Demonstração de forças
Os números comprovam: o RCM (Rio Content Market), que agora se transforma em algo maior, abraçando outras áreas da economia criativa, está sendo a principal alavanca de negócios do setor, neste momento de crescimento interno e necessidade de expansão para o campo internacional. O evento agora chama-se Rio2C (Rio Creative Conference), englobando o RCM, e tem o objetivo de fazer no Brasil uma espécie de South by Southwest (SXSW), evento anual que ocorre simultaneamente em quase todo o perímetro da cidade de Austin, no Texas (EUA), agregando festivais de cinema, música e tecnologia. O R2C terá um enfoque maior nos negócios de televisão, que é o grande chamariz do evento, que acontece de 3 a 8 de abril, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. São esperadas mais de 5.500 pessoas e que os negócios ultrapassem os R$ 100 milhões fechados o ano passado.
O RCM completa oito anos consolidado como o maior evento de negócios do setor audiovisual da América Latina; este se uniu ao mercado da música e da inovação tecnológica, mas mantém o seu espectro de mercado de aproximação entre diferentes agentes do setor como era antes. Até o ano passado, o RCM era realizado dentro de um hotel, reunindo os agentes brasileiros e estrangeiros do setor, que participavam das conferências e dos pitchings nas salas que eram montadas apenas durante a feira, com espaço limitado para até 3,8 mil delegados. Ao atingir a capacidade máxima em 2017, a Brasil Audiovisual Independente (BRAVI), entidade responsável por todo o evento, decidiu repensar o formato.
Segundo Mauro Garcia, presidente-executivo da BRAVI, o principal ponto de reflexão foi que não se queria perder a vocação principal da entidade, que é a de representação dos produtores de conteúdo audiovisual independente. “O RCM demandava cerca de seis meses de preparação, todos os anos. E não tínhamos mais capacidade operacional de crescimento. Foi, então, que surgiu essa parceria para ampliar o evento, a partir do sucesso do RCM, e transformá-lo no R2C. Com isso, a BRAVI passou a supervisionar a produção, fazendo, principalmente, a consultoria da curadoria”, explica ele.
Coprodução e mercado global
Dentre os destaques do audiovisual na programação, está um grupo de realizadores e roteiristas latino-americanos que participarão do RCM para debater o desenvolvimento de séries originais para a Netflix, com mediação de Maria Angela de Jesus e Diego Avalos. O argentino Daniel Burman é um dos convidados, assim como os brasileiros Felipe Braga e Elena Soárez, o espanhol Pedro Aguilera e a mexicana Natassja Ybarra. No encontro, eles vão explicar os desafios de criar conteúdos para uma audiência global.
A coprodução internacional será o assunto principal do espaço Be Brasil, uma espécie de estande da Apex-Brasil, que vai reunir os representantes e as empresas associadas dos cinco projetos setoriais da agência de exportação, voltados para a economia criativa: Brazilian Content, Cinema do Brasil, Film Brazil, Brazilian Game Developers e Brasil Music Exchange.
Canais internacionais são destaques
No dia 4 de abril, haverá palestras de agentes franceses que estão buscando parcerias com os latino-americanos. Do conglomerado Vivendi – que abarca o Canal Plus, o que mais investe na produção de cinema da França –, estará presente Soizic Gelbard, gerente de projetos internacionais. Ela vai apresentar a linha editorial da Vivendi, as estratégias de coprodução com sócios na América Latina e o que os seus canais estão buscando no mercado. Nessa mesa, o mediador será o produtor brasileiro Caio Gullane.
O canal franco-alemão Arte será representado por Alexander Knetig, editor-chefe do Arte Creative, que privilegia uma programação de cultura jovem. Na sua fala, ele deverá enfatizar aspectos de concepção, produção, coprodução e distribuição de obras de documentário, ficção e conteúdo interativo, como realidade virtual e games. Rafael Calil, da Duo2, será o moderador.
A francesa Gaumont, da mesma forma, vai participar do RCM por meio do seu vice-presidente, Ezequiel Olzanski. No encontro com os produtores brasileiros, ele pretende abordar as estratégias de coprodução e distribuição na América Latina, e haverá intervenções de Marco Altberg, da Indiana Produções e ex-presidente da BRAVI, durante o painel.
Por fim, a France Télévisions será representada por Pierre Siracusa, chefe do programa de animação do canal, que é considerado o líder em parcerias e o maior investidor de animação na Europa. Na mesa, ele deve comentar sobre os modelos de negócio de coprodução internacional para séries e minisséries de animação, com participação de Daniela Vieira.
Alexi Wheeler, diretor de animação do canal Nickelodeon International, baseado em Londres, participa do evento trazendo novidades sobre o desenvolvimento de séries originais e apontando caminhos para novas aquisições e coproduções. Luciana Eguti, da produtora Birdo, deve acompanhar o encontro.
No dia seguinte, a animação ainda será tema de uma das mesas, focada em investimentos em conteúdo original e estratégias de aquisição da Disney USA. Jermaine Turner representa o estúdio estadunidense e divide a mesa com Carina Schulze, da Chatrone, e Zé Brandão, da Copa Studio.
As rodadas internacionais seguirão com foco na coprodução ao longo do resto da programação, com palestras sobre parcerias com produtores e realizadores do Reino Unido, Alemanha, Chile, China e Coreia do Sul. Haverá um debate específico sobre coprodução internacional com Gustavo Rolla, novo chefe da Assessoria Internacional da Ancine, e Rachel do Valle, gerente executiva do Brazilian Content, projeto de exportação da BRAVI.
O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, e o diretor-presidente da Ancine, Christian de Castro, igualmente, estarão presentes para apresentar as novas diretrizes para o audiovisual, especialmente no que se refere ao fomento, capacitação profissional, infraestrutura e inovação. Luciane Gorgulho, chefe do departamento de Economia Criativa do BNDES, vai participar do painel sobre as linhas de investimento do banco para o setor.
Conteúdos em pauta
O criador e showrunner de “The Handmaid’s Tale”, Bruce Miller, é um dos nomes mais aguardados do R2C. A primeira temporada da série estreou no Brasil em março, depois de ganhar oito prêmios Emmy e o Globo de Ouro de Melhor Série de Drama e Melhor Atriz (troféu recebido por Elizabeth Moss), neste ano. Nos EUA, a produção já está na segunda temporada.
A curadoria do evento também destaca a vinda de Chance Glasco, um dos fundadores da franquia “Call of Duty”, da Doghead Simulations, jogo com mais de 100 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. O norte-americano Bob Lefsetz vai apresentar um painel sobre algoritmos e a nova realidade da música no mundo digital. Adam Anders, autor da trilha sonora das séries “Glee”, “Gray’s Anatomy” e “American Horror Story”, estará no R2C para falar sobre direção musical.
O conteúdo para plataformas globais também será o tema das apresentações de Amy Gravitt, vice-presidente da HBO Programming, Bernardo Loyola, produtor executivo da Viceland, e Figs Jackman, líder de desenvolvimento global da Spring Films. Na pauta principal, estarão as comédias originais e o desenvolvimento de narrativas para diferentes gêneros de filmes e séries.
Com tudo isso, o R2C pretende ser um aglutinador das várias esferas da economia criativa, trabalhando em sintonia com as áreas que estão interligadas ao próprio audiovisual, conforme define Mauro Garcia.
Por Belisa Figueiró