Oscar 2019
A Academia de Cinema de Hollywood está tornando-se mais cosmopolita? Isto tem a ver com a chegada de associados oriundos de outras regiões do mundo?
Estas questões se colocam no momento em que os dois filmes com maior número de indicações, dez cada um, chegam do México (“Roma”, de Alfonso Cuarón, falado em espanhol e mizteca) e da Inglaterra ( “A Favorita”, com elenco e história britânicos e direção do grego Yorgos Lanthimos).
Outra presença chama bastante atenção: a do polonês “Guerra Fria”, que concorre a melhor filme estrangeiro, melhor direção (de Pawel Pawlikowski) e melhor fotografia (Lukasz Zal). Aliás, na categoria direção, os norte-americanos são minoria (Spike Lee, por “Infiltrado na Klan”, e Adam McKay, por “Vice”). Os outros concorrentes são, além do polonês, o mexicano Alfonso Cuarón e o grego Yorgos Lanthimos.
Há que notar também a presença germânica: o longa (mais de três horas de duração) “Nunca Deixe de Lembrar”, de Florian Von Donnersmarck (vencedor, em 2007, com “A Vida dos Outros”), disputa, além do Oscar de melhor filme estrangeiro, a estatueta de melhor fotografia (mas neste caso, com um profissional norte-americano).
Estrangeiros se destacam também na categoria melhor fotografia: o polivalente Alfonso Cuarón acumula direção, roteiro, coprodução e direção de fotografia de “Roma”. A ele, se somam profissionais da Polônia (Lukasz Zal) e da Irlanda (Robbie Ryan, de “A Favorita”). São estadunidenses os fotógrafos de “Nasce uma Estrela” (Matthew Libatique) e do germânico “Nunca Deixe de Lembrar” (Caleb Deschanel).
Outra presença a se destacar na lista dos oito finalistas ao Oscar (ver lista abaixo) é a do cinema black (ou afro-americano), ignorado ao longa de décadas. Agora, vem assumindo protagonismo. Spike Lee era figura coadjuvante nas competições da Academia (geralmente concorria a melhor roteiro). Agora, tem seis indicações, inclusive a melhor diretor e melhor filme, com o eletrizante “Infiltrado na Klan”, deliciosa compilação de temas recorrentes em sua importante trajetória cinematográfica. “Pantera Negra”, com sete indicações, mostra que filmes protagonizados por elenco majoritariamente black podem vender milhões de ingressos em todo o planeta.
“Green Book, o Guia”, de Peter Farelly (esnobado na categoria direção), chega à disputa como o preferido do Sindicato dos Produtores. O que não significa que vá triunfar, pois nesta categoria votam todos os acadêmicos (uns seis mil). O filme de Farelly traz no título um guia (escrito pelo afro-americano Victor Hugo Green) que indicava a motoristas negros os locais onde poderiam se hospedar (isto nos anos 1960, quando, no Sul dos EUA, a discriminação era assegurada por lei). Com um protagonista branco (Viggo Mortensen) e um coadjuvante de destaque (o black Mahershala Ali), “Green Book” inverte o oscarizado “Conduzindo Miss Daisy” (neste, o motorista era negro e a patroa branca, naquele, o motorista é branco e o contratante da viagem, um jazzista negro).
Este ano, o poderoso Sindicato dos Produtores dos EUA bem que tentou ampliar o alcance geográfico do Oscar rumo à Ásia. O fez indicando um filme (“Podres de Ricos”) destinado a plateias orientais. Indicou, também, um filme de gênero desprezado, o horror (“Um Lugar Silencioso). Mas nenhum dos dois chegou à categoria principal. Só o último conseguiu indicação solitária em edição de som (um trabalho, registre-se, notável). E, por falar na banda sonora dos filmes, vale destacar a percepção aguçada do cineasta e produtor brasileiro, Fernando Meirelles, indicado ao Oscar 2004 como diretor, por “Cidade de Deus”. Depois de assistir ao filme “Roma”, ele pontuou: “o cara revolucionou o som usando a mixagem do sistema Atmos como nunca antes”. Pois o filme mexicano está indicado nas categorias mixagem de som e edição de som.
A sorte está lançada. Dia 24 de fevereiro, um domingo, na cerimônia do Oscar 91, os apresentadores de cada prêmio, geralmente de origem anglo-saxã, terão que se virar ao pronunciar nomes poloneses, gregos, mexicanos e alemães. Afinal, o Oscar parece estar entrando em sintonia com outras geografias. Vivemos era cada vez mais globalizada.
MELHOR FILME:
. Roma (México)
. A Favorita (Inglaterra)
. Bohemian Rhapsody (Inglaterra)
. Infiltrado na Clã (EUA)
. Pantera Negra (EUA)
. Green Book, o Guia (EUA)
. Vice (EUA)
. Nasce uma Estrela (EUA)
MELHOR FILME ESTRANGEIRO:
. Roma (México)
. Assunto de Família (Japão)
. Cafarnaum (Líbano)
. Guerra Fria (Polônia)
. Nunca Deixe de Lembrar (Alemanha)
MELHOR DIRETOR:
. Alfonso Cuarón (Roma)
. Yorgos Lanthimos (A Favorita)
. Pawel Pawlikowski (Guerra Fria)
. Spike Lee (Infiltrado na Klan)
. Adam McKay (Vice)
MELHOR ATRIZ:
. Yalitza Aparício (Roma)
. Glenn Close (A Esposa)
. Olívia Colman (A Favorita)
. Melissa McCarthy (Poderia me Perdoar?)
. Lady Gaga (Nasce uma Estrela)
MELHOR ATOR:
. Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
. Christian Bale (Vice)
. Willian Dafoe (O Portal da Eternidade)
. Viggo Mortensen (Green Book)
. Bradley Cooper (Nasce uma Estrela)
MELHOR FOTOGRAFIA:
. Alfonso Cuarón (Roma)
. Lukasz Zal (Guerra Fria)
. Robbie Ryan (A Favorita)
. Caleb Deschanel (Nunca Deixe de Lembrar)
. Matthew Libatique (Nasce uma Estrela)
Por Maria do Rosário Caetano