Festival Varilux leva filmes franceses a 88 cidades brasileiras
O Festival Varilux vê sua edição 2018 transformar-se na maior maratona de exibição de uma única cinematografia (a francesa) no mundo. Desta segunda-feira, 4 de junho, quando o evento terá abertura especial em Salvador, na Bahia, até dia 20, exatas 88 cidades brasileiras (de São Paulo a Ananindeua, no Pará, de Brasília a Uruguaiana, do Rio de Janeiro a Fortaleza, de Florianópolis a Maceió) estarão exibindo 20 filmes contemporâneos realizados pela França, Quebec, Bélgica e países do Magreb (África árabe). A eles, se agregará, no núcleo histórico, o thriller político “Z” (1969), do grego Constantin Costa-Gavras, naturalizado cidadão francês. Serão exibidos, ainda, sete curtas-metragens, haverá mostra (e masterclass) de Realidade Virtual e encontro entre produtores franceses e seus colegas brasileiros, para discussão de futuras parcerias.
Depois da abertura baiana, chamada eufemisticamente de pré-estreia, acontecerá a abertura para valer, em São Paulo, maior mercado de cinema do país (nesta quarta, dia 6), com atores e diretores de cinco filmes que serão, excepcionalmente, exibidos de graça e debatidos com integrantes de suas equipes. Na quinta, 7, mais uma abertura especial, desta vez no Rio de Janeiro. Também com participação de atores e diretores franceses.
A ampliação do alcance da nova edição do Festival Varilux de Cinema Francês tem a ver com o Sesc (Serviço Social do Comércio), que usará 25 de suas unidades espalhadas pelo território brasileiro, para mostrar quinze dos 21 filmes selecionados. No total, o público brasileiro assistirá a dezoito ficções, um documentário (“A Busca do Chef Ducasse”, força gastronômico-cinematográfica da maratona), uma animação (“A Raposa Má”) e o clássico “Z”. Estes serão exibidos em cinemas comerciais de 63 cidades.
A França colhe, com a grandeza do Festival Varilux em sua versão brasileira, as sementes que plantou. Nos últimos dez anos, o país e suas agências de fomento cinematográfico apostaram alto no mercado brasileiro. Além dos filmes selecionados, o Varilux tem trazido ao grande país latino-americano, alguns de seus maiores astros. Este ano, a estrela que comandará o grupo de convidados é Jérémie Renier, ator-fetiche dos Irmãos Dardenne.
A virada, para valer, do Varilux, em nosso país, se deu no ano passado. Durante a maratona, os filmes selecionados foram vistos por 180 mil brasileiros. Agora, graças à parceria com o Sesc (e às novas salas), este número poderá crescer ainda mais. E mesmo que não cresça, o Brasil já superou – e bem – a Austrália, país que sediava a maior maratona de cinema francês no mundo.
O intenso desejo de conquistar público para suas produções e coproduções levou as autoridades cinematográficas francesas a apostar, com ênfase, em comédias populares. Desde o triunfo de “Intocáveis” (com Omar Sy e François Cluzet) – 20 milhões de ingressos na França e 23 milhões mundo afora, sendo um milhão deles brasileiros – tornou-se explícita a intenção de mostrar que o país da Nouvelle Vague também faz cinema popular. Tal postura tornou-se política de Estado e o Festival Varilux é sua mais ousada vitrine. Mas, há que se registrar, o pluralismo continua sendo a marca visível na hora de se fazer a seleção dos longas-metragens.
Este ano, há filme com Isabelle Huppert interpretando ela mesma (“Marvin”, de Anne Fontaine), Vincent Cassel encarnando “Gauguin – Viagem no Paraíso” (a França conhece o poder de sedução de seus grandes pintores), Daniel Auteuil, em “Orgulho”, Vincent Lindon, em “A Aparição”, Romain “Gadjo Loco” Duris, em “O Último Suspiro”, e Pierre Niney , em “Promessa ao Amanhecer”.
A imprensa já criou nova designação – Nouvelle Guarde – para designar os novíssimos cineastas do país que, com a turma da Nouvelle Vague, renovou o cinema moderno. Três diretores representaram, no Varilux, o “movimento”: Xavier Legrand (“Custódia”), Antony Cordier (“A Excêntrica Família de Gaspard”) e Fabien Gorgeat (“O Poder de Diane”).
Há espaço, também, para superproduções históricas, ambientadas em magníficos palácios franceses, com figurinos de tirar o fôlego. O representante desta vertente, que já nos premiou com o arrebatador “A Rainha Margot” (Patrice Chereau, 1995), é “Troca de Rainhas”, de Marc Dugain. No elenco, Lambert Wilson e Olivier Gourmet (este, outro ator-fetiche dos Irmãos Dardenne). O Varilux não poderia esquecer, claro, os filmes que brilharam na noite do Cesar, o Oscar francês. Caso de “Nos Vemos no Paraíso”, de Albert Dupontel (cinco estatuetas).
O cinema de animação se faz representar por “A Raposa Má”, de Benjamin e Patrick Imber, e o filme para toda família marca presença com “O Retorno do Herói”, de Laurent Tirard, o mesmo do encantador “O Pequeno Nicolau”(o “herói” do novo título é o astro Jean “O Artista” Dujardin). O cinema de gênero também foi escalado para a festa francesa com “O Amante Duplo”, de François Ozon, e “Carnívoras”, de Jérémie Renier e seu irmão Yannick.
Ozon é velho conhecido dos cinéfilos brasileiros por filmes como “Swimming Pool”, “Sob a Areia”, “Oito Mulheres”, “Jovem e Bela” e “Frantz”. Para o cartaz desta edição do Varilux, foi escolhida imagem de “O Amante Duplo”. Nela, vemos Paul e Chloé. Jérémie Renier interpreta Paul e Louis, dois terapeutas que atendem (em todos os sentidos) à inquieta jovem (e bela) Chloé que, depois de fazer carreira como modelo, torna-se guardiènne em uma galeria de arte. Ela é interpretada por Marina Vacth, que ganhou fama como a “Jovem e Bela” adolescente que se prostituía no filme de mesmo nome, dirigido pelo mesmo Ozon.
“O Amante Duplo” baseia-se em novela pulp-fiction (“A Vida dos Gêmeos”) que a norte-americana Joyce Carol Oates escreveu sob pseudônimo. Ozon inspirou-se, com muitas liberdades, na história de uma mulher muito perturbada que se envolve com irmãos gêmeos. Mas, ao contrário do texto de origem, “mais realista”, ele procurou construir um thriller “mental” envolto em altas doses de erotismo. Agradou à revista Positif (4 estrelas), desagradou à turma da Cahiers du Cinéma (uma) e ficou no meio do campo para Le Monde e Les Inrock (3 estrelas cada). Goste-se ou não do filme, há que se louvar o belo e desafiador trabalho de Jérémie, de apenas 37 anos, parecendo bem mais velho e esbanjando talento, carisma e sensualidade (e num papel duplo). Maria Vacth também dá conta de sua complicada personagem. Jacqueline Bisset faz participação especial.
Jérémie Renier é, na verdade, belga (como o são os Irmãos Dardenne que o revelaram ao mundo), mas sua trajetória está profundamente ligada ao cinema do país dos Irmãos Lumière. No Brasil, ele tornou-se conhecido dos cinéfilos, desde que protagonizou “O Filho” (Dardenne, 2005), na pele de um pai de apenas 20 anos, que vive de pequenos furtos e que não dá a mínima para o bebê que tem com a namorada de 18 anos. Poderá até “vendê-lo”. O filme rendeu a segunda Palma de Ouro à dupla belga (a primeira veio com “Rosetta” e a terceira com “A Garota Desconhecida”). O ator aparece no elenco de mais quatro filmes dardennianos (“A Promessa”, “Garoto da Bicicleta”, “O Silêncio de Lorna” e “A Garota Desconhecida”). Ele fez também um filme tocante com o argentino Pablo Trapero, “Elefante Branco”, ao lado de Ricardo Darín (os dois interpretam padres que atuam em comunidade pobre na periferia de Buenos Aires).
O ator (e agora diretor) interpretou Pierre Bergé em “Yves Saint-Laurent”, atuou no terror “O Pacto dos Lobos” e fez um pequeno papel em “In Bruges” (no Brasil, “Na Mira do Chefe”), produção inglesa comandada por Martin McDonagh e rodada na bela e medieval cidade belga. Mas o maior sucesso popular de Jerémie foi “My Way” (“Comme d’Habitude”), no qual deu vida ao compositor e cantor Claude François, autor da canção que Frank Sinatra transformou em sucesso planetário.
Ao tornar-se diretor (em parceria com o irmão Yannick), Jérémie deixou de lado o cinema social dos Dardenne (coprodutores do filme). “Carnívoras”, a começar pelo nome, é um filme de horror. Conta a história de duas irmãs que querem ser atrizes. A mais jovem consegue papel num filme, mas entra em crise tanto no trabalho, quanto no casamento. A irmã mais velha acaba convocada para assessorá-la. Mas, cada vez mais perturbada, a caçula resolve desaparecer, deixando a equipe do filme e a família sem saber de seu paradeiro. Para encabeçar o elenco, os Irmãos Renier escalaram três atrizes de origem árabe (Leila Bekhti e Zita Hanrot, no papel das irmãs mais velha e mais nova, e a grande Hiam Abbas, de “Lemon Tree”, como a mãe delas). Uma opção curiosa, que deve ter agradado aos Dardenne.
A programação completa do festival está disponível em http://variluxcinefrances.com/2018.
Festival Varilux de Cinema Francês 2018
Data: 7 a 20 de junho
Entre junho e julho: exibições gratuitas em 29 Unidades Culturais do SESC Nacional
Cidades: Águas Claras (DF), Ananindeua (PA), Aparecida de Goiânia (GO), Aracaju (SE), Araçatuba (SP), Araguaína (TO), Arapiraca (AL), Araraquara (SP), Arcoverde (PE), Balneário Camboriú (SC), Barreiras (BA), Barretos (SP), Barueri (SP), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Blumenau (SC), Boa Vista (RR), Botucatu (SP), Brasília (DF), Búzios (RJ), Campinas (SP), Campo Grande (MS), Caruaru (PE), Cascavel (PR), Caxias do Sul (RS), Caxambu (MG), Chapecó (SC), Cotia (SP), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Foz do Iguaçu (PR), Goiânia (GO), Guarulhos (SP), Gurupi (TO), Iguatu (CE), Jaboatão dos Guararapes (PE), Jataí (GO), João Pessoa (PB), Juiz de Fora (MG), Jundiaí (SP), Londrina (PR), Macaé (RJ), Maceió (AL), Manaus (AM), Marabá (PA), Maringá (PR), Mossoró (RN), Natal (RN), Niterói (RJ), Nova Friburgo (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Ouro Preto (MG), Palmas (TO), Paraty (RJ), Paranavaí (PR), Parnaíba (PI), Pelotas (RS), Petrópolis (RJ), Petrolina (PE), Poconé (MT), Ponta Grossa (PR), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Pouso Alegre (MG), Recife (PE), Ribeirão Preto (SP), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (RJ), Rio Grande (RS), Rondonópolis (MT), Salvador (BA), Santa Maria (RS), Santos (SP), São Carlos (SP), São João de Meriti (RJ), São José (SC), São José dos Campos (SP), São José do Rio Preto (SP), São Luís (MA), São Paulo (SP), Socorro (SE), Teresina (PI), Uruguaiana (RS), Vila Velha (ES), Vitória (ES) e Volta Redonda (RJ).
Por Maria do Rosário Caetano