Citronela Doc apresenta 20 longas e curtas documentais em Ilhabela

Por Maria do Rosário Caetano

Ilhabela, arquipélago de 35 mil habitantes, situado no litoral norte de São Paulo, promove nesse final de semana (de 10 a 12 de setembro), a primeira edição do Citronela DOC – Festival de Documentários de Ilhabela. Serão exibidos e debatidos vinte filmes, sendo onze curtas e nove longas-metragens.

Além de apresentar vinte produções documentais, o festival será a vitrine de lançamento da Ilhabela Film Commission, projeto apoiado pela Spcine, que pretende atrair produções audiovisuais (cinematográficas, televisivas ou publicitárias) em direção às belas praias do arquipélago. Que aliás, foi cenário do primeiro filme da Vera Cruz – “Caiçara”, produzido por Alberto Cavalcanti, dirigido por Adolfo Celi e protagonizado por Eliane Lage e Mário Sérgio.

Quando o filme foi realizado, em 1949, portanto no alvorecer do projeto criado pela família Matarazzo, Ilhabela era um jovem município (oficializado no começo da década de 1940), que não dispunha sequer de luz elétrica. Para transformar o paradisíaco arquipélago em cenário, a equipe da ambiciosa Vera Cruz teve que deslocar pesados geradores até o local. A fotografia, do britânico Chick Fowle, e os cenários seriam essenciais ao filme inaugural da empresa sediada em São Bernardo do Campo. A produção foi das mais acidentadas, mas “Caiçara” repercutiu bastante.

O tempo passou e outras produções escolheram o litoral norte de São Paulo como cenário, mas preferiram ficar no continente (em Ubatuba, São Sebastião ou Caraguatatuba). O produtor Aníbal Massaíni, porém, não se fez de rogado. Em 1986, portanto 37 anos depois da aventura veracruziana, levou para Ilhabela a equipe de “Eu”, filme protagonizado por Tarcísio Meira e dirigido por Walter Hugo Khouri. Encontrou o arquipélago já dotado de todas as facilidades modernas, em especial de boa rede de energia elétrica.

Tarcísio Meira interpreta o narcisista “Eu” – um rico empresário de nome Marcelo – que se faz cercar de belas mulheres (inclusive garotas de programa incorporadas em Monique Evans, Nicole Puzzi e Monique Lafond). Marcelo deseja até a própria filha (Bia Seidl), até conhecer a psicóloga Beatriz (Christiane Torloni), que chegará para perturbar uma de suas conquistas. O priápico Don Juan de Ilhabela sossegará o facho?

O arquipélago foi bem explorado pelo filme e Tarcísio Meira, na pele de Marcelo, desfilou de iate por águas atlânticas, habitou bela casa de praia e areias quentes. Sempre com uma ou mais mulheres vestidas em diminutas roupas de verão. Se depender da Prefeitura Municipal, com a nova Film Commission, os produtores serão estimulados a deixar o continente e tomar a balsa para desfrutar dos belos cenários de Ilhabela.

Em anos recentes, alguns filmes (entre eles “Terapia do Medo”, de Roberto Moreira, de 2020, e “Desaparecidos”, de David Schurmann, de 2011) tiveram locações no arquipélago. Mas nenhum deles alcançou a repercussão de “Caiçara” e “Eu”.

A programação do primeiro Citronela DOC será presencial (por três dias) e on-line (por seis dias). E totalmente gratuita. A parte presencial acontecerá ao ar livre no Esporte Clube Ilhabela. Um segundo espaço de exibição, uma sala secundária, foi montado sob um vão livre e sem paredes. A ideia é colocar os participantes em contato o mais próximo possível com a natureza. A coordenação do evento garante que serão tomados todos os cuidados sanitários necessários em tempos de pandemia, como distanciamento e uso obrigatório de máscaras. Já o acesso on-line se dará pela plataforma Todesplay (de 10 a 16).

O cineasta Francisco Cesar Filho atuou como principal consultor do Festival de Ilhabela e, por sua imensa experiência, assina também a curadoria ao lado de Márcia Vaz, Carol Misorelli e Márcio Miranda Perez.

O curador disse à Revista de CINEMA que recebeu do comando do Citronela DOC, “total liberdade”. Por isso, “a equipe de curadores pôde selecionar programação na qual estão reunidos alguns dos títulos mais estimulantes e criativos da produção documental brasileira recente”. Sobre os critérios de seleção, ele assegura: “o principal foi a qualidade dos filmes, o que possibilitará ao público, presencial, ou digital, assistir a um festival com programação composta com algumas das mais sensíveis obras de não-ficção da recente safra nacional, produzida nos dois últimos anos”. Para arrematar: “na minha modesta opinião, montamos um significativo retrato multifacetado e criativo do Brasil”.

Os longas selecionados são “Minha Fortaleza, os Filhos de Fulano”, de Tatiana Lohman, “Chico Rei entre Nós”, de Joyce Prado, “Espero que esta te Encontre e que Estejas Bem”, de Natara Ney, “Limiar”, de Coraci Ruiz, “Utopia e Distopia”, de Jorge Bodanzky, “A Jangada de Welles”, de Petrus Cariry e Firmino Holanda, “Favela é Moda”, de Emílio Domingos, e “GIG, a Uberização do Trabalho”, de Carlos Juliano, Maurício Monteiro e Cauê Angeli. Todos esses filmes são inéditos no circuito comercial. Para a noite de encerramento, o convidado é “A Ponte de Bambu”, de Marcelo Machado, lançado há poucos meses.

Entre os curtas, os mais badalados e premiados são “Swinguerra”, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, e “Perifericu”, que soma quatro diretoras (Nay Mendi, Vita Pereira, Rosa Caldeira e Stheffany Fernanda). Destacaram-se, também, em festivais, “Entre Nós e o Mundo”, de Fábio Rodrigo, premiado em Gramado, “Receita de Caranguejo”, de Issis Valezuela, “Finado Taquari”, de Frico Guimarães, “Liberdade”, de Vinícius Silva, “Lara”, de Mari Moraga, “Gilson”, de Vitoria Di Bonesso, “Pontes sobre Abismos”, de Aline Motta, “O que Pode um Corpo?”, de Victor Di Marco e Márcia Picoli, e “Acende a Luz”, de Paula Sacchetta e Renan Flumian.

Durante o Citronela DOC serão realizadas seis mesas de debate sobre temas contemporâneos relacionados aos filmes em exibição (e com transmissão ao vivo).

O festival é uma realização da Salga Filmes, produtora brasileira criada em 2017 e coordenada por grupo de profissionais do audiovisual radicados em Ilhabela. A atuação da produtora, explica seu coletivo-diretor, “volta-se ao desenvolvimento e à preservação da cultura local”. Parte de sua equipe coordena, desde 2018, o Cineclube Citronela, que promove, mensalmente, exibições de documentários brasileiros, acompanhadas de debates com a presença de integrantes de suas equipes artísticas ou técnicas. Um lembrete: citronela é uma planta, de origem asiática, conhecida por sua capacidade de repelir insetos, em especial mosquitos. Alguns a chamam de capim limão.

 

Citronela DOC – Festival de Documentários de Ilhabela
Data: 10 a 12 de setembro
Sessões diárias às 15h, 16h30, 18h, 19h30, 20h30 e 22h
Serão apresentados presencialmente (no Esporte Clube Ilhabela e em sala secundária) e debatidos vinte filmes
Com acesso também on-line (plataforma Todesplay – www.todesplay.com.br), nesse caso, por prazo mais largo: de 10 a 16 de setembro
Toda programação pode ser acessada no endereço: www.citroneladoc.com.br
Promoção da Salga Filmes, com apoio da Lei Aldir Blanc e da Prefeitura Municipal de Ilhabela

 

PROGRAMAÇÃO

. Sexta-feira, dia 10:

15h00 – Curtas-Metragens (Finado taquari, Liberdade, Lara, Gilson)
16h30 – Longa-metragem (Espero que esta te Encontre e que Estejas Bem)
18h00 – Debate – Afetos, Memórias e Documentário. Com Natara Ney (Espero que Esta te Encontre), Raimo Benedetti (Ponte de Bambu) e Maristela Colucci (fotógrafa Ilhabela). Mediador: Francisco Cesar Filho
19h30 – Abertura – Pocket show com Luna França e Fidura
20h30 – Longa: “Utopia e Distopia”
22h00 – Longa: “Favela é Moda”

. Sábado, dia 11:

15h00 – Curtas (Ponte sobre Abismos, O que Pode um Corpo?, Receita de Caranguejo, Perifericu)
16h30 – Longa – “Chico Rei Entre Nós”
18h00 – Debate Existências Negras – Com Joyce Prado (Chico Rei Entre Nós), Aline Mota (Ponte Sobre Abismos) e Nega da Capoeira (Movimento Negro de Ilhabela). Mediadora: Marcia Vaz
19h30 – Conversa com Realizadores – O Documentário LGBTQIAP+: Caminhos e Possibilidades – Participantes: diretores dos filmes O que Pode um Corpo, Limiar e Perifericu. Mediador: Marcio Perez
20h30 – Longa: “Minha Fortaleza, os Filhos de Fulano”
22h00 – Longa: “Limiar”

. Domingo , dia 12:

15h00 – Sessão de Curtas (Acende a Luz, Entre Nós e o Mundo, Swinguerra)
16h30 – Longa: “GIG – A Uberização do Trabalho”
18h00 – “A Jangada de Welles”
19h30 – Conversa com Realizadores – “Online ou presencial? A experiência do cinema nas telas”- Aberto aos realizadores. Mediadora: Carol Misorelli
20h00 – Encerramento do Festival e exibição de “A Ponte de Bambu”.

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