Festival do Rio volta aos tempos de esplendor com filmes inéditos e patrocínio de petroleira
Foto: “Mato Seco em Chamas”, de Adirley Queirós e Joana Pimenta
Por Maria do Rosário Caetano
Depois de enfrentar entressafra que somou a gestão evangélica do prefeito Crivela à pandemia, o Festival do Rio volta aos seus tempos de esplendor. Tempos redentores e do Redentor, seu troféu, de design de gosto mais que duvidoso, mas de inegável prestígio. E com uma multinacional petroleira como patrocinadora master, a Shell. O que significa que o inquieto prefeito Eduardo Paes mexeu os pauzinhos para ajudar uma das maiores atrações culturais do estado fluminense a renascer.
Durante onze dias, de 6 a 16 de outubro, serão exibidos, presencialmente, na capital de flamenguistas, botafoguenses, vascaínos e fluminenses, 70 filmes brasileiros, de curta, média e longa-metragem. 95% deles 100% inéditos.
A Prèmiere Brasil, que chegou a ser uma espécie de “ultimère Brasil”, quando o festival foi parar às vésperas do Natal, exibirá dez longas ficcionais 100% inéditos e apenas um (“Paterno”, do pernambucano Marcelo Lordello), já visto no Olhar de Cinema. E o fará em sua data histórica – antes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (sempre na segunda quinzena de outubro) e do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (que abandonou a Primavera, estação prevista em seus estatutos originários).
Há finas iguarias nas múltiplas mostras que integram o “corpo brasileiro” (o maior do país) do festival carioca. Nos Retratos Brasileiros, o aguardadíssimo “Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você”, de Roberto de Oliveira (codireção de Jom Tob Azulay). Este documentário resgata as gravações, no início dos anos 1970, nos EUA, do antológico disco que reuniu a cantora gaúcha ao maestro soberano. Para fazer história.
Quem passar os olhos pelas listas de títulos escolhidos verá que filmes selecionados e/ou premiados em festivais internacionais se guardaram inéditos para o Festival do Rio (caso de “Mato Seco em Chamas”, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, “Paloma”, de Marcelo Gomes, “Carvão”, de Carolina Markowicz, e “Regra 34”, de Julia Murat, Leopardo de Ouro em Locarno.
Dois atores, ambos talentosíssimos, postam-se atrás das câmaras e mostram seus filmes no festival fluminense. O paraibano Luiz Carlos Vasconcelos (soberbo como o Velho, em ”Marighella”) dirige o curta “Aluísio, o Silêncio e o Mar”. E Johnny Massaro comanda o quase-longa “A Cozinha”.
Pedro Bronz escolheu o festival carioca como vitrine de estreia de documentário que revê a trajetória artística de saudosa cantora botafoguense – “Andança – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho”. Daniel Zarvos e Liliane Mutti optaram pela mesma vitrine para “Miucha, a Voz da Bossa Nova”.
Em segmento que outrora causava furor na origem do evento atual (a Mostra Banco Nacional de Cinema, em especial) surge “O País da Pornochanchada”, de Adolfo Lachtermacher, com 75 minutos de duração. Um documentário em World Première, justo na Sessão Midnigth.
Por fim, vale transcrever a generosa definição que o Festival do Rio faz de si mesmo: “Somos o maior festival da América Latina”. Um festival que, “desde sua criação, já exibiu 7 mil longas-metragens, incluindo obras recém-premiadas em Cannes, Berlim, Toronto, Veneza, entre outros”. Um evento audiovisual “formador de público, mas também de mão-de-obra, que capacitou milhares de profissionais. Anualmente o evento reúne, além de filmes exibidos nos mais importantes festivais mundiais, diversas mostras temáticas e sessões populares. Distribuídos em diferentes mostras, incluindo a competitiva Première Brasil, os filmes nacionais compõem parte fundamental do festival, que é a maior vitrine da produção brasileira”.
Quem conhece a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o mais antigo festival internacional do país (criado há 46 anos, por Leon Cakoff), pode discordar de parte das afirmações dos gestores do festival carioca. Até porque a mostra paulistana também exibe, em primeira mão, filmes premiados em Cannes, Veneza, Berlim, Locarno ou Roterdã. Pelas dimensões de São Paulo, a maior metrópole do país, tem condições de atingir mais público que o Rio de Janeiro. Mas, num ponto, os cariocas têm razão: nenhum festival brasileiro exibe, hoje, tantos filmes nacionais em tantas mostras competitivas e com tamanha visibilidade. As sessões mais badaladas e concorridas do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro são verde-amarelas. Por mais que estas cores, hoje, evoquem patriotismo, fanatismo e desrazão. No Festival do Rio, o cinema que fala brasileirês é, realmente, o tal, a estrela mais brilhante.
Segue, abaixo, a Seleção Brasileira das mostras competitivas, hors concours e midnigth do Festival do Rio:
PREMIÈRE BRASIL (Competitiva)
LONGAS (FICÇÃO)
. Regra 34, de Julia Murat, 100′ (RJ) Premiere Nacional
. Carvão, de Carolina Markowiczs,108′ (SP) Premiere
. Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, 153′ (DF) Premiere Nacional
. Paloma, de Marcelo Gomes, 97′ (PE) Premiere Nacional
. Bem-Vinda, Violeta, de Fernando Fraiha, 109′ (RJ) World Premiere
. Bocaina, de Ana Flávia Cavalcanti e Fellipe Barbosa, 70′ (RJ) World Premiere Nacional
. Fogaréu, de Flávia Neves, 100′ (RJ) Premiere Nacional
. Perlimps, de Alê Abreu, 80′ (SP) Premiere Nacional
. Propriedade, de Daniel Bandeira, 100′ (PE) World Premiere
. Transe, de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, 75′ (RJ) World Premiere
. Paterno, de Marcelo Lordello, 110′ (PE)- já exibido no Olhar de Cinema
LONGAS DOCUMENTÁRIOS
. A Assembleia – Brasil, de Beatriz Sayad, Heloisa Passos e Juliana Jardim, 75′ (SP) World Premiere
. Diálogos com Ruth de Souza, de Juliana Vicente, 107′ (RJ) World Premiere
. Exu e o Universo, de Thiago Zanato, 85′ (SP) World Premiere
. Fausto Fawcett na Cabeça, de Victor Lopes, 103′ (SP) World Premiere
. Kobra Auto Retrato, de Lina Chamie, 84′ (SP) World Premiere
. Não é a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor, de Luis Carlos de Alencar, 105′ (RJ) World Premiere
. Nossa Pátria Está Onde Somos Amados, de Felipe Hirsch, 102′ (SP) World Premiere
. Sociedade do Medo, de Adriana Dutra, 76′ (RJ) World Premiere
. 7 Cortes de Cabelo no Congo, de Luciana Bezerra, Gustavo Melo e Pedro Rossi, 90′ (RJ) – já exibido (e premiado) no Olhar de Cinema
CURTAS-METRAGENS (competição)
. Abscesso, de Bianca Iatallese, 15’ (SP)
. Big Bang, de Carlos Segundo, 14′ (MG)
.Cinema Vivo, de Chris MN, 7′ (RJ)
. Contando Aviões, de Fabio Rodrigo, 15′ (SP)
. Escasso, de Gabriela Gaia Meirelles, 15′ (RJ)
. Garotos Ingleses, de Marcus Curvelo, 15′ (BA)
. Kokoro – de coração a coração, de André Hayato Saito, 15′ (SP)
. Mulheres Árvore, de Wara, 15′(CE)
. Peixes não se Afogam, de Anna Azevedo, 15′ (RJ)
. O Senhor do Trem, de Aída Queiroz e Cesar Coelho, 11’ (RJ)
. Último Domingo, de Joana Claude e Renan Barbosa Brandão 15′ (RJ)
. Selfie, de Alex Sernambi, 14’ (RS)
. Solmatalua, de Rodrigo Ribeiro-Andrade, 15′ (SC)
. Tiro de Misericórdia, de Augusto Barros, 15′ (MG)
PREMIÈRE BRASIL – NOVOS RUMOS
COMPETIÇÃO LONGAS
. A Cozinha, de Johnny Massaro, 61′, fic (RJ) World Premiere
. A Filha do Caos, de Juan Posada, 75′, fic (RJ) World Premiere
. Canção ao Longe, de Clarissa Campolina, 76′, fic (MG) World Premiere
. Maputo Nakuzandza, de Ariadine Zaumpaulo, 60′ (SP)
. O Acidente, de Bruno Carboni, 95′, fic (RS)
. Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre 94′, fic (SP) Premiere Nacional
. Lilith, de Bruno Safadi, 80′, fic (RJ) World Premiere
. Ciclo, de Ian SBF, 87’, fic (RJ) World Premiere
COMPETIÇÃO CURTAS
. Aluísio, o Silêncio e o Mar, de Luiz Carlos Vasconcellos, 18′ (PB)
. Caminhos Afrodiaspóricos do Recôncavo da Guanabara, de Wagner Novais, 20′
. Curupira e a máquina do destino, de Janaína Wagner, 25′ (SP)
. E nada mais disse., de Júlia Menna Barreto, 18′
. Entre a Colônia e as Estrelas, de Lorran Dias, 49′
. Êra Punk, de Flávio Galvão, 25′ (SP)
. Fantasma Neon, de Leonardo Martinelli, 20’ (RJ)
. Iceberg, de Will Domingos, 25 ́(RJ)
HORS CONCOURS
. Andança – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho, de Pedro Bronz, 115′, doc (RJ) World Premiere
. Miucha, a Voz da Bossa Nova, de Daniel Zarvos e Liliane Mutti, 98′ (RJ) World Premiere
. O Pastor e o Guerrilheiro, de José Eduardo Belmonte, 115′, fic (RJ)
. Pérola, de Murilo Benício, 91′, fic (RJ) World Premiere
. Abestalhados 2, de Marcos Jorge, Marcelo Botta, 95’, fic (SP) World Premiere
. Derrapada, de Pedro Amorim, 103′, fic (RJ) World Premiere
. Down Quixote, de Leonardo Cortez, 105′, fic (SP) World Premiere
. A Praga, de José Mojica Marins + A Última Praga de Mojica, de Cédric Fanti, Eugenio Puppo, Matheus Sundfeld, Pedro Junqueira, 69′ (SP)
NOVOS RUMOS / HORS CONCOURS
. Domingo à Noite, de André Bushatsky, 87′, fic (SP) World Premiere
PREMIÈRE BRASIL: O ESTADO DAS COISAS
.Boicote, de Julia Bacha, 73′, doc World Premiere
.Corpolítica, de Pedro Henrique França, 102′, doc (SP) Premiere Nacional
. Direito de Sonhar, de Theresa Jessouroun, 75′ doc (RJ) Premiere Nacional
. Fio do Afeto, de Bianca Lenti, 72′, doc (RJ) World Premiere
. Palco de Luta, de Iberê Carvalho, 71′, doc (DF) World Premiere
. Regenerar: Caminhos Possíveis em um Planeta Machucado, de Maria Clara Parente, 72′, doc (RJ) World Premiere
Um Tiro no Escuro, de Paulo Ferreira, 108′, doc (RJ) World Premiere
CURTAS (hors-concours)
. Romão, de Clementino Júnior, 10′ (RJ)
. Socorro, de Susanna Lira, 16′ (RJ)
. Sinfonia da Vacina, de Guilherme Coelho e Julia De Simoni, 11′ (RJ)
. Tekoha, de Carlos Adriano, 14′ (SP)
PREMIÈRE BRASIL: RETRATOS
. Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você, de Roberto de Oliveira 90′ (RJ) World Première
. De Você Fiz Meu Samba, de Isabel Nascimento Silva, 72′ (RJ) World Première
. Elton Medeiros: o Sol Nascerá, de Pedro Murad, 96′ (RJ)
. Luzes Mulheres Ação, de Eunice Gutman, 85′ (RJ) World Premiere
. Daniel Senise – Nem Tudo Tem que ser Sobre Alguma Coisa, de Bernardo Pinheiro, 74 ‘ (RJ) World Premiere
. Otto: de Trás p/ Diante, de Helena Lara Resende, Marcos Ribeiro, 77′ (RJ) World Premiere
. Quando a Coisa Vira Outra, de Marcio de Andrade, 94′ (DF) World Premiere
. Belchior – Apenas um Coração Selvagem, de Natália Dias, Camilo Cavalcanti, 90′ (RJ)
PREMIÈRE BRASIL (Especial Clássicos)
. Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias, 90’
. O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, 97’
OUTRAS MOSTRAS: Midnight
. O País da Pornochanchada, de Adolfo Lachtermacher, 75’ (RJ) doc World Premiere