Os vencedores do Festival do Rio

O longa gaúcho “Tinta Bruta”, de Márcio Reolon e Filipe Matzembacher, conquistou o Troféu Redentor de melhor filme de ficção da vigésima edição do Festival de Cinema do Rio, encerrada na noite do último domingo, 11 de novembro. Mas Público e Crítica divergiram do júri oficial, do qual fizeram parte os cineastas Lúcia Murat e Joel Zito Araújo. O Prêmio Fipescri (Federação Internacional da Crítica Cinematográfica) e o Prêmio do Público ficaram com “Deslembro”, de Flávia Castro.

O melhor documentário foi “Torre das Donzelas”, que recebeu também o Redentor de melhor direção (Susanna Lira). O júri atribuiu menção honrosa ao diretor Daniel Gonçalves, por seu trabalho no filme “Meu Nome é Daniel”. “Torre das Donzelas” rememora a experiência de presas políticas (entre elas, a ex-presidente Dilma Rousseff), no Presídio Tiradentes, em São Paulo, no final dos anos 1960 e primeiros anos da década de 1970.

“Tinta Bruta”, que participou do Festival de Berlim (no qual conquistou o Prêmio Teddy, para melhor filme LGBT) e da Mostra de Cinema de São Paulo, já tem data marcada para lançamento (próximo dia 6 de dezembro). No centro da narrativa, deste que é o segundo filme da dupla gaúcha (o primeiro foi “Beira-Mar”, 2015), está o jovem Pedro (Shico Menegat, Redentor de melhor ator, ex-aequo com Valmir do Côco, de “Azougue Nazaré”). Ele vive de danças eróticas na internet. Para atrair cliques e clientes,  pinta o corpo com tintas florescentes. Vítima de bullying no passado, o solitário adolescente envolve-se com outro bailarino (Bruno Fernandes, melhor ator coadjuvante), que o ajuda em sua busca de novas perspectivas de vida. O filme ganhou, ainda, o Redentor de melhor roteiro.

A melhor direção ficcional coube a João Salaviza e Renée Nader Messora, por “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”. O longa-metragem, ambientado em Tocantins e protagonizado por integrantes da etnia indígena Krahô, ganhou, também, o Redentor de melhor fotografia (para Renée Nader Messora, formada pela Universidad del Cine de Buenos Aires).

Ítala Nandi, de inacreditáveis 76 anos, atriz de Joaquim Pedro de Andrade (“Guerra Conjugal” e “O Homem do Pau Brasil”), Ruy Guerra (“Os Deuses e os Mortos”) e de David Neves (“Muito Prazer”), ganhou o Redentor pela melhor interpretação feminina, por seu trabalho em “Domingo”, de Clara Linhart e Fellipe Barbosa. Coube a ela interpretar uma estanceira gaúcha, incomodada com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República, em 2001. O roteirista do filme, Lucas Paraízo, lembrou que “Domingo” chegou ao público do Festival do Rio em momento bem diferente, oposto até ao que lhe deu origem. “Os incomodados agora somos nós” (já que as eleições foram vencidas pela extrema-direita representada por Jair Bolsonaro). Num dos momentos mais emblemáticos (e divertidos) do filme, a personagem de Ítala Nandi briga com a nora bonita e erotizada (Camila Morgado) e diz: “você nem gaúcha é!”

Se os melhores atores foram jovens que se iniciam na carreira, as melhores atrizes foram duas veteranas das mais experientes. Além de Ítala, também cineasta, a melhor atriz coadjuvante foi Eliane Giardini, por seu belo trabalho como mãe de um desaparecido político e avó de adolescente que regressa do exílio em Paris, para viver em uma cidade desconhecida.

Confira todos os vencedores do festival:

FICÇÃO:

“Tinta Bruta”, de Márcio Reolon e Filipe Matzembacher (RS) – Melhor filme (Trofeu Redentor e Prêmio Petrobras, este, no valor de R$200 mil, a serem aplicados em seu lançamento comercial), ator (Shico Menegat), roteiro (dos dois diretores), ator coadjuvante (Bruno Fernandes)

“Deslembro”, de Flávia Castro (RJ) – Melhor filme para o Júri Popular, Prêmio Fipresci, melhor atriz coadjuvante (Eliane Giardini)

“Domingo”, de Clara Linhart e Fellipe Barbosa (RJ) – Melhor atriz (Ítala Nandi)

“Azougue Nazaré”, de Tiago Melo (PE) – Prêmio Especial do Júri, melhor ator (Valmir do Côco), melhor montagem (André Sampaio)

“Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, João Salaviza e Renée Nader Messora (Brasil/Portugal) – Melhor direção, melhor fotografia (Renée Nader Messora)

“O Órfão”, de Carolina Malkovich – Melhor curta-metragem

DOCUMENTÁRIO:

“Torre das Donzelas”, de Susanna Lira (RJ) – Melhor filme (Trofeu Redentor e Prêmio de Mídia do Canal Curta! no valor de R$100 mil), melhor direção

“Meu Nome é Daniel”, de Daniel Gonçalves – Prêmio Especial do Júri

MOSTRA NOVOS RUMOS:

“Ilha”, de Ary Rosa e Glenda Nicásio (BA) – Melhor filme

“Inferninho”, de Guto Parente e Pedro Diógenes – Prêmio Especial do Júri

“Mormaço”, de Marina Meliande – Menção Honrosa

“Lembre”, de Leonardo Martinelli – Melhor curta-metragem

PRÊMIO FELIX (para produções LGTB):

“Sócrates”, de Alex Moratto (Santos/SP) – Melhor ficção

“Obscuro Barroco” (Grécia/França), de Evangelia Kraniotte – Melhor documentário

Por Maria do Rosário Caetano

One thought on “Os vencedores do Festival do Rio

  • 14 de novembro de 2018 em 01:36
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    Mais produções exaltando o terrorismo, no período do regime militar! Não teve golpe em 1964, teve contrarrevolução!

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