Cine Ceará 2018
A mostra competitiva da 28ª edição do Cine Ceará (Festival Ibero-americano de Cinema) só começará neste sábado, quando o Cine-Teatro São Luís exibir “O Barco”, novo filme de Petrus Cariry, e prestar homenagem ao comediante Renato Aragão, decano da inesgotável e sempre renovada veia humorística cearense. Na prática, porém, a festa dedicada ao cinema de expressão espanhola e portuguesa já começou, pois o país homenageado este ano, o Peru, é tema de mostra retrospectiva na Caixa Cultural Fortaleza, iniciada na última terça-feira, dia 31 de julho.
O Cine Ceará, que prossegue até 11 de agosto, em várias salas e espaços ao ar livre (incluindo a Praça do Ferreira, onde situa-se o cinquentenário e belo São Luís), selecionou quinze produções peruanas contemporâneas, incluindo filmes de Claudia Llosa, premiada em Berlim com “A Teta Assustada”, e dos irmãos Diego e Daniel Vega, diretores de “Outubro”, um dos raros filmes vindos do país andino a encontrar espaço no circuito comercial brasileiro.
Além de Claudia Llosa, que participou do Cine Ceará anos atrás como “Madeinusa” (filme programado para a Mostra Peruana deste ano), mais duas realizadoras marcam presença na Caixa Cultural: Enrica Pérez, com “Climas”, e Karina Cáceres, com “Cabo para a Terra” (2012) e “Sob a Influência” (2016). Completam o panorama ficcional do cinema peruano contemporâneo “O Espaço entre as Coisas”, de Raúl del Busto, “Rosa Chumbe”, de Jonatan Relayze, “Paraíso” e “NN”, ambos de Héctor Gálvez, “A Última Tarde”, de Joel Calero, e “Reminiscências” e “Videofilia (e Outras Síndromes Virais)”, ambos de Juan Daniel Molero.
Dois documentários se somam à programação – “Continuo Sendo (Kachkaniraqmi)”, de Javier Corcuera, e “Saicomanía”, de Héctor Chávez – além de duas produções de cineastas estrangeiros, que escolheram o Peru como cenário – “Ícaros: Uma Visão”, da argentina Leonor Caraballo, em parceria com o uruguaio Matteo Norzi, e “A Curiosa Vida de Piter Eustaquio Rengifo Uculmana”, do italiano Gianfranco Annichini.
O crítico e professor de cinema Emilio Bustamante, formado em Ciências da Comunicação, na Universidade de Lima, e mestre em Literatura Latino-Americana, pela Universidade Nacional Maior de San Marco, apresentará suas reflexões sobre “O Cinema Regional Peruano”, em palestra seguida de debate. A Mostra prosseguirá até domingo, 5 de agosto.
O Cine Ceará soma, em sua vigésima-oitava edição, mostras competitivas de longas-metragens e curtas nacionais e cearenses, debates dos filmes, oficinas, cursos e mostras informativas (uma delas dedicada a Renato Aragão), sessões para crianças (“O Primeiro Filme a Gente Nunca Esquece”) e, também, para a Terceira Idade. E seminário sobre “Descentralização da Produção Audiovisual no Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, organizado pela CONNE (Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste). O festival trará, ainda, duas atrações especiais: o ótimo documentário espanhol “Muitos Filhos, um Macaco e um Castelo”, de Gustavo Salmerón, grande vencedor do Prêmio Platino, e o centro-americano “Panamá Al Brown, Quando o Punho se Abre”, de Carlos Aguilar Navarro.
A Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine), em parceria com o Cine Ceará, promoverá sessão especial, seguida de debate, do longa paraibano “Sol Alegria”, de Tavinho e Mariah Teixeira. E festejará o Cinema de Animação com o Prêmio Enel para coletivo de jovens estudantes. Estes jovens são autores do curta “A Vila”, resultado de oficina orientada pelo animador Telmo Carvalho. Nunca é demais lembrar que a Universidade Federal do Ceará sediou, por uma década, frutífero Núcleo de Cinema de Animação.
Além de Renato Aragão, o Cine Ceará homenageará, com o Troféu Eusélio de Oliveira, o ator Antônio Pitanga, o diretor do Canal Brasil Paulo Mendonça (também compositor, inclusive de “Sangue Latino”) e o professor Henry Campos. Festejará, também, o Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, criado há exatos dez anos. E, para mostrar que o Ceará continua sendo prolífico celeiro de grandes nomes do humor nacional, será exibido o primeiro capítulo da série “Cine Holliúdy: Francisgleydisson Encara Novos Desafios”, de Halder Gomes e Patrícia Pedrosa, produzido para a Rede Globo. Halder Gomes, cineasta e praticante de artes marciais, é aquele louco pelo Cine Holliúdy e pelo Shaolin do Sertão, que entrou para o seleto time de campeões de bilheteria brasileiros (“Os Parças” vendeu quase dois milhões de ingressos).
O Brasil disputa o Troféu Mucuripe com três filmes: os documentários “Anjos de Ipanema”, de Conceição Senna, e “Eduardo Galeano Vagamundo”, de Felipe Nepomuceno, e o ficcional “O Barco”, de Petrus Cariry. A eles, agrega-se a coprodução lusitano-brasileiro-francesa “Diamantino”, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt.
A representação de língua espanhola compõe-se com o chileno “Cabras de Merda”, de Gonzalo Justiniano (premiado em Gramado, nos anos 1990, com “Amnésia”), os colombianos “Amália, a Secretária”, de Andrés Burgos, “Senhorita Maria, a Saia da Montanha”, de Rubén Mendoza, e o espanhol “Petra”, de Jaime Rosales.
“O Barco”, do inspirado realizador e diretor de fotografia Petrus Cariry (“O Grão”, “Mãe e Filha” e “Clarisse ou Alguma Coisa sobre Nós Dois”), tem no centro de sua narrativa uma mulher que vive em modesta comunidade de pescadores. Ela tem 26 filhos. Seu destino será alterado pela chegada de um barco e de uma mulher misteriosa.
“Anjos de Ipanema”, da atriz e realizadora baiana Conceição Senna (“Iracema”, “Gitirana”e “Iremos a Beirute”) revive a história do Pier de Ipanema, ícone da contracultura e do surf no Rio dos anos 1970.
“Eduardo Galeano Vagamundo”, de Felipe Nepomuceno, mergulha na obra e sonhos do escritor uruguaio, autor de “Veias Abertas da América Latina”, “O Livro dos Abraços”, “Espelhos” e “Memória do Fogo” (este livro deu origem a um longa-metragem do argentino Fernando Birri). Eduardo Hughes Galeano (1940-2015) foi também um boleiro apaixonado, que festejou o esporte bretão em “Futebol ao Sol e à Sombra”.
E o futebol é matéria-prima do lusitano “Diamantino”. Neste filme, um famoso jogador, ao ver sua carreira em declínio, “empreende delirante odisseia em que confronta o neofascismo, envolve-se com a crise de refugiados, modificação genética e até a busca pela origem da genialidade”.
O documentário colombiano “Senhorita Maria, a Saia da Montanha”, desenha retrato de um homem que cresceu sentindo-se mulher na conservadora cidade de Boavita.
A competição de curtas nacionais apresentará 13 produções e a mostra Olhar do Ceará, 23. A Mostra Nacional de Curtas selecionou “A Canção de Alice”, de Bárbara Cariry, “Eu Sou o Super-Homem”, de Rodrigo Batista, “A Ponte”, de Rafael Câmara, “Nomes que Importam”, de Angela Donini e Muriel Alves, “O Vestido de Myriam”, de Lucas Rossi, “A Menina Banda”, de Breno César, “Plantae”, de Guilherme Gehr, “A Escolha de Isaac”, de Sergio Gag, “Maria Cachoeira”, de Pedro Carcereri, “Capitais”, de Kamilla Medeiros e Arthur Gadelha, “O Evangelho Segundo Tauba e Primal”, de Márcia Deretti e Marcio Júnior, “Só por Hoje”, de Sabrina Garcia, e “Nova Iorque”, de Leo Tabosa.
A Mostra Olhar do Ceará compõe-se com “180 Graus”, de Tay Moreira, “A Gênese de Cima: Uma História Não Escrita”, de Jhonatan Freitas, “A Milésima Segunda Noite”, de Ariel Volkova e Taís Augusto, “Andros”, de Anio Tales Carin, “Boca de Loba”, de Bárbara Cabeça, “Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno”, de Leon Reis, “Curimba”, de Paolla Menchetti, “Eroica”, de Josy Macedo, “Escafandro”, de Carol Morais, “Leide”, de João Marcos Maia, “Maria Maculada”, de Bruno Bressam e Leão Neto, “Não Fique Triste, Menino”, de Clébson Oscar, “Nego Tem que se Virar”, de Mike Dutra, “Nenúfares”, de Beatriz Lizaviêta, “O Mergulho dos Pássaros”, de Harley Almeida, “Ponte Velha”, de Victor de Melo, “Presente”, de Rodrigo Pedroza, “Quando o Mar”, de Lua Alencar, “Sessão Especial”, de Gabriela Queiroz, “Sudestino(s)”, “Germano de Sousa”, “Tempo de Tudo, Tempo de Nada”, de Ana de Sousa, “Terra Ausente”, de Robson Levy, “Teto”, de Darwin Marinho, e “Virá dos Olhos Teus”, de Anderson Damasceno.
Por Maria do Rosário Caetano