assinatura Prime Box Brazil, e o documentário “Filme sobre um Bom Fim” (2015), selecionado para o Festival É Tudo Verdade.

 

Por Maria do Rosário Caetano

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.