Pluft, o Fantasminha

Por Maria do Rosário Caetano

Chegou a hora. Depois de longa espera, Pluft, o fantasminha camarada, criação imortal da dramaturga Maria Clara Machado, faz sua triunfal entrada no universo do cinema brasileiro. Em estilo high-tec. Ou seja, num longa-metragem – “Pluft, o Fantasminha”, de Rosane Svartman – anunciado como “o primeiro filme infantil nacional de live-action em 3D”. A estreia acontecerá nesta quinta-feira, 21 de julho, em cinemas de todo o país.

A história é famosa e foi assistida por milhares de crianças brasileiras, desde que a dramaturga Maria Clara, filha do escritor Aníbal Machado e esteio do Teatro Tablado, a inventou, em 1955. Portanto, há quase 70 anos. Quantas vezes, em montagens amadoras ou profissionais, vimos a menina Maribel ser sequestrada pelo pirata Perna-de-Pau, pois este, muito do malvado, desejava usá-la para chegar ao tesouro deixado por seu falecido avô, o Capitão Bonança Arco-Íris?

Na casa abandonada onde Vovô Bonança residira, Maribel espera por socorro. Socorro que deve vir dos marinheiros Sebastião, João e Juliano, muito amigos do velho capitão. Eles até que saem em busca da menina raptada. Mas, muito atrapalhados, custam a chegar. Enquanto isto, a menina conhece o fantasminha Pluft, medroso como ele só (tem pavor de gente!), Mamãe Fantasma e sua família, incluindo o Tio Gerúndio.

Esta história, que encantou gerações de crianças, ganhou versão cinematográfica em 1964, com elenco estelar e trilha sonora de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. No elenco, Norma Blum, Dirce Migliaccio, Tom e Vinícius, Dorival Caymmi, Sérgio Ricardo, Haroldo Costa, Cláudio Cavalcanti, Nelson Dantas, Arrelia, Agildo Ribeiro, Jô Soares, Renato Consorte… Na direção, o francês (radicado no Brasil) Roman Lesage. Não deu certo. Astros demais para tecnologia de menos. Dessa vez, a descolada Rosane Svartman, nascida na cidade que Elvis Presley adotou, não foi ao firmamento buscar tantos astros.

Para o comando musical, a diretora-dramaturga convocou o maestro Tim Rescala. Para o elenco, as crianças Lolla Belli, que faz Maribel, e Nicolas Cruz, o Fantasminha camarada. De famosos, só Fabíula Nascimento, a Mamãe Fantasma, e Juliano Cazarré, o pirata da Perna-de-Pau. Os marinheiros Sebastião, João e Juliano são interpretados por Arthur Aguiar (vencedor do BBB 22), Lucas Salles e Hugo Germano. Em participações especiais, dois craques: Gregório Duvivier e o excelente (como é bom esse ator!) Orã Figueiredo.

A trama pode parecer singela demais para nossos tempos, tão maliciosos, povoados por crianças que descobrem coisas inimagináveis em seus celulares de última geração. Mas os pequeninos podem acabar seduzidos pelo visual do filme, realmente muito bonito, pelos efeitos especiais de ponta, figurinos impecáveis, pela deliciosa Mamãe Fantasma de Fabíula Nascimento, orgulhosa ao ver o filho fantasminha criando coragem para enfrentar seus medos e ganhar o mundo. Sonho, afinal, de qualquer mãe pequeno-burguesa.

O que o longa de Rosane Svartman tem de sobra é justamente o que faltou ao “Pluft” de 58 anos atrás – tecnologia e efeitos especiais de ponta. Ela, sua produtora Clélia Bessa e parceiros tiveram paciência para, depois de filmagens no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte (captadas pelo diretor de fotografia Dudu Miranda, em locais paradisíacos), captar cenas “fantasmagóricas” numa piscina paulistana (aí com outro profissional, o especialista em imagens subaquáticas, Roberto Faissal). Foram meses e meses de finalização até chegar ao resultado desejado.

Resta saber se a peça de Maria Clara Machado ainda tem o poder encantatório de outrora. As fichas estão postas na mesa (ou melhor na tela).

Por fim, vale lembrar que “Pluft” mereceu, também, uma recriação na Rede Globo, em 1975, com Norma Blum repetindo, adulta como em 1964, o papel de Maribel, e Dirce Migliaccio, como o ectoplasma de Pluft. Flávio, irmão de Dirce, encarnou o pirata da Perna-de-Pau. A volumosa Zilka Salaberry deu corpo à mãe do Fantasminha camarada. A criançada adorou a montagem televisiva, comandada por Geraldo Casé. Era um tempo de crianças inocentes. Mais uma vez, vale indagar: como a meninada de hoje receberá a camaradagem de Pluft, um fantasminha que tem medo de gente?

 

Pluft, o Fantasminha
Brasil, 93 minutos, 2022
Direção: Rosane Svartman
Roteiro: Cacá Mourthé e José Lavigne
Elenco: Lolla Belli, Fabíula Nascimento, Nicolas Cruz, Juliano Cazarré, Hugo Germano, Lucas Salles, Arthur Aguiar, Orã Figueiredo e Gregório Duvivier
Direção de Fotografia: Dudu Miranda
Direção de Fotografia Subaquática: Roberto Faissal
Supervisão de Estereografia: José Francisco Neto
Direção de Arte: Fabiana Egrejas
Supervisão de Efeitos: Sandro Di Segni
Supervisão de Tecnologia: José Dias
Produção: Clélia Bessa (Raccord)
Produtores Associados: José Alvarenga Jr. e Bruno Wainer
Coprodução: Globo Filmes e Gloob
Distribuição: Downtown Filmes

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