Itaú Cultural Play inaugura mostra de animação dedicada ao cineasta Chico Liberato
A partir de 24 de setembro, a plataforma de streaming do cinema e audiovisual brasileiro Itaú Cultural Play acrescenta mais 10 filmes ao seu catálogo, chegando à marca de 200 títulos nacionais disponíveis gratuitamente em www.itauculturalplay.com.br e nos dispositivos móveis iOS e Android. Quatro dessas produções são de autoria de Chico Liberato, cineasta baiano considerado um dos pioneiros do cinema de animação no Brasil. Além do icônico Boi Aruá (1984), primeiro longa-metragem neste formato realizado na região, a mostra dedicada ao diretor traz Ritos de Passagem (2014) e os curtas-metragens Carnaval (1989) e Amarilis (2016).
O Nordeste em animação de Liberato não poderia deixar de marcar presença na mostra em homenagem a este realizador e artista visual, nascido em 1936 em Salvador. A sua obra produzida fora do tradicional eixo Rio-São Paulo retrata preocupações políticas e místicas do país, assim como sua beleza plástica e riqueza humanista. É assim em Boi Aruá, criado a partir de 25 mil desenhos feitos a mão.
Baseada no folclore sertanejo, a história mágica do boi é contada em cores fortes e referências à literatura de cordel. O enredo se passa no sertão nordestino, onde um fazendeiro trata seus vaqueiros e sua família de maneira cruel e truculenta. Certo dia, o poderoso e popular Boi Aruá, surge da terra seca da caatinga e começa a provocá-lo. Enfurecido, o prepotente fazendeiro tenta capturar por todos os meios o bicho encantado.
No curta-metragem Carnaval, feito essencialmente de imagem e música, a beleza plástica dos desenhos de Liberato e a trilha sonora de tambores carnavalescos são grandes atrativos. Máscaras, fantasias e serpentinas colorem a vida e desfazem a monotonia cinzenta dos arranha-céus. Nesse mundo às avessas, o operário é coroado Rei e encontra o amor de uma Rainha. Infelizmente, porém, todo Carnaval acaba.
Outro importante filme do diretor, Ritos de Passagem, foi exibido em diversos festivais brasileiros e internacionais, entre os quais o Anima Mundi e o Festival de Cinema de Havana. A animação é baseada na literatura de cordel, especialmente em dois de seus mais famosos personagens, o Santo e o Guerreiro, símbolos de justiça e de luta popular na cultura nordestina. Enquanto embarcam os vivos na Barca de Caronte, perante o Anjo e o Demo, eles rememoram suas aventuras. O primeiro segue suas andanças com um bando de cangaceiros no sertão sem lei. O outro luta para construir uma vida libertária e farta para todos.
No curta Amarilis, o cineasta segue fiel ao seu projeto de brasilidade. A marcante trilha sonora de piano e flauta, a estética popular de cores fortes da região, a força rústica das imagens e a universalidade da história são um convite do diretor para o encantamento. A história se inicia após um homem e uma mulher trocarem flores entre si. Juntos, atravessam o campo a cavalo, brigam quando estão na cidade, mas finalmente se reencontram para dividir um ciclo amoroso, visto de maneira poética e colorida.
No mesmo dia, a plataforma Itaú Cultural Play inclui mais seis filmes em seu catálogo, integrando as seções O Ser Amazônico e Um Olhar do Centro. Aumentando a grade de produções realizadas no norte do país, Sons do Igarapé (AM), do diretor Victor Kaleb, é baseado na experiência de um homem e uma mulher que vivem isolados em uma casa, em meio à exuberância da floresta amazônica. Certo dia, eles recebem a visita de um enigmático personagem – um homem que não tem pelos no corpo. A relação entre eles, inicialmente de desconfiança, muda à medida que a esposa interage com a misteriosa aparição.
Outra produção do Amazonas, Maria foi produzida pelas cineastas Elen Linth e Riane Nascimento. O enredo se passa pela vida de Maria, amazonense de 19 anos, travesti e estudante de pedagogia. Apesar de gostar das pessoas e da cidade onde vive, ela caminha cabisbaixa e sente-se ignorada. A partir dessas sensações apresentadas pela protagonista da história, o filme compõe um retrato da complexidade da vivência trans em um país como o Brasil.
Dirigido por Fernando Segtowick e Adriano Barroso, Matinta (PA) inspira-se na lenda de Matinta Perera, a bruxa amazônica que se transforma em pássaro agourento. Na história, um pescador chega em casa e encontra a esposa com febre, tosse e uma das pernas cheia de manchas negras. Sem saber o que fazer, ele procura orientação de sua mãe, que conhece os remédios da floresta. Fatos estranhos e novas enfermidades começam a aparecer na comunidade.
As novas atualizações de filmes do Centro-Oeste começam com Das Raízes às Pontas (DF), premiado pelo Júri Popular no Festival de Brasília, se tornando uma referência no debate sobre preconceito racial e afirmação identitária em escolas e espaços educacionais de todo o Brasil. Dirigido por Flora Egécia, o documentário traz depoimentos de duas mulheres negras que dão forma a uma reflexão sobre reconhecimento e ancestralidade.
Por sua vez, o documentário Real Conquista (GO) vai além da trajetória biográfica de uma ativista para alcançar uma dimensão coletiva – a das lutas por moradia no Brasil, um drama permanente das grandes cidades do país. A combinação entre os testemunhos atuais e as imagens de arquivo fortalecem essa perspectiva do filme dirigido por Fabiana Assis.
Para concluir a ampliação do catálogo, entra em cartaz O Mistério da Carne (DF). O filme, com direção de Rafaela Camelo, mescla funk, pautas LGBTQI+ e uma indefinida atmosfera religiosa para retratar os dramas da sexualidade. No documentário, uma professora narra para seus alunos o episódio bíblico em que Cristo lava o pé de seus discípulos. Entre risos, bocejos, pregações e um casal que se acaricia, Camila e sua amiga Giovanna trocam mensagens pelo celular. O filme foi exibido no Festival de Sundance, mais importante vitrine do cinema independente no mundo.