Festival In-Edit Brasil divulga filmes selecionados

Por Maria do Rosário Caetano

Documentários sobre movimentos musicais ou grandes cantores continuam crescendo numericamente e figurando na lista dos mais vistos do segmento (ver lista abaixo).

O Festival In-Edit Brasil, que chega à sua décima-primeira edição em meados de junho (de 12 a 23), em São Paulo, consolida-se como a vitrine privilegiada desta vertente audiovisual. Trinta e seis filmes brasileiros, de longa e curta-metragem, se somarão a grandes documentários internacionais. A seleção nacional distribui os escolhidos em cinco secções – Competição de Longas, Mostra Brasil, Brasil.Doc, Curta um Som e Sessões Especiais.

A lista de concorrentes brasileiros – o melhor documentário musical representará o Brasil na matriz do festival, o In-Edit Espanha – compõe-se com oito títulos. Quatro são 100% inéditos – “Alceu Valença – Na Embolada do Tempo”, de Paola Vieira, “Amigo Arrigo”, de Alain Fresnot e Junior Carone, “Tudo pela Música – Os 20 Anos da Deck”, de Daniel Ferro, e “Antes que me Esqueçam, meu Nome é Edy Star”, de Fernando Moraes. O primeiro, claro, retrata o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença. O segundo, centra seu foco em Arrigo Barnabé, que formou com Itamar Assumpção a linha de frente da Vanguarda Paulista, nos anos 1980.

O documentário de Daniel Ferro revisita a gravadora DeckDisk, criada por João Augusto. Embora pequena, a empresa conheceu sucesso de vendas com artistas como Pitty, Cachorro Grande e Sorriso Maroto. Edy Star, a voz que clama contra o esquecimento, é o último representante da “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”, que contou, em suas míticas fileiras, com os saudosos Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Míriam Batucada. Juntos, eles gravaram o disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das 10”.

Os quatro títulos que completam a competição já foram exibidos em outras telas (em especial, no Festival É Tudo Verdade), mas seguem inéditos no circuito comercial. Três deles causaram sensação junto ao público: o vibrante “Meu Amigo Fela”, de Joel Zito Araújo, sobre o astro black nigeriano Fela Kuti (1938-1997), o irresistível “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos”, de Daniela Broitman, e a saborosa “comédia” musical “Rumo”, de Flávio Frederico e Mariana Pamplona, sobre os hilários integrantes do grupo Rumo, coletivo que acaba de lançar novo CD pelo selo Sesc.

No que diz respeito ao filme dedicado a Dorival Caymmi, há que se recomendar: não perca esta aliciante viagem fílmica com o criador de “Dora”, aquela que era rainha do frevo e do maracatu. Nem pense que já viu tudo sobre o artista baiano. Daniela acessou material inédito – uma longa entrevista (ou melhor, conversa) do compositor com um casal amigo – que seria base de um longa-metragem, mas o projeto acabou frustrado. Descontraído e sedutor, o “ator rústico” (segundo Jorge Amado), apresenta-se como ser humano único, capaz de nos enredar com suas aliciantes narrativas orais, qual uma Sherazade tropical.

“O Barato de Iacanga”, o oitavo concorrente, revisita, com significativo material de arquivo, festival de música realizado em fazenda no município de Iacanga, interior de São Paulo, nas décadas de 1970/80. O filme teve sessão fora de concurso no É Tudo Verdade e mobilizou imensa plateia, incluindo alguns dos músicos (destaque para Walter Franco e Zé Geraldo) que se apresentaram nos palcos do evento. Embora o Festival de Iacanga tenha conhecido seu crepúsculo num fevereiro de mais chuva que carnaval, ele deixou grandes saudades em seus artífices.

Na Mostra Brasil, com sete produções, há três estreias – “Jackson – Na Batida do Pandeiro”, de Marcus Villar e Cacá Teixeira, “Segue o Baile – Bixiga 70”, de Rubens Crispim Jr, e “Guitar Days – Un Unlikely Story of Brazilian Music”, de Caio Augusto Braga.

O longa de Vilar e Teixeira, presta tributo ao paraibano José Gomes Filho (1919-1982), o rei do ritmo, nascido em Alagoa Grande. Se vivo fosse, o cantor, que atuou em quase uma dezena de chanchadas, estaria completando cem anos. O estado natal do artista, o mesmo de Chico César, Elba e Zé Ramalho, vem desenvolvendo amplo calendário dedicado ao múltiplo Jack-Son do Pandeiro, notável na interpretações de sambas, cocos, xaxados, forrós e quetais. Deixou registros que se tornaram clássicos de nossa música popular, como as inigualáveis (na rítmica que era só dele) “Chiclete com Banana”, “A Ema Gemeu” e “Sebastiana” .

“Segue o Baile – Bixiga 70” registra a trajetória da banda instrumental brasileira que produziu música dançante, somando afro-beat (ritmo que deve muito a seu nome mais fulgurante, Fela Kuti), sons caribenhos, pop e jazz. “Guitar Days – Un Unlikely Story of Brazilian Music” registra depoimentos de integrantes de bandas roqueiras (Pin Ups, Killing Chainsaw, Mickey Junkies), atuantes nos anos 1990, quando BRock brasileiro viu-se ofuscado pela Axé Music.

Quatro documentários completam a programação do segmento Mostra Brasil: “O Imperfeccionista – Ian Guest”, de Marcello Nicolato (sobre o instrumentista, arranjador e professor húngaro-brasileiro Ian Guest), “Canções em Pequim”, coprodução Brasil-China, dirigida por Milena de Moura Borba, “Eletronica Mentes”, de Dacio Pinheiro (com foco em Jocy de Oliveira e Jorge Antunes, cultores da música eletrônica brasileira) e “Faz Sol Lá Sim”, de Claufe Rodrigues, sobre a Banda Filarmônica Santa Cecília, patrimônio da cidade alagoana de Marechal Deodoro.

O segmento Brasil.Doc, composto com sete títulos, dos quais três são inéditos: “O Rap pelo Rap 2”, de Pedro Fávero (com participação de Djonga, Rincón Sapiência, Baco Exu de Blues e Tassia Reis), “We Need Songwriters”, de Alexandre Petillo” (viagem de três brasileiros por Nashville, Memphis, Clarksdale e New Orleans, nos EUA), e “Sound System – A Voz da Quebrada”, de Fernando Augusto. Este diretor propõe ao público empreender, com ele, “um mergulho neste universo, o do sound system, cheio de graves vibrantes, dub, ska e reggae”.

Aos títulos inéditos, agregam-se “Guriatã”, de Renata Amaral (sobre o mestre Humberto de Maracanã, considerado o maior cantor de Bumba Meu Boi de São Luís do Maranhão), “Pipoca Moderna”, de Helder Lopes, sobre o centenário Sebastião Biano, que segue ativo e líder da Banda de Pífanos de Caruaru (ele é o único remanescente da formação original), e “Woya Hayi Mawe – Para Onde Vais?”, de Jasper Chalcraft e Rose Hikiji, sobre a cantora moçambicana, radicada em São Paulo, Lenna Bahule. “Situada entre o Brasil e sua cidade natal, Maputo” – ponderam os autores, “Lenna tem que lidar com a condição de ser mulher, artista e negra, reconectando-se com suas raízes ancestrais”.

Um título – ”30 Anos de Anonimato”, de Felipe David Rodrigues, também parte do segmento Brasil.Doc – chama atenção e destina-se a ouvidos (e olhos) transgressores: os grupos pioneiros (no Brasil) do psychobilly, caso de Grande Trepada (ou “Bigtrep, para ouvidos mais pudicos”). O diretor explica que “o Grande Trepada foi formado por dois irmãos e um primo e circula, há três décadas, no quase anonimato, combinando o prazer da vilania com a virtude da discrição”.

No segmento “Curta um Som”, serão exibidos nove títulos, oriundos de vários Estados brasileiros. Destaque para os feministas ”Beat é Protesto – O Funk Pela Ótica Feminina”, de Mayara Efe, “Feito por Elas”, de Barbara Ramona e Vanessa Pereira. E para o curioso “Novos Goianos”, de Isaac Brum Souza

A lista de curta duração completa-se com “A Matriz dos Metais”, de Edson Cabral e Robson Timoteo, “Bié dos 8 Baixos”, de Eduarda Gama e Uyatã Rayra, “Casa da Felicidade”, de Jair Pires e Jéssica Ayara, “Contramaré”, de Daniel Marenco, “FYA – Um Filme Remix sobre o Dancehall da Quebrada”, de Guilherme Nasser, e “Poesia Azeviche”, de Ailton Pinheiro. Este filme mostra compositores dos blocos afros dos anos 1970 a 1990, de Salvador, que se reencontram para evocar memórias e, através de suas canções, ressaltar a importância da luta contra o racismo no Brasil e da valorização da cultura negra.

O In-Edit 11 vai ferver, também, em sua programação especial. O documentário “Zuza Homem de Jazz”, de Janaína Dalri, será exibido no dia 19 de junho, em cenário muito especial, o Blue Note paulistano. Para marcar a ocasião e homenagear o contrabaixista, engenheiro de som e grande pesquisador Zuza Homem de Mello, uma programação de respeito foi montada.

O próprio protagonista do charmoso documentário conta o que acontecerá frente aos olhos e ouvidos do público: “a abertura da casa se dará às 19h. Uma hora depois, começará a sessão de “Zuza Homem de Jazz”, seguida de breve bate-papo e de um show musical”. Ou seja, a sessão do filme, que tem o autor de “Copacabana – A Trajetória do Samba Canção” como aliciante mestre-de-cerimônia, será encerrada com show do Mani Padme Trio, selecionado pelo próprio Zuza para o ato derradeiro desta noitada cinematográfico-musical.

Em outra Sessão Especial (composta de duas partes), acontecerá o lançamento da série, em oito capítulos, “História Secreta do Pop Brasileiro”, de André Barcinski. Dois blocos, com quatro capítulos cada um, serão seguidos de debate, entre o diretor e convidados, e show a banda Os Carbonos. Para a série documental, Barcinski entrevistou Paulo Massadas, Gretchen, Mister Sam, Raul Gil, Dudu França, Genghis Khan, entre outros.

O grupo Nação Zumbi participará do In-Edit para debater, com o público, sessão exclusiva do documentário inédito “Rádio S.Amb.A.Doc”, de André Almeida. Depois da sessão, haverá show da banda.

Dois filmes – “Clementina”, de Ana Rieper, e “Com a Palavra, Arnaldo Antunes”, de Marcelo Machado – serão mostrados e debatidos com o público. Do bate-papo do filme clementínico participarão a diretora e sua produtora, Mariana Marinho. Marcelo Machado, um dos mais fervorosos realizadores de documentários musicais do país (diretor de empolgante “Tropicália”), debaterá seu filme com seu protagonista, o compositor, cantor e poeta Arnaldo Antunes.

XI In-Edit Brasil (Festival Internacional do Documentário Musical)
Data: 12 a 23 de junho
Local: CineSesc, Spcine Olido, Spcine Lima Barreto (CCSP), Cinemateca Brasileira e Cine Matilha Cultural, com atividades paralelas no Blue Note São Paulo, Sala Olido, Sala Adoniran Barbosa (CCSP), Cine Joia e Z Carniceria.
Mais informações: www.in-edit-brasil.com

BILHETERIAS DE DOCs MUSICAIS

OS MAIS VISTOS:

. Vinícius …………………………………………….266.000

. Raul Seixas (Início, o Fim e o Meio)…….160.000

. Chico, Artista Brasileiro………………………128.000

. A Música Segundo Tom Jobim……………..85.000

. Uma Noite em 67…………………………………80.000

. Tropicália……………………………………………79.000

. Simonal, Ninguém Sabe o Duro…………….72.000

. Cartola………………………………………………..68.000

. Nelson Freire……………………………………….61.000

. Paulino da Viola, meu Tempo é Hoje………55.000

. Coisa Mais Linda………………………………….36.000

. Rock Brasília……………………………………….35.000

. O Homem que Engarrafava Nuvens………24.000

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