Marighella
Por Maria do Rosário Caetano
Quem imaginou que Carlos Marighella, o protagonista do filme de estreia do diretor Wagner Moura, seria “um Capitão Nascimento de esquerda” equivocou-se.
O “guerrilheiro que incendiou o mundo” chega, finalmente, aos cinemas brasileiros, nessa quinta-feira, 4 de novembro, exatos 52 anos depois de seu fuzilamento na Alameda Casa Branca paulistana. E o faz reencarnado na pele negra de Seu Jorge, ator em momento de glória. Afinal, nas próximas semanas, o ex-menino de rua, o Mané Galinha de “Cidade de Deus”, chegará aos nossos cinemas reencarnado, também, em “Pixinguinha, o Homem Carinhoso” e , em registro irreverente e rebelde, na distopia “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos.
Carlos Marighella (1911-1969) era mestiço, filho de mãe negra baiana, de origem sudanesa, e pai italiano. Wagner Moura pensou em Mano Brown para dar vida ao poeta, deputado federal e, depois, militante e teórico da luta armada. O cantor e compositor paulistano iniciou o trabalho, mas entendeu que constituía desafio grande demais protagonizar um épico histórico, no qual estaria presente praticamente na totalidade das cenas. Pediu para sair. Wagner recorreu, então, a Seu Jorge, também cantor e compositor. E ator tarimbado desde a fulgurante estreia em “Cidade de Deus”.
A quem não entendeu a troca de um mestiço por um negro retinto, Wagner endereça um verdadeiro petardo: “nosso audiovisual sempre embranqueceu os negros; em ‘Marighella’ fizemos o contrário, empretecemos nosso personagem”. Para arrematar: “Marighella, Mano Brown e Seu Jorge são negros. Ponto final”.
Marighella, em forma de filme, estreou em 2019, em palco internacional — o Festival de Berlim, o mesmo que consagrou “Tropa de Elite” com um Urso de Ouro. Dali em diante, uma via crucis de longos 32 meses se comporia aos olhos de um país dilacerado e fraccionado. Deu um lado, revezes burocráticos e lançamentos adiados. Do outro, festivais internacionais (seleção e prêmio para Seu Jorge, eleito melhor ator em festival indiano) e elogios (do crítico do poderoso New York Times). No meio de campo, muitos xingamentos. Afinal, os seguidores do presidente Bolsonaro, defensor explícito do torturador Brilhante Ustra, jamais aceitariam épico simpático à trajetória de um insurgente de esquerda. Um homem que, afinal, pegou em armas para tentar derrubar o regime militar do qual Ustra foi fiel soldado. A marcação é tão cerrada, que — conta Wagner — os seguidores de Bolsonaro entram no IMDb (poderoso banco de dados do cinema mundial) para atribuir-lhe notas baixas. E, assim, reduzir a cotação do filme.
Quem for ao cinema, assistirá a um épico muito bem feito, com bons atores, ótimo ritmo (apesar de durar 2h39’), muita ação e tempos reflexivos. E não irá, em nenhum momento, deparar-se com um Capitão Nascimento de esquerda. O Carlos Marighella de Wagner Moura é um baiano decidido, alegre, brincalhão mas, na parte final da saga, marcado por dor que se aproxima da impotência. O homem que atuou na política institucional por mais de 50 anos e só entrou (com coração e músculos) na luta armada por curtíssimo espaço de tempo não é visto nunca como um mártir. Nem como um guerrilheiro heroico. E, o que é melhor, o filme foge do registro espetacular. Nada de lutas coreografadas, nem de empolgados proselitismos político-retóricos. Os diálogos são curtos. Enxutos.
“Fiz um filme que mistura gêneros” — testemunhou Wagner em concorridíssima coletiva de imprensa, no Cine Marquise, em São Paulo. “Marighella tem muito do cinema de ação, gênero muito apreciado pelo público. Mas não usamos a ação como isca para fisgar o espectador. De forma alguma. A ação é matéria orgânica, constitutiva, na vida de Marighella. A começar pela ALN (Ação Libertadora Nacional), que ele ajudou a fundar e já trazia ação no nome. E pela ações que ele empreendeu ao longo de sua vida como militante político.
O livro “Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães (Companhia das Letras, 2012) serviu de ponto de partida ao roteiro do filme, que Wagner Moura escreveu em parceria com Felipe Braga. Quem leu o grosso volume — vigorosa narrativa da trajetória do soteropolitano de classe média baixa e aluno brilhante — sabe que há um prólogo de pura ação (Marighella ferido à bala dentro de um cinema). Depois, o biógrafo nos leva de volta às origens do menino baiano, para iluminar o dia de seu nascimento e prosseguir até sua trágica morte, crivado de balas, aos 57 anos (faria 58 no mês seguinte). Já o filme opta por recorte sintético, concentrando-se em apenas cinco anos, os derradeiros do amigo de Jorge Amado e Oscar Niemeyer. A narrativa vai de 1964, ano do triunfo do golpe militar, ao fuzilamento do guerrilheiro, em quatro de novembro de 1969. Cinco intensos e alucinantes anos.
Se Mário Magalhães iniciou seu livro com cena cinematográfica (um “subversivo” caçado e baleado pela Polícia carioca dentro de um cinema), a opção de Wagner Moura foi outra. Tudo começa com imagens documentais, em preto e branco, de um Brasil que assistia ao triunfo de um golpe de estado. As cores se fazem imprimir depois de um corte. Assistimos a movimentado assalto a um trem de cargas. Um grupo de militantes se apossa de armas que serão, mais tarde, escondidas (até na parte oca do altar de uma igreja).
Outro corte. Aí, sim, chega a hora wagneriana de Marighella ser baleado e preso dentro de um cinema. Na tela do épico brasileiro, assistimos, em clima de matinê, a uma singela comédia mazaropiana (“O Noivo da Girafa”, escolha do cineasta, pois o filme exibido naquele dia era bem outro). O sangue — em contraste com a leveza cômica do caipira — empapa a camisa do militante. Ao deixar a prisão, Carlos Marighella optará pela luta armada. Será, por isso, expulso do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Sua discussão com o representante do Partidão (Herson Capri, em ótimo e elegante desempenho) se processará de forma sóbria, despojada até. Não há nenhuma empostação ou espetacularização no filme de Wagner Moura. Seu registro é realista, coloquial, sem derramamentos ou excessos (excepto num dos finais da narrativa, embalado em misto de êxtase e civismo, este sim, catártico). Se o filme merece reparos, eles estão todos concentrados nos instantes derradeiros.
Depois dos créditos documentais, do assalto ao trem e do tiroteio no cinema, o filme registrará uma bela amizade — a de Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira (1913-1970), em interpretação soberba de Luiz Carlos Vasconcelos. Eles são dois “velhos”. Marighella, o “Preto”, tem 57 anos e o Velho, o “Branco”, dois a menos. Eles se tratam assim — “Preto”, “Branco” — pois assim quis o diretor-roteirista.
Juntos, os dois “velhos” tomam decisões duras na condução da guerrilha, mas encontram tempo para tirar sarro um do outro, desanuviar a tensão, que é imensa. Juntos comandam um pequeno exército formado por jovens de vinte e pouquinhos anos. Moças e moços bem-nascidos, vindos das universidades. Caso de Humberto (Humberto Carrão) e Bella (Bella Camero). Talvez de Guilherme (Guilherme Ferraz), mas não do operário Jorge (inspirado em Jonas, codinome do guerrilheiro Virgílio Gomes da Silva), interpretado com garra por Jorge Paz. Vejam que os atores jovens, preparados pela rigorosa Fátima Toledo, emprestaram seus próprios nomes aos seus personagens. E mesmo Jorge Paz, com um pouco mais de idade, fez o mesmo.
Registre-se a justeza ética dos roteiristas e do diretor. O protagonista Carlos Marighella (Seu Jorge) carrega seu nome civil. Mesmo caso de sua primeira mulher, Elza Sento-Sé (interpretada por sua neta real, a atriz Maria Marighella) e de sua segunda companheira, Clara Charf (Adriana Esteves). Mas todas as outras personagens, todas, têm nomes fictícios. Afinal — explicou o cineasta — “fiz um filme de ficção, não um documentário ou um tratado político”. Por isso, “muitos personagens são a soma de vários outros”. Bruno Gagliasso, por exemplo, não é o Delegado Sérgio Fleury, mas um amálgama dos policiais que combateram a guerrilha.
O personagem de Gagliasso, identificado como Delegado Lúcio, contou que sua intenção (e a do diretor) era fugir da caricatura. “Procurei humanizar um personagem racista, fascista, pois eu sei que ele acreditava no que estava fazendo, via-se como um patriota”. O ator contou, também, que seu processo de trabalho foi diferente do de seus jovens colegas, aqueles que emprestaram os próprios nomes aos personagens guerrilheiros. “Fátima Toledo me preparou de forma totalmente diferente e em separado”.
Humberto Carrão, que incorpora-se em um afoito guerrilheiro, pronto para qualquer ação projetada pela ALN, contou na coletiva que sua promessa de total entrega ao personagem nasceu em encontro com Wagner Moura, anos atrás, quando da realização de ato de desagravo e solidariedade ao deputado Jean Wyllys. O parlamentar, então no PSOL (hoje, no PT) enfrentara (com discurso e cusparada) o também deputado Jair Bolsonaro, que votara pelo impeachment, evocando a memória do torturador Brilhante Ustra, “o terror da Dilma”. Dali em diante, a partir daquele encontro, a cumplicidade entre Humberto e Wagner só fez crescer.
A ideia do filme, que nascera de sugestão de Maria Marighella, neta do guerrilheiro e colega de Wagner em grupos teatrais baianos, estava em processo de fertilização desde 2012, quando do lançamento da cinebiografia escrita por Mario Magalhães. “Foram nove anos da ideia até o lançamento” — lembrou o diretor. O filme ficou pronto em 2018 e teve sua première mundial em Berlim, em fevereiro de 2019. Aí vieram as complicações trazidas pelo triunfo de Bolsonaro. A Ancine criou entraves burocráticos, que em momentos menos adversos seriam de fácil solução. Com a pandemia, o atraso se prolongaria por mais 19 meses.
Quem assistiu a “O que É isso, Companheiro?” (Bruno Barreto, 1998), acompanhou a polêmica que cercou o filme. Em especial o tratamento dado ao personagem Jonas (Matheus Nachtergaele). Por decisão do diretor, o personagem foi apresentado como um guerrilheiro frio, duro e sanguinário. Já Jorge (o Jonas de Wagner Moura) é um nordestino (Virgílio nasceu no Rio Grande do Norte), pai de três filhos, que chegam a passar privações, pois o pai está na clandestinidade. Dos guerrilheiros, fora Marighella, Jorge é o único que será visto em relações familiares. Seu perfil é de um guerrilheiro decidido, sim, disposto a tudo pela causa que abraçou. Mas um ser humano de sentimentos complexos.
Há um detalhe na direção de arte (e figurinos) do épico de Wagner Moura que chama muita atenção: a elegância de três personagens — o jornalista do Partidão interpretado por Herson Capri, o Velho (Luiz Carlos Vasconcelos) e o próprio Marighella (Seu Jorge). Eles vestem ternos, sempre com camisa social e gravata. Marighella, se não está de terno, usa camisa de mangas compridas (nas ações, costuma usar peruca, motivo de saudável zombaria dos amigos). Quem viveu os anos 1960 lembra-se bem — jornalistas e intelectuais usavam terno e gravata. Os jovens, incentivados pelo movimento hippie, adotariam confortáveis camisetas.
A Revista de CINEMA perguntou a Wagner Moura por que, sendo um diretor iniciante, resolvera estrear logo com um épico situado em tempo histórico (a fervilhante década de 1960) e ambientado em locações espalhadas por várias cidades (Rio de Janeiro, Salvador, Cachoeira/São Felix e São Paulo)? Por que não escolhera projeto mais simples?
O experiente ator (de “Tropa de Elite”, “Praia do Futuro” e “Narcos”) respondeu: “Pois é, eu poderia estrear com um filme como ‘Cidade Baixa’ (Sérgio Machado, 2005), com apenas três personagens, um filme pelo qual tenho imensa estima. Mas aí, minha amiga Maria (Marighella), colega dos tempos de teatro na Bahia, me deu o livro do Mário Magalhães e pediu que eu lesse e ajudasse a transformá-lo em um filme. Pensamos juntos: quem deve dirigi-lo? Um diretor de esquerda! Eu sou de esquerda (risos). O que mais? Um diretor baiano! Eu sou baiano. Um cara apaixonado por movimentos sociais! Eu sou apaixonado por levantes populares, em especial pela Revolta dos Malês, escravizados muçulmanos, que sabiam ler e estão na origem da mãe de Marighella, descendente de sudaneses. Aí Maria concluiu: tem que ser você! Eu sabia que a responsabilidade seria muito grande. Mas aceitei o desafio. Começamos em 2012 a realizar as primeiras pesquisas, a pensar o roteiro, a procurar parceiros. Vieram a O2, a Downtown e a Paris, mas os investidores não mostraram interesse. Mesmo assim fizemos o filme. Ele está pronto e, depois de muitos percalços e adiamentos, chega agora ao público”.
Sobre a atenção dada ao personagem Jorge (o potiguar Virgílio, que viveu curtos 36 anos), Wagner pede a Felipe Braga que explique os pontos essenciais, presentes nos momentos dedicados à escrita do roteiro: “Wagner e eu quisemos mostrar que aqueles jovens eram realmente muito moços. Jovens dispostos a sacrificar suas vidas por uma causa. Uma causa na qual acreditavam. Eles tomaram a decisão de colocar suas vidas em risco, abraçaram o sacrifício. Deixaram suas faculdades, famílias ou empregos para viver na clandestinidade, para lutar. Há novelas, séries e filmes sobre os período, mas com o nosso roteiro queríamos reconciliar o público com o idealismo desses jovens, que atuaram na ALN e em outras organizações armadas. Muitos perderam a vida no auge de sua juventude”.
Hora de colocar mais um desafio para Wagner Moura: em recente entrevista a Juca Kfouri, na TVT (TV dos Trabalhadores), o cineasta João Moreira Salles contou que um amigo, depois de assistir ao documentário ‘No Intenso Agora’, sobre o Maio de 1968, ponderara: “a pulsão que alimentou a rebelião dos jovens de esquerda, naquele momento, estaria, hoje, presente na extrema-direita. É ela que vai às ruas!”. Frente a tal quadro, com a esquerda brasileira perplexa, mesmo assim Wagner acredita que “Marighella” terá sucesso de público?”
O diretor responde: “Essa direita de hoje não pode ser comparada à esquerda do anos 1960. Esta era alimentada pela pulsão de vida. A direita é movida pela pulsão de morte. Carlos Marighella era um poeta, um escritor, um espectador de ‘Batalha de Argel’, um homem apoiado por Sartre, Godard, Chris Marker. Ele estava inserido em contexto que se espelhava em Cuba, na Argélia, no Vietnã, nações que lutavam para combater o autoritarismo, o racismo, toda sorte de violação de direitos. Não concordo com a visão do amigo do João Moreira Salles. Nas sessões de pré-lançamento do filme, tenho contado com a parceria vibrante e companheira da Colisão Negra por Direitos, do Levante Popular, do MST (Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra), do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), entre muitos outros grupamentos sociais organizados e movidos pela pulsão de vida.
A favor de Wagner Moura e sua busca de diálogo com o público, há um ponto a ressaltar: qualquer espectador entenderá a narrativa que ele urdiu. A sinopse é cristalina: “Carlos Marighella comanda um grupo de jovens guerrilheiros. Eles se esforçam para divulgar a luta que empreendem contra a ditadura militar. Mas a censura impede que suas intenções venham a público. Tudo é feito para desacreditar a Revolução pela qual lutam. O principal opositor de Mariguella é o Delegado Lúcio, policial que transforma o guerrilheiro no inimigo público número 1”.
A opção narrativa, felizmente, foge do martírio, da heroíficação e da cinebiografia detalhada, do nascimento à morte. Ao longo de 2h39’, veremos um pequeno “exército de brancaleone” lutando contra forças infinitamente superiores. E o filme não fugirá das contradições de tal luta. Quando os dois comandantes (Marighella e o Velho) e seus jovens (poucos, mas dispostos a tudo) dizem que é preciso lutar (como os cubanos, os argelinos e os vietnamitas) e que é isto que estão fazendo, alguém tenta trazê-los à razão: “em Cuba, na Argélia e no Vietnã havia (há) apoio do povo, o que não acontece aqui”.
Quando o Velho comanda seus jovens guerrilheiros no ousado sequestro do embaixador do EUA, Charles Elbrick (setembro de 1969), Carlos Marigella pressente que a caça à esquerda armada será descomunal. Algumas semanas depois, ele será assassinado. Jorge (o potiguar Virgílio) será torturado até a morte. No ano seguinte (1970), será a vez do Velho.
Wagner lembra que Marighella viveu, dos seus 57 anos, pelo menos 55 na legalidade (possível ou na ilegalidade obrigatória), e que só recorreu às armas em 1968/69. Foi um guerrilheiro armado por pouco mais de um ano. O tom do filme, depois do sequestro de Elbrick, é crepuscular. A fotografia de Adrian Teijido, de grande eficiência narrativa, não se entrega a firulas.
Se o filme mobilizará o público, não dá para saber. Só o tempo dirá. Se o amigo de João Moreira Salles estiver certo, a esquerda — com sua pulsão de vida em baixa — não sairá de casa para prestigiar o esforço do diretor e de suas equipes artística e técnica. Com a extrema-direita (e sua pulsão de morte), “Marighella” não poderá contar. O terreno parece pouco propício à boa semeadura.
Por fim, há que se lembrar a discreta participação de Seu Jorge na coletiva de imprensa. O cantor e ator, que entregou-se ao papel do “guerrilheiro que incendiou o mundo” com imensa dedicação, proferiu palavras calmas e conciliadoras. Contou que interpretar Marighella o ajudou a reconciliar-se com o Brasil. Ele está morando em Los Angeles, junto com a mulher e filhas, e foi percebendo que a imagem de nosso país ia se degradando no imaginário internacional. “Éramos muito festejados por nossa música, nossos filmes, nossa cultura, enfim. Mas com as mudanças políticas verificadas, nossa imagem foi arranhada”. Para concluir: “estar aqui, atuando em filmes brasileiros, em nossa língua, com nossas músicas, nossa cultura, me fez muito bem”.
E o que não falta em “Marighella” é música. Além de raps libertários (inclusive na voz de Mano Brown), há mangue-beat de Chico Science e um samba de Gonzaguinha, que ganha ressignificação profética. Quem não conhecesse os versos do astro do Morro de São Carlos, morto em 1991, poderia pensar que “Pequena Memória para um Tempo sem Memória“ teria sido criada como tema-enredo do filme de Wagner Moura”.
Confiram (e arrepiem-se no cinema): “Memória de um tempo/ onde lutar por seu direito/ é um defeito que mata// São tantas as lutas inglórias/ são histórias que a história/ qualquer dia contará/ De obscuros personagens/as passagens, as coragens/ são destes espalhadas nesse chão”…
Mariguella
Brasil, 2h39’, 2021
Direção: Wagner Moura
Roteiro: Wagner Moura e Felipe Braga
Preparação de atores: Fátima Toledo
Fotografia: Adrian Teijido
Produção: O2 e Globo Filmes
Trilha sonora: Antônio Pinto
Pesquisa: Ivan Seixas, Gonçalo Júnior e outros
Elenco: Seu Jorge, Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Bella Camero, Carla Ribas, Ana Paula Bouzas, Maria Marighella, Luiz Carlos Vasconcelos, Herson Capri, Humberto Carrão, Guilherme Ferraz, Adanilo, Guilherme Lopes, Charles Paraventi, Tuna Dwek, Brian Townes
Distribuição: Downtown e Paris Filmes
Censura: 16 anos
Eu hein!
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Por que o nome do ator Jorge Paz não conta na lista do elenco ao final da matéria?