Santos Film Festival apresenta filmes de todas as mulheres de Rogério Sganzerla
Por Maria do Rosário Caetano
O cineasta Rogério Sganzerla dirigiu um filme chamado “A Mulher de Todos”, logo após sua consagração com o “Bandido da Luz Vermelha”, em 1968. Como protagonista absoluta, representando a libertária “mulher de todos”, estava sua companheira, a atriz Helena Ignez.
O Santos Film Festival, que realiza edição especial a partir dessa terça-feira, 16 (prosseguindo, on-line e gratuito, até dia 23 de março), pode usar, se quiser, o slogan “Um Festival com Todas as Mulheres de Sganzerla”. Afinal, os curadores do evento, Paula e André Azenha, selecionaram para a mostra nacional do evento santista, longas-metragens de todas as mulheres do cineasta catarinense: “Fakir”, de Helena Ignez, companheira de vida e ofício, “A Mulher da Luz Própria”, de Sinai Sganzerla, filha mais velha do casal, e “Mulher Oceano”, de Djin Sganzerla, a caçula. Os dois primeiros são documentários muito inventivos e envolventes. O terceiro é uma ficção realizada em cenários japoneses e brasileiros.
Helena mergulha no mundo de faquires e faquiresas, gente que dorme em camas de prego, faz jejuns crudelíssimos, enfim, submete corpo e sentidos a duras provações. Sinai revive a trajetória da mãe-atriz desde os tempos da vanguarda baiana (no teatro e no cinema), até os dias atuais, quando Helena, sem deixar de ser atriz, tornou-se diretora das mais atuantes. Djin mergulha em metafóricas águas oceânicas em busca da essência de uma mulher, interpretada por ela.
A curadoria do Santos Film Festival – Edição Especial resolveu apostar tudo no cinema feminino. Selecionou 75 filmes de curta, média ou longa-metragem, em que mulheres são diretoras ou produtoras. Por isso, os filmes da família Sganzerla estão na Mostra Nacional, em companhia de mais seis títulos, todos dirigidos por mulheres: “O Corpo é Nosso!”, de Theresa Jessouroun, “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos”, de Daniela Broitman, “Prazer em Conhecer”, de Susanna Lira, “Limiar”, de Coraci Ruiz, “Entre Nós, um Segredo”, de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté, e “Para Onde Voam as Feiticeiras”, de Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto Amaral.
A lista nacional completa-se com três longas assinados por homens, mas produzidos por mulheres: “Soldados da Borracha”, de Wolney Oliveira, produção de Margarita Hernández, “Atravessa a Vida”, de João Jardim, por Gabriela Weeks, e “Amores Artificiais”, de Roger Davill, por Vanessa Ouro.
A dupla de curadores do festival caiçara justifica a opção radical por filmes dirigidos (ou produzidos) por nomes feminino: “entendemos ser muito importante ressaltar a presença de mulheres em funções de comando no audiovisual brasileiro, embora elas ainda sejam minoria”. Para acrescentar: “a prova irrefutável de que realizam obras importantes está nos 75 filmes que escolhemos para essa edição”.
A homenageada dessa edição temática e especial do Santos Film Festival é a cineasta Adélia Sampaio, de 76 anos, cuja carreira, truncada, vem ganhando destaque por seu pioneirismo. Ela foi a primeira afro-brasileira a dirigir e lançar um longa-metragem no Brasil: “Amor Maldito” (1984). Além desse filme, o público poderá assistir ao curta “Denúncia Vazia”, de oito minutos, que ela realizou em 1979. E, ainda, prestigiar “live” durante a qual a cineasta debaterá, com Vitória Felipe e Paula Azenha, sua obra e as circunstâncias que a impediram de realizar novos filmes.
O Santos Film Festival lançará sua coleção de ebook com livro intitulado “Adelia Sampaio: O Segredo da Rosa” (126 páginas). E relançará livro já lançado em edição de papel e esgotada – “Rubens Ewald Filho: Vida de Cinema!”, registro de entrevista biográfica do crítico santista, que morreu em maio de 2019.
Em junho (de 22 a 29), quando acontecerá a edição anual do Santos Film Festival – com suas mostras competitivas e informativas – será lançada a autobiografia da atriz Ondina Clais. E o livro “Grandes Intérpretes do Cinema Brasileiro”, de Waldemar Lopes, editado em papel e esgotado, também ganhará sua versão virtual.
A curadoria do Santos Film Festival escolheu, para a Mostra Brasileira, doze longas-metragens. Já para a chamada Mostra Internacional – na verdade platina, pois só Uruguai e Argentina estão representados – a seleção reduziu-se a quatro títulos – “El Nadador”, de Gabriela Guillermo, “Espíritu Inquieto”, de Eli-u Pena e Matías Guerreros, “Historias de Verano”, de Gabriela Guillermo e Irina Raffo, todos uruguaios, e “A Canção do Tempo”, de Mana García, vindo da Argentina.
Uma das mostras informativas do festival intitula-se Humanidades e exibirá 15 filmes, sendo dois da documentarista acriano-brasiliense Maria Maia, com longa carreira na televisão pública e no cinema. O primeiro é “3 Refeições”, de alentados 121 minutos. O título evoca desejo político de seu protagonista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que todos os brasileiros pudessem fazer três refeições diárias. A cineasta acompanhou o pernambucano em suas Caravanas da Cidadania.
O segundo longa de Maia, “Sonia e Lygia”, é mais sintético (73′) e narra, de forma híbrida (ficção e documentário), a trajetória das irmãs (e artistas plásticas) Sônia e Lygia Clark. Ano passado, a vanguardista Lygia, se viva fosse, teria feito 100 anos.
Entre os filmes que completam a mostra Humanidades, alguns merecem destaque. Caso de “Zuza Homem de Jazz”, delicioso registro da trajetória do músico, crítico e escritor Zuza Homem de Mello, morto ano passado (direção de Janaína Dalri). Ainda no terreno musical, a pedida é “Ele Era Assim: Ary Barroso”, de Angela Zoé, sobre o autor de “Aquarela do Brasil”, canção que divide com “Garota de Ipanema”, de Tom e Vinícius, o posto “composição brasileira mais conhecida no mundo”. Da mesma Ângela Zoe, será exibido o longa documental “O Samba é Primo do Jazz”, sobre a trajetória da cantora Alcione. Recordista de filmes nesse segmento do festival, Zoe assina, ainda, “Henfil”, sobre o cartunista brasileiro, e “Meu Nome é Jacque” (este terá sessão especial).
Os curiosos decerto se interessarão, nessa Mostra Humanidades, por “Mulheres de Havana”, de Gabriela Mo (76′), ou por “Anjos de Ipanema”, de Conceição Senna, atriz e diretora baiano-carioca, que morreu ano passado.
O festival caiçara contará, ainda, com vinte atividades de caráter formativo. Ou seja, palestras, workshops, masterclasses e bate-papos com profissionais como a produtora Paula Barreto (LC Barreto Produções e Filmes do Equador), as atrizes Ondina Clais e Tuna Dwek, os cineastas Camila Kater, Sergio Rezende e Júlia Rezende, a professora Laura Cánepa, a atriz e cantora Paula Pretta e a distribuidora norte-americana Debra Zimmerman.
O documentário “Asilo – A Última Curva da Vida”, de João Normando e Mari Cardoso, ganhará Sessão Especial.
O cinema de curta-metragem contará com grande representação nas mostras Nacional, Platina e Regional. Neste caso, com filmes produzidos na Baixada Santista.
VI Santos Film Festival – Festival Internacional de Cinema de Santos
Data: 16 a 23 de março
On-line e gratuito
Serão exibidos 75 filmes (curtas e longas nacionais e latino-americanos, dirigidos ou produzidos por mulheres). Os longas das mostras Nacional e Latino-Americana terão apenas duas exibições (cada) em horários pré-definidos (consultar a programação do evento: www.santosfilmfest.com). Todos os demais filmes serão disponibilizados, em tempo integral, a partir da meia-noite dessa terça-feira, 16, até às 15h do dia 23 de março.
LONGA-METRAGEM NACIONAL
. Fakir, de Helena Ignez (94′)
. A Mulher da Luz Própria, de Sinai Sganzerla, (75)
. Mulher Oceano, de Djin Sganzerla (100′)
. Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos, de Daniela Broitman (93′)
. Entre Nós, um Segredo, de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté (81′)
. Limiar, de Coraci Ruiz (77’)
. O Corpo é Nosso!, de Theresa Jessouroun (85′)
. Para Onde Voam as Feiticeiras, de Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto Amaral (89′).
. Prazer em Conhecer, de Susanna Lira (72′),
. Soldados da Borracha, de Wolney Oliveira, com produção de Margarita Hernández (82′)
. Amores Artificiais, de Roger Davill. Produção de Vanessa Ouro (116’)
. Atravessa a Vida, de João Jardim, Produção de Gabriela Weeks, (82’)
LONGAS-METRAGENS PLATINOS
. El Canto Del Tiempo, de Mana García (doc, 69′, Argentina)
. El Nadador, de Gabriela Guillermo (ficção, 60′, Uruguai)
. Espíritu Inquieto, de Eli-u Pena e Matías Guerreros (doc, 85′, Uruguai)
. Historias de Verano, de Gabriela Guillermo e Irina Raffo (ficção, 60′, Uruguai)
LONGAS – MOSTRA HUMANIDADES
. 3 Refeições, de Maria Maia, 120’11”, Doc
. Sonia e Lygia, de Maria Maia, 73′, Biografia
. Ele Era Assim: Ary Barroso, de Angela Zoé, 52′, Doc
. O Samba é Primo do Jazz, de Angela Zoé, 70’, Doc
. Henfil, de Angela Zoé, 74′, Doc
. Mulheres de Havana, de Gabriela Mo, 76′, Doc
. Zuza Homem de Jazz, de Janaína Dalri, 92′, Doc
. Anjos de Ipanema, de Conceição Senna, 81′, Doc
. Diário Ordinário, de Paula Fabiana, 71′, híbrido
. Inscrições do Tempo no Corpo Presente, de Kit Menezes, 76′, Doc
. Ioiô de Iaiá, de Paula Braun, 76′, Doc
. Karingana – Licença para Contar, de Monica Monteiro, 113′, Doc
. Nowhere, de Thais de Almeida Prado e Flavia Couto, 70′, Doc
. Sem Tarja, de Rafaela Uchoa, 81’, Doc
.Tranças, de Livia Sampaio, 75’32”, Doc
CURTA-METRAGEM NACIONAL
. A Terra em que Pisar, de Fáuston da Silva, 24’, ficção
. Ada, de Rafaela Uchoa, 20′, ficção
. Aquilo que Já Não é Mais, de Lucila Meirelles, 2’21”, ficção/experimental
. As Rendas de Dinho, de Adriane Canan, 25′, doc
. Como Ela Faz?, de Tatiana Villela, 22’, Doc
. Extratos, de Sinai Sganzerla, 8’, doc-ensaio
. Julieta de Bicicleta, de Juliana Sanson, 15’
. Margaridas de Pernambuco em Marcha, de Shaynna Pidori, Gleiceani Nogueira, 25’, Doc
. Perifericu, 2019, Direção: Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira. 21′, ficção
. Primavera de Ferro, de J.R.R. Pereira, 16′, Drama
. Querida!, de Geovane Camargo,14’, drama
. Sábado Não é Dia de Ir Embora, 2020, de Luísa Giesteira, 19’, drama
CURTA-METRAGEM ESTRANGEIRO
. Destino Trágico, de Rubén Faustino, Mejía Maguiña, Duração: 12’10”, Drama – Suspense, Peru
. El Chicle/Bubble Gum, de Karina Grinstein, 13’05”, Mudo – Ficção, Argentina
. Ese Furioso Deseo Sin Nombre, Florencia Colman, 13’, Doc experimental, Brasil /Cuba
. Incendio en Falda del Carmen, de Candelaria Silvestro, Wolfgang Pannek, 15’32”, Doc experimental, Argentina
. O Sabor do Mar, de Katsiaryna Drozhzha e Lucas Bois, 23′, Doc, Portugal
. Sonata Para Un Calendario, de Carmen Rosa Vargas, 19′, Drama, Peru
. The Dilemma of Animals, 4′, Comédia – Experimental, Argentina
MOSTRA HUMANIDADES – CURTAS
. Blandina, 2019, Arthur Micheloto, Direção de produção: Ana Carolina Ricarte, Ju Marques, 14′, Ficção
. Clausura, 2017, Direção: Mariana França e Gildo Antonio, 25′, Documentário
. Dias Felizes, 2020, Direção: André Santos, Produção executiva: Babi Baracho, 14′, Ficção
. Helenas, 2019, Direção: Lucas Bovo e Hiago Netto, Produção: Giulia Hostins, Bruna Santos, Gabyy Mendes, Gaby Gusmão, Larissa Costa, Camilla Pereira, 20′, Ficção
. Jeitinho Brasileiro, 2019, Direção: Dayana Santos e Luana Marques, Direção de produção: Gabrielly de Gusmão, Mariana Nogueira, 13′, Documentário
. Mar-celo, 2019, Direção: Arthur Lotto, Direção de produção: Gabyy Mendes, 12′, Documentário
. Mulheres de Fé, 2019, Direção: Bruna Santos e Dalila Ramos, Direção de produção: Direção de Produção: Giulia Hostins, Rafaela Ciriaco, Wuyza Oliveira,18′, Documentário
. Neguinho, 2020, Direção: Marçal Viana, Produção: Erica de Freitas, 20’15”, Ficção/Drama
. O Barco e o Rio, 2020, Direção: Bernardo Ale Abinader, Produção executiva: Hamyle Nobre, 17′, Ficção
. O Mundo de Dentro, 2020, Direção: Adelia Sampaio, 9’’, Drama
. Quando Elas Cantam, 2018, Direção: Maria Fanchin, 28′, Gênero: Documentário
. Vagine-se, 2021, Fabiana Blanco, 26′, Documentário experimental
. Vila dos Pescadores – Da Pesca ao Povo, 2019 – De Cintia Inacio e Geovanne da Silva, Produção: Ana Carla da Silva, Maria Marta de Jesus, Marly Vicente da Silva, Natalia Cristine da Silva Alberto, Natália Dionízio Pereira Santos, Rosemary Gomes da Silva, Talitha dos Santos Simões – 16′, Doc
MOSTRA REGIONAL – CURTAS
. ANA, 2017, Direção: Vitória Felipe, 17′, Ficção, Santos
. Cápsula, 2020, Direção: Victoria Lam, 7′, Documentário, Santos, SP
. Sem Filtro, 2020, Direção: Louise Ribeiro / Co-Direção Vitória Campos, Direção de produção: Vania Liz, 20′, Documentário, Santos
. Meu Corpo, Meu Templo, 2020, Direção: Alice Oliveira e Janaína Demésio, 22′, Documentário, Santos
. Não Somos Heróis, 2020, Direção: Celso Leandro e Fabíola Moura, Diretora de produção: Fabíola Moura, 22′, Documentário, Santos
. Santos Bittencourt, 2019, Direção: Pâmela Marilange, 11″, Drama, São Vicente
. Rosa dos Ventos, 2021, Direção: Carlos Oliveira, Produção: Tatiana Justel, 16′, Videodança / Experimental, Santos
. Somática, 2020, Direção: Weverton Silva, 19′, Ficção, Santos